Politica

Em entrevista, Romero Jucá diz que ministro prejudicou o PMDB

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postado em 14/05/2009 08:29
A decisão do ministro da Defesa, Nelson Jobim, de enxugar os cargos de confiança na Infraero abriu uma crise interna no seu próprio partido. O porta-voz dos insatisfeitos é o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). Em entrevista ao Correio, o senador compara o episódio ao regime militar e afirma que Jobim contribuiu, de maneira ;desastrada;, para prejudicar a imagem do PMDB. ;É postura da ditadura dizer que políticos não estavam prontos para governar e militares devem governar.; Por determinação de Jobim, a Infraero reduzirá de 109 para 12 o número de cargos de confiança no órgão. O argumento, segundo o ministro, é relacionado à ;eficiência;. Jucá nega que seu incômodo tenha sido causado pela demissão de seu irmão, Olavo, que ocupava um cargo na Infraero em Pernambuco. Reclama, apenas, do argumento para a saída dele: indicação política. ;Meu irmão, por exemplo, não tinha cargo do PMDB, na direção na Infraero. Não fui eu que o indiquei.; Na terça-feira, Jucá subiu à tribuna para defender proposta, no mínimo, de provocação ao ministro da Defesa. O senador apresentou uma emenda constitucional que profissionaliza todo o ministério, incluindo a cadeira de Jobim e a de Solange Vieira na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), indicada pelo ministro. ;Estou apenas corroborando uma linha dele;, alega Jucá. Ontem, Jobim ironizou o projeto e disse que dificilmente ele será aprovado. O ministro considerou as críticas ;irrelevantes;. Porta-voz contra Jobim O que levou a essa crise na Infraero? A forma com que se tomaram as medidas foi, no mínimo, desastrada. Meu irmão, por exemplo, não tinha cargo do PMDB na direção na Infraero. Não foi nomeado pelo Jobim. Não fui eu que o indiquei. Se o tivesse indicado, teria sido para ser superintendente. Ele tinha uma assessoria intermediária. Quando o demitiram, disseram que estavam acabando com a influência política, perniciosa para a empresa. Uma agressão desnecessária. Comuniquei isso ao ministro José Múcio como forma de aconselhar a não tomar esse tipo de postura. Eu reclamei de um procedimento que acho que não foi de respeitar as pessoas. O Jobim diz que suas críticas são irrelevantes... Se as críticas são irrevelantes, o episódio está superado. Eu as fiz para ajudar o governo. Acho que o governo não pode demitir alguém falando mal de políticos na generalidade. É postura da ditadura dizer que políticos não estavam prontos para governar e militares devem governar. Isso não é um bom discurso. Devemos melhorar sempre, mas com discurso equilibrado, sem generalizar erros. O Jobim disse que, se não for sério, é para sair. Eu quero que ele diga quem não é sério. Quero que as coisas fiquem claras. Se há alguma coisa para limpar, o Jobim precisa dizer quem sujou. Esse episódio ajudou a fortalecer a imagem de que o PMDB é fisiológico, não? Da forma como foi colocado, prejudica o partido. Havia uns erros crassos. Todos os diretores da Infraero foram indicados pelo Jobim. Não tem nenhum superintendente nomeado pelo PMDB. O último presidente indicado por partido foi o Sérgio Gaudenzi, pelo PSB. Qual interesse o Jobim teria em prejudicar o PMDB? Pergunte a ele. Acho que não foi intencional. Mas o desdobramento não ajuda. Agride a imagem desnessariamente. Acho que ele não deu importância. Se quisesse conduzir bem, faria isso. Mas deixou o processo andar e criou-se um problema. Na sua opinião, ele representa o PMDB no governo? Não. Acho que ele é um ministro da cota do presidente. É filiado ao PMDB, mas a escolha dele é pessoal do presidente. O PMDB não o indicou. A Infraero ganha ou perde com as mudanças? Não sei, não conheço a estrutura interna dela. E a relação do PMDB com o governo fica deteriorada? Vocês acham que minha relação com o governo depende de uma assessoria que meu irmão ocupava? Não podemos tomar qualquer erro em escalão intermediário como agressão política, mas como erro. Tem alguma chance de a bancada do PMDB indicar o próximo presidente da Infraero? Não estou participando nisso, nem quero indicar ninguém. O Estado não está ocupado por indicações políticas em excesso? Acho que a máquina pública deve ser profissionalizada. Mas indicação política pode ser técnica. Os ministros são indicações políticas, os secretários nacionais também. É um processo de capilaridade. O que deve prevalecer: indicação técnica com respaldo político. Não pode haver uma espécie de tentativa de agressão à escala política quando se faz ação moralizadora. Não foi provocação subir à tribuna e defender a profissionalização de todo o ministério, inclusive da vaga de ministro, ocupada pelo Jobim? Estou apenas corroborando uma linha dele. O senhor acha que Solange Vieira então deveria deixar a Anac? Não estou discutindo isso. Só acho que deve ser profissionalizado todo o ministério. Se é para ter especialização na Infraero, é para ter na Anac e no ministério. Não fui eu que inventei essa teoria. Foram eles. É preciso avisar os políticos da demissão de indicados? A demissão não faz parte do jogo? Nunca reclamei de que não me avisaram. Só alertei que estavam chamando as pessoas e dizendo que estavam demitindo para se livrar dos políticos. Não precisa agredir. O senhor falou com o presidente Lula sobre isso? Só comuniquei que estava errada a forma. Ele disse que ia ver. Essa crise não abre brechas para críticas ao PMDB sobre participação em governos? Como se forma um governo? Através de indicação de pessoas para gerir uma política pública de um grupo que ganhou a eleição. Eu defendo no PMDB que tenhamos programas, para indicar a melhor figura técnica. Mas isso nunca foi feito%u2026 Em nenhum governo. Hoje, a composição de governo é pessoal, e não em cima de programas. Você não tem um programa do partido. Com isso, termina pleiteando cargo. Os partidos tem que pleteiar espaço político. É mudar a cultura política de todos os partidos. E em 2010? O PMDB vai para onde? Na eleição presidencial, minha posição é indicar o vice da ministra Dilma Roussef. Temos vários nomes e precisamos ver a construção política. Temos que montar uma chapa para ganhar a eleição. Há bons nomes, como do Michel Temer, dos ministros Geddel Vieira Lima, Edson Lobão, do governador Sérgio Cabral (Rio de Janeiro). E o nome do Jobim? Também, aí podemos profissionalizar a vaga de vice. Ouça a entrevista com o senador Romero Jucá:

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