Politica

Comício histórico das Diretas Já faz 25 anos hoje

Marco histórico das Diretas Já, manifestação no Anhangabaú é lembrada com emoção por participantes, como o próprio presidente Lula

postado em 16/04/2009 08:10
Quando fala sobre o dia 16 de abril de 1984, a cantora Fafá de Belém troca a tradicional gargalhada pela emoção. Ela, o então jogador Sócrates, os atores Mário Lago e Ruth Escobar, entre outros artistas, e mais 1,5 milhão de pessoas foram ao Vale do Anhangabaú, no Centro de São Paulo assistir a uma das maiores manifestações do país, o último comício pelas ;Diretas Já;. Ao lado deles, Tancredo Neves, Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso, Orestes Quércia, Mario Covas, Pedro Simon e vários outros peemedebistas dividiam o palanque com os petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Eduardo Suplicy e com o pedetista Leonel Brizola. O hoje presidente Lula acredita que sua eleição também foi resultado desse episódio, há 25 anos. O comício era o último ato para pressionar o Congresso a aprovar a emenda do deputado Dante de Oliveira, que estabelecia o retorno de eleições diretas para a Presidência da República. ;Foi um momento muito especial na história das lutas do povo brasileiro. Cerca de um milhão e meio de pessoas, na maior manifestação política ocorrida no Brasil, clamavam pelo restabelecimento das eleições diretas. Apesar da manifestação gigante, os congressistas não aprovaram, alguns dias depois, a emenda das eleições diretas;, recordou o presidente Lula ao Correio, em mensagem enviada por meio de sua assessoria. Para o presidente, a manifestação foi importante para mudar os rumos da história do Brasil, apesar de a emenda não ter sido aprovada. ;Mas a demonstração de força do movimento e de unidade das correntes oposicionistas acabou sendo decisiva para o processo de redemocratização do país e o fim da ditadura. E eu acredito que a minha eleição, quase duas décadas mais tarde, também é resultado daquele movimento que, sendo político, criou as bases para as transformações econômicas e sociais que hoje temos a oportunidade de implementar;, afirmou Lula. Hino Nacional O narrador esportivo Osmar Santos deixou de lado os jargões usados nas transmissões pelo grito de diretas já, ao assumir como locutor oficial dos comícios. Fafá de Belém deu nova roupagem ao Hino Nacional e à canção Menestrel das Alagoas, dedicada ao ex-senador Teotônio Vilela, morto meses antes de 16 de abril de 1994. ;Quando recebi a música do Milton (Nascimento), chamei o Teotônio para ouvi-la. Emocionado, ele me disse: ;As nossas gargalhadas juntas podem fazer o chão deste país tremer. Se não vier alegria, a gente não consegue a democracia;, lembra a cantora, que se emociona ao falar sobre o comício. Fafá de Belém se engajou desde os primeiros comícios do Diretas Já. ;Eu cheguei a pagar passagens e hospedagens do meu bolso;, disse ela ao Correio. ;Aquele era um momento único que em nenhum país aconteceu. Era um movimento de crença, estávamos apostando em um sonho.; Na verdade, a campanha começou em março de 1983, quando Dante apresentou sua proposta na Câmara. A partir daí, diversos setores da sociedade se manifestaram à favor. Da Igreja, religiosos como Dom Paulo Evaristo Arns e Ivo Lorscheiter pediam eleições diretas, assim como os generais Costa Cavalcanti e Antônio Carlos de Andrade Serpa. ;A campanha pelas eleições diretas começou pelo PMDB, em Porto Alegre, e depois seguiu para outras regiões. O primeiro grande comício foi em Goiânia (em junho de 1983) e depois os demais foram crescendo, como no aniversário de São Paulo, em janeiro de 1984;, conta o senador Pedro Simon (PMDB-RS), um dos coordenadores do movimento. A votação da emenda foi em 25 de abril, e a oposição acabou derrotada. » Áudio: ouça trecho de entrevista com Fafá de Belém
Movimento suprapartidário Em junho de 1983, o movimento das Diretas Já não era mais apenas uma bandeira do PMDB. O PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PDT do então governador fluminense Leonel Brizola aderiram à formação de uma ação suprapartidária pela aprovação da emenda de Dante de Oliveira. Dessa vez, os políticos não estavam só e os palanques foram tomados em todo o país por artistas, jogadores de futebol, intelectuais e pelos movimentos sociais e sindicais. A oposição tinha tudo para ver o fim do colégio eleitoral mantido pelos militares. ;As forças militares começaram a agir, principalmente no dia da votação;, conta o senador Pedro Simon (PMDB-RS). ;Haviam comentários de que o Congresso iria fechar. Os parlamentares entravam na Casa passando pelos militares;, acrescenta Simon, lembrando que o clima era de intranquilidade em Brasília. Faltaram nove votos para a emenda ser aprovada, o que daria dois terços das presenças no plenário. O senador lembra que o episódio foi um primeiro passo para a redemocratização do país. ;Parecia que não tinha mais nada para fazer, quando surgiu a possibilidade de transformar o colégio eleitoral. O Tancredo Neves foi ao colégio justamente para acabar com o colégio;, afirmou Simon. Ele explica que, com a candidatura e posterior vitória do ex-governador mineiro, a ditadura seria derrotada e as eleições diretas seriam reestabelecidas no país. (EL) Em 16 de abril de 1984, mais de 1,5 milhão de pessoas foram ao Centro de São Paulo assistir o último comício do movimento pelas eleições diretas

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação