postado em 19/04/2009 11:18
A possibilidade de uma valorização do real ante o dólar, em decorrência de operações especulativas no mercado de juros, preocupa setores do governo. Essas operações são sustentadas por análises segundo as quais a combinação de um cenário internacional mais sereno com a possibilidade de uma diminuição no ritmo de corte dos juros básicos pode estimular a chamada arbitragem - nessas operações, o investidor percebe distorções entre o preço de um mesmo ativo (no caso os juros) e ganha com o diferencial das taxas praticadas no país e no exterior. Desse jeito, o real tende a se valorizar rapidamente, prejudicando a competitividade dos produtos nacionais.
"Essa é uma preocupação, sim. No mundo já há sinais de que o carry trade (operações que exploram o diferencial de taxas de juros e a oscilação das moedas dos países) está voltando e o Brasil não fica de fora desse processo", disse uma fonte da equipe econômica. "À medida que o diferencial de juros fica mais evidente, os investidores externos tendem a trazer mais capital para o Brasil, o que leva a uma valorização do câmbio", disse outra fonte do governo. Por isso, a defesa de que o Banco Central não deveria diminuir o ritmo de queda na Selic, mantendo um corte de 1,5 ponto porcentual pelo menos nas próximas reuniões do Copom em abril e em junho.
Essa avaliação não é consenso no governo. Há setores que tem outro entendimento, como o de que o movimento de valorização de moedas contra o dólar é mundial e tem muito mais relação com a diminuição do nível de aversão ao risco. "A taxa de juros na Austrália está na casa de 3% ao ano e se valorizou mais que o real. Você acha que está tendo carry trade com a moeda daquele país?", indaga a fonte. Para esse economista, o governo já destacou que o movimento de valorização do real também não pode ser dissociado do desempenho do País nesta crise. "O Brasil é um dos países com melhor performance, pelos fundamentos e pela boa gestão econômica, tanto na moeda como da liquidez, e isto torna o País mais atrativo", disse.
O fato é que o assunto está em discussão pela equipe econômica. Na sexta-feira, o presidente do BC, Henrique Meirelles, apresentou argumentos de defesa contra as críticas de que os juros altos estimulam a valorização do real. Em discurso na Câmara de Comércio Americana do Rio (Amcham) ele tratou do assunto e passou o recado: não é apenas o diferencial da taxa de juros que influencia a trajetória do câmbio.
Ele disse que como o dólar tem caído um pouco, algumas pessoas já começam a falar em diferencial de taxa de juros e sublinhou: "É aquela mesma coisa que levou ao erro dos exportadores de achar que apenas os juros influenciam a taxa de câmbio." E insistiu que uma série de fatores influenciam o câmbio, entre eles o preço de commodities e a aversão ao risco.