Politica

Dilma, uma candidata à vontade

Mudanças da ministra não ficaram só no visual. Amigos e assessores avaliam que a preferida do presidente Lula para sucedê-lo também passou a assimilar melhor o perfil de postulante ao Planalto

postado em 30/03/2009 08:36
Que a ministra Dilma Rousseff mudou nos últimos tempos, ninguém duvida. As transformações são visíveis. A começar pelo novo visual, suavizado por uma operação plástica, pela adoção de um novo penteado e guarda-roupa. Mas, para um colega de ministério com gabinete próximo ao dela, a principal mudança é outra, mais sutil. ;Ela está mais à vontade com a candidatura à Presidência da República. Antes, encarava como uma missão. Hoje, já vê como um projeto;. A metamorfose da ministra técnica na candidata boa de briga e de palanque está quase completa. Na quarta-feira, ela foi a estrela da apresentação do plano Minha casa, minha vida, pelo qual o governo Lula promete construir um milhão de moradias. Estava à vontade, gesticulando, com um discurso em que os números perderam espaço para a venda do conceito do programa. A cúpula do governo não conseguiu evitar a comparação com outra cerimônia semelhante, quando ela apresentou ao país o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Na ocasião, ela fizera uma enorme apresentação, com uma longa sequência de gráficos em power point. Desta vez, os gráficos praticamente desapareceram. ;Ela estava muito mais leve;, diz um ministro. Depois, foi o momento de uma maratona de entrevistas. Dilma respondeu ao ataque da oposição antes mesmo que ele fosse feito. ;A oposição dirá que o projeto é eleitoreiro, mas eles dizem isso a cada vez que o governo lança um programa que beneficiará a população.; Quando a notícia apareceu nos telejornais à noite, a frase dela veio colada às previsíveis críticas dos adversários. No dia seguinte, antes das 8h, ela já estava pronta para uma nova rodada de entrevistas ao vivo. A mudança de visual, conta um ministro palaciano, não foi sugestão dos marqueteiros e sim uma decisão pessoal de Dilma. Para quem a conhece, mais que uma consequência, foi um sintoma da transformação mais profunda da ministra. Dureza O programa de habitação popular pode ter sido anunciado pela nova Dilma, mas foi elaborado pela antiga. Durante a criação do projeto, ela agiu com dureza contra os setores do governo onde identificava resistência. Bateu de frente com o Ministério do Meio Ambiente e a Caixa Econômica Federal, para citar apenas alguns integrantes da lista. Só descansou quando o programa ganhou a cara pedida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com fortes subsídios para compra para as famílias de baixa renda adquirirem imóveis. Em outras áreas, ela se manteve a mesma, mas a importância que ganhou ao ser ungida como candidata é que faz a diferença. Nas decisões sobre economia, sempre atuou mediando a queda-de-braço entre os diferentes segmentos do governo, mas pendendo para o lado desenvolvimentista. Foi decisiva, por exemplo, para a indicação de Guido Mantega como ministro da Fazenda. Hoje, com mais força, atua ao lado de Mantega no debate sobre a condução da política econômica, em contraposição ao conservadorismo do Banco Central. Ou talvez seja melhor dizer que Mantega atua ao lado dela.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação