postado em 17/04/2009 15:36
O Tribunal do Júri de Cruzeiro do Oeste, no noroeste do Paraná, condenou ontem à noite o padre e ex-prefeito de Mariluz Adelino Gonçalves a 18 anos e nove meses de reclusão. Ele é acusado de ser o mandante, em 2001, das mortes do então vice-prefeito da cidade, que fica a 540 quilômetros de Curitiba, Aires Domingues e do presidente do PPS local, Carlos Alberto de Carvalho. O padre deixou a corte algemado. A defesa já recorreu ao Tribunal de Justiça (TJ), alegando inocência.
Pelas acusações, o padre, de 53 anos, eleito prefeito em 2000 pelo PMDB, teria se desentendido com o PPS, ao qual pertencia o vice, na divisão de cargos. As suspeitas apontam ainda que Carvalho estava levantando informações sobre suposta prática de pedofilia pelo religioso. Temendo a divulgação, ele teria pedido a contratação do ex-policial militar José Lucas Gomes.
O crime foi cometido no dia 28 de fevereiro de 2001. Domingues e Carvalho estavam na sede do diretório local, quando foram atingidos por tiros. O vice-prefeito morreu na hora e Carvalho faleceu no hospital alguns dias depois. Porém, antes da morte, em depoimento à polícia, Carvalho disse não ter dúvidas de que o padre era o responsável pelo atentado.
Gomes acabou preso e confessou o crime à polícia, citando os nomes do padre e do funcionário da prefeitura Élcio Faria como mandantes. De acordo com o advogado de Gonçalves, Miguel Nicolau Júnior, Gomes negou em juízo a participação do religioso nas mortes. "Reforça nossa tese de inocência", disse o advogado. O ex-policial acabou morrendo na prisão em 2003, antes do julgamento, vítima de enfarte. Faria foi condenado, anteriormente, a dez anos de prisão. Outro acusado, Alexandro Nascimento, que seria amigo do padre e teria contratado Gomes, já foi absolvido.
Tramoia política
No julgamento, Gonçalves afirmou ter sido vítima de uma "tramoia política". Seu advogado protocolou no TJ um pedido para realização de novo júri por acreditar que a decisão foi contrária aos autos. Ele também pediu habeas-corpus, alegando que a decisão a juíza Josiane Pavelski Fonseca foi "severa" ao determinar a prisão preventiva. Segundo Nicolau Júnior, a própria magistrada ressaltou que o padre compareceu às audiências preliminares e não causou nenhum embaraço no processo. "Provavelmente o TJ vai mandar que aguarde em liberdade.
Ordenado padre em dezembro de 1992, Gonçalves está temporariamente afastado do ministério sacerdotal na Diocese de Campo Mourão. A secretária da diocese disse que o bispo dom Francisco Javier Delvalle Paredes deve analisar a situação somente depois da reunião da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que começa quarta-feira. O religioso já ficou preso por cerca de seis meses, em 2001, e teve o mandato cassado.