postado em 21/05/2009 21:50
A ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República) elegeu nesta quinta-feira a lista tríplice que submeterá ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a escolha do novo procurador-geral da República, cargo máximo do Ministério Público Federal --hoje ocupado por Antonio Fernando Souza. Trata-se de um dos postos mais importantes do país: seu titular tem o poder de denunciar à Justiça o presidente da República, ministros e congressistas.
A atual eleição deverá definir a continuidade do estilo de Antonio Fernando: independente (denunciou membros do governo, no caso do mensalão) e discreto. Para alguns, essa discrição confunde-se com atitude passiva diante de ataques de membros de outras instituições, como o STF (Supremo Tribunal Federal).
Os Subprocuradores-Gerais da República Roberto Monteiro Gurgel Santos, Wagner Gonçalves e Ela Wiecko Volkmer de Castilho foram os escolhidos de uma lista que incluía também os procuradores Eitel Santiago de Brito Pereira, Blal Yassine Dalloul e Mario Ferreira Leite. Os nomes foram definidos em votação realizada entre Procuradores da República de todo país. Agora cabe a Lula escolher o nome vencedor.
A reportagem questionou os postulantes e, para traçar seu perfil, ouviu 15 procuradores em seis Estados, sob o compromisso de não identificá-los. Gurgel, Wagner e Ela são do grupo que criou, anos atrás, o movimento "Novo Ministério Público", no qual o ex-procurador-geral Cláudio Fonteles é referência. Os três são ex-presidentes da ANPR.
Perfis
Roberto Gurgel é apontado como a opção da continuidade. Vice-procurador-geral --que é nomeado pelo procurador-geral--, ele conhece a administração e tem apoio de Antonio Fernando. Gurgel é afável e bem conhecido na Procuradoria, pois cuidava dos concursos de ingresso na carreira, uma função estratégica. Assim como Antonio Fernando, Gurgel é educado, mas não tem o perfil "combativo", na opinião dos que querem um procurador-geral que defenda com firmeza a instituição. Tem pouca experiência nas áreas de direitos humanos e penal. É casado com a subprocuradora-geral Cláudia Sampaio Marques, experiente na área criminal e a quem o atual procurador-geral costuma delegar as ações penais mais polêmicas.
Wagner Gonçalves é um dos poucos no Ministério Público Federal que têm criticado abertamente Gilmar Mendes, mesmo oficiando no STF. Foi o autor de parecer no qual defende De Sanctis. Apoia e incentiva o trabalho dos procuradores de primeira instância, tem a capacidade de ouvir e é claro em suas posições. É acessível à imprensa e crítico das deficiências do Legislativo e do Judiciário. Ele foi corregedor-geral da Procuradoria e defende uma participação mais vigorosa da instituição no combate ao crime organizado.
Ela Wiecko é bastante articulada com entidades da sociedade civil ligadas à defesa dos direitos humanos e das minorias. Tem grande experiência em questões criminais, foi coordenadora da área dos direitos indígenas. Tem um perfil "progressista" e conta com a simpatia de setores do PT. Na sucessão de Brindeiro, circulou a notícia de que ela seria escolhida por Lula. O vazamento teria desagradado ao Planalto, que ungiu Fonteles. Alguns colegas queixam-se de seu estilo impositivo. Mas, se for escolhida, deverá receber o apoio dos concorrentes.