Politica

Fernando Henrique Cardoso critica condução do PAC

Tucano diz que o programa ;está sendo afogado por falta de competência; e que o TSE deveria ;coibir os abusos que estão em marcha; na corrida por 2010. Ainda segundo ele, Lula é ;indulgente; com o MST

postado em 07/03/2009 10:00
São Paulo ; Sem perder a elegância em nenhum momento, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disparou ontem uma metralhadora giratória contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu governo. O arsenal de críticas recaiu sobre as estratégias de combate à crise econômica, passou pela condução do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ; grande aposta de vitrine eleitoral do governo para 2010 ; e atingiu até o projeto de um milhão de unidades habitacionais prometido por Lula. Em tarde afiada, o maior líder tucano acusou o governo de ;falta de seriedade;, de ;falta de competência; na concretização do PAC e de fazer apenas ;a propaganda do otimismo;. Ao comentar a recente cassação dos governadores da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), e do Maranhão, Jackson Lago (PDT-MA), o ex-presidente não perdeu a deixa: defendeu que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não julgue apenas fatos passados: ;Eu acho que deveriam coibir os abusos que estão em marcha já, para evitar que ano que vem, de novo, venham pleitear a anulação de um mandato. Porque um ano ou dois depois que alguém está exercendo, o Tribunal tira o mandato e faz ainda quem perde substituir quem ganha. A legitimidade disso fica muito tênue;, opinou o tucano. Fernando Henrique fez referência à representação protocolada na Justiça Eleitoral pelo PSDB e pelo DEM com o objetivo de questionar a legitimidade das ações de governo comandadas pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, a quem os dois partidos acusam de tentar fazer pré-campanha eleitoral. O ex-presidente deu as declarações durante o IV Encontro Internacional de Ex-Presidentes Latino-Americanos: Nova Agenda da Democracia, que começou ontem e termina hoje. Em entrevista coletiva, Fernando Henrique jogou pesado contra a política de investimentos em infraestrutura do governo. ;Na época da bonança não fizemos investimentos efetivos em infraestrutura, não fizemos reformas. Agora faz-se uma espécie de simulação de que basta fazer tudo de uma vez;, afirmou o líder tucano. Fernando Henrique usou como exemplo o projeto de um milhão de casas prometido por Lula: ;É muito mais um efeito de propaganda de otimismo do que propriamente de uma ação consequente, tendo em vista o que virá mais adiante, e, portanto, uma política mais sustentável a médio prazo;. Segundo ele, os investimentos do PAC representam 1% do Produto Interno Bruto (PIB): ;É muita onda a respeito de muito pouco;. E lembrou que dinheiro é o que não falta à concretização das obras do PAC espalhadas pelo país. ;O PAC não está sendo afogado por falta de recursos. Está sendo afogado por falta de competência;, disparou Fernando Henrique, acrescentando que ;não faltam recursos, mas execução de recursos autorizados;. Para ele, o governo vem anunciando medidas e transmitindo otimismo à população, mas faz disso, muitas vezes, retórica: ;Estamos indo dia após dia com medidas de impacto que não se concretizam. O governo não pode deixar de passar uma mensagem de esperança à sociedade, mas não pode ser retórica.; E ao defender a adoção de um marco regulatório para investimentos, Fernando Henrique criticou a indecisão do governo. ;O marco não tem de ser neoliberal ou não-neoliberal. Tem de ser eficiente (...) Todo mundo sabe. Ficam discutindo sem parar regulação porque, no fundo, o governo tem dúvidas sobre se vale ter colaboração da sociedade, ou se é melhor confiar na burocracia. Isso leva a uma certa paralisia;, alfinetou. Sem-Terra Fernando Henrique disse ainda que o Movimento dos Sem-Terra (MST) tem cometido ;abusos; e que o governo tem sido ;indulgente; no cumprimento da lei. Segundo ele, o governo está dividido internamente sobre o assunto. ;O principal problema no caso é que houve uma divisão. O ministro da Justiça, Tarso Genro, justificou que era uma coisa natural que houvesse invasões (...) e o presidente Lula disse que era inaceitável. (...) Esse é o problema. Não se sabe qual é a posição do governo. O pais inteiro sabe que está havendo um abuso enorme.(...) É incompreensível que o governo não se manifeste a favor da lei;, cobrou o ex-presidente, antes de dizer ser favorável à existência de movimentos como o MST, desde que cumpram a lei.

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