Politica

Sanguessuga dá mau exemplo na Câmara de BH

Com a experiência de quem já foi deputado por dois mandatos, Cabo Júlio, que recebeu cheque e depósitos dos líderes da máfia das ambulâncias, tenta comandar vereadores de BH

postado em 05/04/2009 10:57
Apontado pela Polícia Federal (PF) como um dos principais integrantes da máfia dos sanguessugas em Minas Gerais e réu em diversas ações de improbidade ajuizadas pelo Ministério Público Federal sob a acusação de recebimento de propina e desvio de recursos públicos, o ex-deputado federal Cabo Júlio (PMDB) é hoje um dos principais ;comandantes; da Câmara Municipal de Belo Horizonte. Oficialmente, ele é apenas o líder da segunda maior bancada da Câmara, mas basta acompanhar algumas sessões para perceber que o ex-deputado federal já virou um espécie de líder informal entre os vereadores, principalmente entre o grupo de novatos que estrearam este ano na política. No processo que responde na Justiça, consta que Cabo Júlio recebeu dos donos da Planam ; empresa do Mato Grosso que liderava a máfia dos sanguessugas ; 12 depósitos em dinheiro no valor total de R$ 116,8 mil, feitos na época em que era deputado, e um cheque de R$ 100 mil para ;comprar uma casa;. Na Câmara, Cabo Júlio, eleito vereador com 6.739 votos, é quem comanda a derrubada de quórum durante as sessões e a votação de todos os projetos. Foi ele quem articulou a pressão feita pelos vereadores, que ameaçaram derrubar alguns vetos do prefeito Márcio Lacerda (PSB), com o objetivo de apressar o preenchimento de cargos do terceiro escalão. Sempre de terno, indumentária obrigatória na Câmara dos Deputados, mas não muito usual entre os vereadores da capital, é raro o dia em que ele não vai à tribuna desancar a prefeitura. Já ameaçou criar comissões parlamentares de inquérito para investigar a guarda e a previdência municipal e apresentou diversos requerimentos exigindo informações sobre repasses de recursos das secretarias para organizações não governamentais. Tanta desenvoltura não é sem motivo. Líder da greve da Polícia Militar em 1997, foi eleito o deputado federal mais bem votado do estado em 1998. Na eleição seguinte reelegeu-se, já com uma votação menor, mas ainda expressiva. No entanto, não conseguiu um terceiro mandato depois que seu nome apareceu na Operação Sanguessuga, deflagrada PF em 2005, para desbaratar um esquema de fraude envolvendo emendas parlamentares destinadas à compra de ambulâncias superfaturadas. Antes de o esquema vir à tona, o deputado era praticamente o rei das ambulâncias no estado. Chegou a divulgar panfletos de propaganda rodeado de unidades móveis de saúde compradas com emendas de sua autoria. Ao todo, destinou 14 emendas para a compra de ambulâncias em diversos municípios. Estratégia Apesar de dominar o ;modus operandi; do Legislativo, Cabo Júlio pode ter sua carreira encurtada por causa do processo que responde no Tribunal Regional Federal justamente por causa das ambulâncias. A defesa do vereador tem feito de tudo para protelar seu andamento. Já questionou a validade e pediu perícia nas escutas telefônicas feitas pela PF com a autorização da Justiça durante o andamentos das investigações. Também pediu uma análise na auditoria feita pela Controladoria Geral da União nas prestações de conta das compras de ambulâncias feitas com emendas de sua autoria. Todas apontam para a existência de superfaturamento e danos ao erário. Solicitou ainda perícia contábil nas transferências e depósitos feitos em dinheiro pela Planan em sua conta corrente para provar que não se tratava de propina, e sim de doações de campanha eleitoral. Mas a estratégia não tem funcionado. A Justiça acatou apenas seu pedido de indicação de testemunha. A estratégia de protelar não é sem motivo. Um dos procedimentos contra ele que tramita na Justiça Federal em Belo Horizonte tem 17 volumes e indícios contundentes do envolvimento do atual vereador no esquema de fraude. Desde que começou a tramitar, esse procedimento estava protegido por segredo de Justiça. No dia 19 de fevereiro, o sigilo foi retirado por determinação do juiz da 7ª Vara Federal, Rodrigo de Godoy Mendes, e pode ser consultado no balcão da secretaria. Nesse processo, as principais provas contra o vereador são os depoimentos de Luiz Antônio Trevisan Vedoin e Darci Vedoin, sócios proprietários da Planam. Nele, a família Vedoin detalha os 12 depósitos em dinheiro, no valor total de R$ 116,8 mil, feitos na conta do então deputado. Conta ainda das duas reuniões feitas entre Cabo Júlio e prefeitos para combinar a liberação das emendas. E ainda revela que a empresa deu um cheque de R$ 100 mil para o então deputado adquirir uma casa.

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