postado em 30/03/2009 10:19
Deputados federais tiraram R$ 2,68 milhões de seus próprios bolsos para doar a candidatos a vereador e a prefeito durante as eleições de 2008. O valor equivale a 162 salários dos parlamentares.
Se a Câmara fosse uma empresa e as doações dos deputados fossem somadas, ela estaria entre as maiores doadoras da campanha eleitoral. A OAS, companhia que mais injetou recursos em campanhas, deu a candidatos R$ 11,5 milhões. O Itaú cedeu R$ 3 milhões.
As doações foram feitas por meio de transferências eletrônicas, cheques e depósitos de parcelas que vão de R$ 3,23 a R$ 55 mil.
A maior parte do dinheiro foi para desconhecidos candidatos do interior, mas também há beneficiados como o prefeito reeleito de Curitiba, Beto Richa (PSDB), e o atual corregedor da Câmara e candidato derrotado em Salvador, ACM Neto (DEM). Luiz Carlos Hauly (PSDB), também deputado e candidato derrotado ontem no terceiro turno em Londrina (PR), recebeu R$ 35 mil.
Uma situação comum foi a doação para parentes de congressistas que tentavam iniciar a carreira na política.
Olavo Calheiros (PMDB-AL), irmão do senador Renan Calheiros (PMDB), doou R$ 25 mil a Renan Calheiros Filho (PMDB), que foi eleito prefeito no município de Murici (AL).
Ao todo, 222 deputados que não foram candidatos fizeram doações. Até o presidente da Casa, Michel Temer (PMDB-SP), contribuiu - fez transferências que somaram R$ 13,4 mil para seis candidatos do interior de São Paulo.
À reportagem, deputados federais disseram que a intenção das doações era retribuir a ajuda recebida por correligionários nas eleições de 2006.
De olho em 2010
Para David Fleischer, professor da UnB (Universidade de Brasília) e doutor em ciência política, o objetivo dos políticos é formar uma rede de cabos eleitorais de olho em 2010. "Tem um interesse do próprio deputado. Tanto que a Câmara entra em recesso (no período eleitoral) porque eles vão a campo para fazer campanha em favor de seus candidatos a vereador e a prefeito. E as Assembleias Legislativas também", afirma o professor. "Uma mão lava a outra." Lei Eleitoral.
Segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a doação por congressistas é permitida desde que não ultrapasse 10% do valor dos rendimentos anuais do doador.
O total de transferências dos deputados pode ser superior, já que os políticos que são empresários também têm o direito de doar por meio de suas empresas. O levantamento não levou em conta os parlamentares que foram candidatos em 2008 e que poderiam doar dinheiro para suas próprias campanhas.
Quem mais desembolsou dinheiro para campanhas de candidatos a prefeito e a vereador no ano passado foi Alfredo Kaefer, do PSDB do Paraná, que repassou mais de R$ 323 mil.
Outro lado
O deputado federal Alfredo Kaefer (PSDB-PR), maior doador na Câmara, diz que a ajuda que recebeu de colegas de partido no interior do Paraná na campanha de 2006 o colocou "em uma condição de ter que retribuir" nas eleições de 2008.
"Essas pessoas me ajudaram em 2006, mas vamos estar juntos em 2010", diz Kaefer, que doou R$ 323 mil. "Achei que tinha que participar. Para participar, em muitos lugares, tem que ajudar financeiramente." Argumento semelhante deu Odilio Balbinotti (PMDB-PR). Segundo sua assessoria, ele diz que apoia, por meio de doação, "o parceiro" que o apoiou na campanha anterior. Balbinotti, que doou R$ 44,2 mil, diz ter contribuído apenas com material gráfico.
Kaefer afirma que o destaque dado na mídia às doações de campanha faz com que "muita gente" tenha receio de doar.O segundo maior doador na Câmara, Paulo Lima (PMDB-SP), não quis comentar as transferências.