postado em 12/03/2009 16:19
O delegado Protógenes Queiroz, que comandou a Operação Satiagraha, prometeu ontem (11) dar "nome aos bois" em seu depoimento à CPI dos Grampos e expor os "meandros da corrupção no Brasil". Diferente de quando depôs na mesma CPI, em agosto do ano passado, ocasião em que se recusou a responder diversas perguntas alegando que o processo corria sob segredo de Justiça, o delegado disse que desta vez pretende esclarecer todos os questionamentos, amparado pela decisão do juiz Ali Mazloum, da 7ª Vara Federal de São Paulo, que decidiu afastar o sigilo do inquérito.
"Pretendo, ao ser confrontado com documentos ou dados, confirmar a conduta de cada participante que tiver negócios obscuros com o banqueiro bandido Daniel Dantas", disse Protógenes antes de participar de debate sobre corrupção promovido pelo diretório central dos estudantes da Universidade Federal de Goiás (UFG). "Estou muito confortável com o afastamento do sigilo da maioria dos documentos que contém na Satiagraha. Vou (à CPI) a qualquer dia e qualquer hora, faço questão. É só marcar." O depoimento já está marcado para o dia 1º de abril.
Acuado por seguidas denúncias de que teria utilizado métodos ilegais para investigar autoridades dos três Poderes e objeto de investigação da CPI, Protógenes tenta virar o jogo a seu favor. Ao avaliar a prorrogação da comissão parlamentar por mais 60 dias e sua convocação, juntamente com o ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Paulo Lacerda, o coordenador da Satiagraha disse que os deputados prestavam um "grande serviço" à nação.
"A CPI deu uma demonstração de civilidade para o País e de compromisso com o povo brasileiro." Protógenes voltou a dizer que a Satiagraha produziu provas contundentes contra diversas autoridades dos três Poderes e que a revelação de seu conteúdo teria um efeito devastador. Não quis, no entanto, adiantar nenhum dado. "A partir dos documentos que tiveram o sigilo afastado, o Brasil vai poder conhecer quais são as pessoas comprometidas com esse esquema criminoso. Vou esclarecer todos os fatos na CPI, que é o foro adequado."
Ele voltou a classificar como "mentirosas" as denúncias de que teria promovido ações ilegais durante a investigação e desdenhou a quebra de seu sigilo telefônico, autorizada pelo juiz Ali Mazloum na última terça-feira. "A quebra do meu sigilo telefônico, que, aliás, já deve ter sido quebrado desde o início da investigação, não revelará nenhuma situação obscura que já não esteja em todos os autos (da Satiagraha)."
Protógenes negou também a informação divulgada pela revista 'Veja' de que teria dito a membros de sua equipe que trabalhava a mando do presidente Lula. "Não faço parte de nenhuma guarda pretoriana a trabalho de algum governo", rebateu.
Antes do início do debate, estudantes da UFG rasgaram em frente ao delegado um exemplar da revista que traz reportagem sobre os métodos de investigação de Protógenes. Gritavam palavras de ordem como "Veja cara-de-pau, capacho do governo federal".
Desde que foi afastado da Satiagraha, em julho do ano passado, Protógenes tem utilizado as palestras e congressos para os quais é convidado como palanque para se defender das acusações de desvios de conduta durante a Operação Satiagraha.