Politica

Estudo eleva em 69 número de desaparecidos na ditadura

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postado em 18/05/2009 08:53
Um abrangente estudo sobre assassinatos de opositores ao governo e militantes da esquerda armada durante a ditadura (1964-1985), elaborado pelos próprios familiares e lançado em forma de livro em abril último, acrescentou 69 novos casos aos já conhecidos e admitidos pelo governo federal. O número final ficou em 426 mortos e desaparecidos políticos dentro e fora do país no período. Há dois anos, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos narrou 357 casos de mortos e desaparecidos no livro "Direito à Memória e à Verdade", segundo as contas feitas pelos familiares. O número era o mesmo que constava do primeiro levantamento organizado pela Comissão dos Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, divulgado em 1995. Nos últimos 14 anos, a comissão coletou depoimentos e cartas de ex-presos políticos e teve acesso a documentos que até 1995 estavam vetados ao público. O trabalho resultou em um livro de 767 páginas, editado pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. Um dos principais avanços foi a pesquisa realizada pela comissão em conjunto com a Embaixada do Brasil na Argentina e o Arquivo Nacional de Memória da Argentina. Descobriu-se que há cinco casos de desaparecidos na Argentina cujos pais ou mães são brasileiros. O dossiê vinculou esses crimes à Operação Condor, que mobilizou as ditaduras da América do Sul no combate às organizações de esquerda na década de 70. Alguns dos casos "novos" são exemplos de como o Estado militar atingiu pessoas com pouca ou nenhuma atividade política. José Sabino, por exemplo, foi morto a tiros em uma manifestação em maio de 1966, no Rio. Na estatística, entraram supostos suicídios cometidos em celas do aparelho repressor --reais, embora provocados por uma situação de intensa pressão física e psicológica, ou fictícios, usados para ocultar um assassinato sob tortura. Um dos suicídios supostamente montados pelo aparelho repressor é o do espanhol Miguel Sabat Nuet, morto por enforcamento no Dops de São Paulo. Seus familiares, finalmente localizados após 34 anos, deverão receber os restos mortais exumados no decorrer de investigação lançada pelo Ministério Público Federal. O dossiê relaciona mortes de pessoas que passaram por intensa tortura e se mataram depois, como o estudante de engenharia Juan Antônio Forrastal, torturado no quartel de Quitaúna (SP), em 1969. Três anos depois, ele se matou num hospital em Madri, na Espanha, segundo familiares. "À medida que se abre a questão da ditadura, que se discute mais e que o governo abre seus arquivos, as famílias passam a se manifestar, a procurar as reparações. Por isso, o número conhecido de vítimas cresceu", disse Criméia Almeida, integrante da comissão dos familiares. Criméia lutou na guerrilha do Araguaia. Além dela, o levantamento foi organizado pela historiadora Janaina Teles, por Maria Amélia Teles e por Suzana Lisbôa, que, durante a ditadura, foi militante de organizações clandestinas de esquerda e, nos anos 90, representou os familiares na comissão montada pelo governo para averiguar casos e indenizar familiares. A família Teles move ação contra o coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, apontado como um dos principais torturadores e comandante do DOI-Codi em São Paulo, órgão da repressão militar, por quatro anos. Em livros e declarações, Ustra nega que tenha sido torturador ou responsável por tortura e morte de oposicionistas.

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