postado em 09/03/2009 09:50
A relação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com os movimentos sociais é praticamente fraternal. Criado entre sindicalistas, Lula transformou-se em político ao lado dos companheiros de chão de fábrica. Tem facilidade ao dialogar com o setor, fala a mesma língua, ouve e está acostumado com as reivindicações. Com raras exceções, o presidente conseguiu amainá-los e abaixar o tom das demandas e das críticas. Ou seja, a camaradagem da época de sindicalista continuou no governo. Uma das causas da boa relação é o volume de dinheiro do governo que as entidades receberam desde 2003.
Entidades jurídicas ligadas ao MST são as campeãs, com R$ 46,9 milhões, no total, seguidas pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), com R$ 37,9 milhões e a Força Sindical, com R$ 36,6 milhões. O levantamento foi realizado pela assessoria de Orçamento do DEM, com dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi).
Em relação às centrais representantes dos trabalhadores, o ano com o maior repasse registrado foi 2005. A CUT recebeu R$ 14,5 milhões e a Força Sindical, R$ 13,1 milhões. No ano passado, a CUT foi a única com fonte de repasse do governo federal - R$ 4,5 milhões. Não há registro no Siafi, segundo o DEM, para a Força.
O governo não esconde a simpatia pelo MST, nem quando está em jogo o dinheiro público. Os três principais braços jurídicos do movimento, o Instituto de Capacitação e Pesquisa da Reforma Agrária (Iterra), a Associação Nacional de Cooperação Agrícola (Anca) e a Confederação das Cooperativas de Reforma Agrária (Concrab), receberam R$ 46,9 milhões desde 2003. Mas o repasse, que já chegou a R$ 14 milhões em 2004, foi diminuindo até chegar a R$ 1,5 milhão, em 2008.
O cientista político da UnB, David Fleischer, cita como um problema desses repasses a dificuldade de se examinar se os recursos estão sendo aplicados. ;O problema com os movimentos sociais é que não prestam conta do dinheiro que recebem. É um problema sério, como saber se está sendo aplicado se não prestam contas;, questiona Fleischer.
Cargos
Além do dinheiro, outra evidência de que os movimentos têm ligações fraternas com o governo federal são os cargos disponibilizados a representantes de instituições, ONGs, sindicatos e entidades de classe. O Ministério do Trabalho tem o dedo da Central Única dos Trabalhadores e da Força Sindical desde os primeiros dias do governo Lula, em 2003. O ex-presidente da CUT Luiz Marinho já foi ministro. E o ex-presidente da Força Luiz Antônio Medeiros é o atual secretário de Relações do Trabalho. Do movimento estudantil surgiu o ministro do Esporte, Orlando Silva. O ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, é simpatizante do MST.
;A relação do presidente Lula é muito íntima e fraterna, de tolerância dos dois lados;, afirma o cientista político da Universidade de Brasília Octaciano Nogueira. O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social é o órgão direto de contato dos movimentos com Lula. Lá estão representantes de ONGs, sindicalistas, estudantes e empresários. Além disso, o presidente criou pastas para cuidar das demandas de diversos setores como a Secretaria das Mulheres e da Igualdade Racial. ;A vantagem do presidente é que ele leva as pessoas para o governo e fala a linguagem deles;, diz Nogueira.
Além dos sindicalistas e sem terra, reportagem do Correio revelou que o governo Lula depositou R$ 10 milhões na conta da União Nacional dos Estudantes (UNE) nos últimos cinco anos, sendo que 70% foram liberados nos últimos 14 meses. A UNE nega que os milhões recebidos do governo interfiram em sua independência.
O orçamento da união e os maiores beneficiados
Entidade - Repasse(2003 a 2008)
MST* - R$ 46,9 milhões
CUT - R$ 37,9 milhões
Força Sindical - R$ 36,6 milhões
*O MST não é entidade constituída com CNPJ. Recebe repasses através do Instituto de Capacitação e Pesquisa da Reforma Agrária (Iterra), da Associação Nacional de Cooperação Agrícola (Anca) e da Confederação das Cooperativas de Reforma Agrária (Concrab).