postado em 21/03/2009 08:43
O pedido de reintegração feito pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares ao Diretório Nacional da legenda colocou a cúpula petista em situação desconfortável. A direção está rachada em relação ao pedido do seu antigo integrante, que pretende se candidatar a deputado federal por Goiás. Ontem, o secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, que integra a ala esquerda da legenda, criticou duramente a pretensão de Delúbio e os dirigentes que defendem a reintegração. ;Ao contrário de Sílvio Pereira, Delúbio Soares lutou contra sua expulsão, exatamente porque considerava que seus erros não eram de tal monta que fosse cabível sua expulsão. Ele não reconheceu seus erros posteriormente. E não imagino que os reconheça agora, estando como está em meio a um processo judicial. Sem um reconhecimento dos erros, estaríamos reintegrando o mesmo Delúbio Soares que foi expulso em 2005. Na prática, anulando a pena aplicada;, dispara.
Delúbio formalizou seu pedido de reintegração ao PT na quarta-feira, durante encontro com o presidente da legenda, deputado Ricardo Berzoini (SP), que o recebeu na sede nacional do PT e ficou de discutir o assunto com os demais dirigentes da legenda. No mesmo dia, Delúbio também visitou o líder da bancada na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP). ;Atendo tanta gente no meu gabinete, não poderia deixar de recebê-lo. Ele me disse que quer voltar como simples militante e se candidatar a deputado por Goiás;, explica Vaccarezza, que considera legítimo o pleito de Delúbio.
Pomar, entretanto, é duro com o ex-tesoureiro do PT, que assumiu toda a responsabilidade pelo caixa dois de campanha do PT e se recusou a revelar a origem do dinheiro. ;Sua carta, entregue a Berzoini, é de alguém que se julga vítima, não de alguém que se reconhece culpado. Ou seja: Delúbio leva em consideração apenas quem votou contra sua expulsão, desconsiderando os argumentos e os sentimentos dos demais;, afirma Pomar. Pelo estatuto do PT, Delúbio tem direito de pedir a reintegração. Cumpriu corretamente o rito partidário ao procurar Berzoini e fazer seu apelo aos membros da direção. Mas isso não basta, é preciso que a maioria esteja de acordo.
Vida normal
Na cúpula petista, o antigo ;Campo Majoritário; (hoje ;Construindo um Novo Brasil;) tende a apoiar a reintegração de Delúbio, pois outros envolvidos no escândalo do ;mensalão;, como os deputados João Paulo Cunha (SP) e José Genoino (SP), reeleitos para a Câmara, têm vida normal no partido. O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, cujo mandato de deputado foi cassado, por exemplo, acaba de demonstrar que seu prestígio no governo Lula e na militância continua inabalável. Fez duas festas de aniversário, uma em São Paulo e outra em Brasília, à qual compareceram nove ministros.
Na carta endereçada ao partido, Delúbio argumenta que cada dia da sua vida ;foi dedicado ao PT e à causa de construção de um país mais justo e solidário;. Argumenta que teve a vida virada do avesso: ;Cumpro meu degredo doloroso há mais de 3 anos, afastado do Partido dos Trabalhadores, sem que a essência de nossa causa deixasse de pulsar em meu coração e permanecer em minha mente. Com minha vida investigada e virada do avesso, não pesam sobre mim acusações de qualquer alcance de dinheiro público e não sou acusado de um único ato que visasse meu benefício, seja político, financeiro ou pessoal;, argumenta na carta.