Politica

Crise financeira já bate na porta do gabinete de Lula

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postado em 13/03/2009 09:10
Esta semana, durante reunião com os presidentes da Câmara e do Senado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou escapar um comentário preocupado. ;A crise está aí. Agora, é fazer com que ela peça licença para entrar. Não podemos deixar ela arrombar a porta.; A frase é sintomática. Mostra que Lula já se conformou em ter a crise como companheira de gabinete, seja de forma educada ou não. O clima no Palácio do Planalto no início de 2009 é bem mais tenso que no final do ano passado. Os números divulgados nos últimos dias aprofundaram a preocupação. Em especial, a queda de 3,6% do PIB, no último trimestre de 2008. Até pouco tempo, a avaliação do governo era que o país começaria a se recuperar da crise já no fim do primeiro semestre de 2009. A visão otimista foi superada pelas dificuldades econômicas e problemas para 2010, ano de eleição presidencial. Lula esperava números negativos. Mas não achava que eles seriam tão ruins. O governo mudou o discurso. Em vez de subestimar a crise, passou a reconhecer seu tamanho, mas sempre ressaltando que a coisa será ;menos ruim; para o Brasil. ;A história da marolinha foi muito ruim;, admite um auxiliar do presidente, sob a condição compreensível de permanecer anônimo. A frase na qual Lula comparou os problemas da economia mundial a uma pequena onda é reconhecida internamente como um grande erro tático. Deu discurso à oposição para acusar o governo de ter subestimado a crise e demorado a agir. O governo lida com a crise em dois planos: um estratégico e outro político. No primeiro estão as medidas econômicas, como a redução de impostos para a indústria automobilística ou o programa que promete construir um milhão de casas. O segundo é a exploração política dessas medidas. ;O governo brasileiro não pode resolver uma crise mundial na economia;, diz um ministro. ;Mas precisa deixar claro que está fazendo de tudo para combater seus efeitos.; Esta semana, depois do anúncio da queda no PIB, Lula redobrou a pressão sobre o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Queria garantias de que o Comitê de Política Monetária (Copom) aceleraria o ritmo da queda dos juros. Deu resultado. Na quarta-feira, o Copom anunciou um corte de 1,5 ponto percentual na taxa Selic, um dos mais radicais feitos desde a posse de Lula. Aquecimento Interlocutores do presidente relatam que ele está irritado com a crise. Depois de ser informado do resultado do PIB, ele passou a projetar como teria sido o número final de 2008 se a economia tivesse continuado aquecida. ;Ia ser o melhor ano da história;, lamentou-se. Apesar dos problemas, a convicção no governo ainda é de que a tempestade será mais branda no Brasil e que ela pode ser combatida com a queda dos juros e medidas de incentivo aos setores sob maiores riscos. A grande preocupação é com o aumento do desemprego. A oposição também tem medo, mas seu receio é completamente diferente. O temor é de que Lula saia fortalecido depois dessa onda. Afinal, enquanto o PIB, o nível de emprego e a produção industrial despencaram ao longo dos últimos meses, a popularidade do presidente se manteve intacta. Algumas das medidas do governo surpreenderam a oposição. No final da semana passada, um estudo feito pelo PSDB apontava a inviabilidade do plano de habitação de Lula. A conclusão é que seria impossível resolver todos os problemas de urbanismo e licenças ambientais antes do fim do mandato do presidente. Dias depois, o governo anunciou que o plano incluiria mudanças para agilizar a concessão das licenças. Os oposicionistas passaram a acompanhar com lupa a execução do orçamento da União, em busca de sinais de falta de fôlego do caixa. ;O governo está sem dinheiro;, avalia o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP). ;Temos de mostrar que as promessas do governo não saem do chão;, secunda o presidente do DEM, Rodrigo Maia.

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