postado em 08/03/2009 10:30
A estratégia política de consolidação da candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), à Presidência da República tem três dimensões. A primeira, institucional, busca uma ligação direta com os prefeitos de todo país via execução das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o que ficou demonstrado no polêmico encontro patrocinado pelo governo em Brasília. A segunda, no plano das alianças, visa consolidar seu nome como candidata única na coalizão do governo Lula, tendo como aliado principal o PMDB; a terceira, é a mobilização da militância petista, a partir de São Paulo, Minas e Pernambuco, para estreitar a relação dela com o PT.
O marketing político é o menor dos problemas de Dilma. O publicitário João Santana já repaginou a imagem da ministra no quesito ;simpatia;, obrigando-a inclusive a fazer uma cirurgia plástica. A questão principal é consolidar suas alianças na base governista. ;A candidatura de Dilma já está consolidada no PT;, garante o líder na Câmara, Candido Vaccarezza (PT-SP). Ele atribui o amplo consenso formado em torno da ministra no PT ao bom desempenho de Dilma no cargo, à ausência de outros pretendentes petistas e, principalmente, ao empenho do presidente Lula. ;O sucesso do governo e o prestígio de Lula farão com que Dilma comece a campanha no próximo ano perto dos 30% de intenções de votos e com um lugar quase certo no segundo turno;, avalia o petista.
Ciro
O problema é que toda estratégia tem fricção. O deputado Ciro Gomes (PSB-CE), que já disputou duas vezes a Presidência da República, ciente de que o presidente Lula quer abater sua candidatura na pista, resolveu romper o silêncio e colocar seu bloquinho na rua. Na semana passada, durante encontro com deputados do PSB e do PCdoB, disparou críticas ao desempenho do Banco Central e dos ministérios da Educação e da Saúde e bateu duro na tese da candidatura única: ;É um erro, Lula jamais seria eleito numa disputa bipolar. Perderia, sempre;. Ciro anunciou que percorrerá o país para discutir alternativas para a crise e reposicionar sua própria candidatura. A aposta do Palácio do Planalto é de que o presidenciável, que já disputou a Presidência duas vezes, não terá fôlego para se viabilizar e o bloco formado por PSB e PCdoB acabará aderindo a Dilma.
PMDB
Um dos grandes desafios é a aliança com o PMDB. O partido apoia o presidente Lula, mas não descarta a possibilidade de uma candidatura própria. Flerta com o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB). ;Ele é cria do PMDB, estamos de portas abertas, mas depende dele voltar para o partido;, explica o líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves. A aproximação com Aécio e a sede de poder levaram a cúpula da legenda ao centro de um grande tiroteio. Quem acionou as baterias foi o senador Jarbas Vasconcelos (PE), que acusou o partido de fisiologismo e conivência com a corrupção. Aliado do governador José Serra, o ex-governador de Pernambuco lidera uma dissidência sem forças para ditar os rumos da legenda, mas capaz de desgastá-la eleitoralmente e impedir sua unidade.
Tucanos
Outro ator importante no processo é Aécio Neves, que disputa com Serra a vaga de candidato tucano. Neto de Tancredo Neves, o governador de Minas defende uma estratégia pós-Lula, mas endurece o discurso contra o Palácio do Planalto. Na semana passada, criticou o descaso com as estradas federais que cortam Minas e contestou a estratégia de Dilma para faturar a construção de um milhão de casas populares pelo governo Lula sem participação dos governos estaduais. Além disso, exige a realização de prévias para escolha do candidato do PSDB e se articula com outros governadores e a bancada federal para obrigar o governador de São Paulo, José Serra, a aceitá-las. Aparentemente, a cúpula do PSDB terá que ceder para evitar a migração de Aécio para outra legenda.
Favorito na disputa pelo Palácio do Planalto, até agora, Serra cultiva relações amistosas com Lula e se finge de morto. Aposta na inércia do favoritismo nas pesquisas, no peso do governo de São Paulo e de seu eleitorado e na consolidada aliança com o DEM e o PPS. Seu problema maior não é a luta interna com Aécio Neves, e sim a queda gradativa nas pesquisas de opinião e o fortalecimento de Dilma, favorecida pela força do governo Lula. Na medida em que a vantagem estratégica no plano eleitoral se reduz, a expectativa de poder em torno da candidata oficial cresce. E exerce um efeito corrosivo para estratégia de atrair por gravidade outras legendas, razão pela qual Serra agora aposta na divisão do PMDB.