Politica

Copeira da Câmara Legislativa se apresenta em Nova York

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postado em 24/05/2009 09:12
Valdenora Pereira, 49 anos, estava entre os aprovados, em 1993, no primeiro concurso público da Câmara Legislativa do Distrito Federal. Há 16 anos, ela prepara café para abastecer os gabinetes de deputados e servidores da Casa. São 12 litros por tarde. Mas a missão de encher garrafas térmicas é só uma parte do que a funcionária aprendeu na última década e meia. Desde que entrou para o serviço público, como copeira, Valdenora não parou de servir café nem de estudar. Assim conseguiu o diploma de educação artística, com especialização em música, pela Universidade de Brasília (UnB). E continuou. Fez mestrado em canto lírico na Universidade Federal de Goiás (UFG) e exibe no currículo apresentações como as que fez com o coro da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional e até uma performance com o grupo de músicos da UnB no Carnegie Hall, famosa casa de espetáculos de Nova York. ;Foi preparando cafezinho que consegui chegar aonde cheguei;, orgulha-se a copeira. Na hora do almoço, Valdenora dá aulas de canto para uma turma de funcionários da Câmara dentro de um projeto desenvolvido para qualidade de vida. A obstinação por mais conhecimento não é um caso isolado no setor onde Valdenora trabalha. Maria do Socorro, 48 anos, é outro exemplo. Dona de unhas compridas, pintadas e arrematadas com acabamento ;francesinha;, as mãos de Maria do Socorro, 48 anos, são impecáveis. Faxineira desde 1995, a servidora é capaz de lavar banheiro, trocar lixo, varrer o chão e chegar ao final do expediente ainda elegante, sem demonstrar cansaço. O mais incrível da servidora, no entanto, está longe da habilidade que ela tem para faxinar sem estragar as unhas. É que, há dois anos, Socorro concilia a rotina de faxineira com a de estudante de direito. A funcionária está no terceiro semestre do curso. Quando começou na Câmara, só tinha estudado até a quarta série do primeiro grau, o ensino fundamental de hoje, o mínimo exigido no concurso que selecionou, além de faxineiros, pedreiros, pintores, copeiros, bombeiros hidráulicos, marceneiros, eletricistas, contínuos, laboratoristas. Por mais inusitado que possa parecer, as histórias de office-boy-doutor, faxineiro-filósofo, jardineiro-professor ou garçom-administrador de empresas nas dependências da Câmara Legislativa não são nada incomuns. A professora de geografia Maria do Socorro Franco, 49 anos, também é prova disso. Além de docente, a servidora é jardineira. Aprovada em concurso pela rede pública, ela teve a oportunidade de lecionar, mas preferiu permanecer na Câmara para manter o salário e os benefícios. Vírus do bem Os casos de servidores lotados na Câmara que partiram de estágios básicos e se tornaram profissionais qualificados se espalham como um vírus do bem pelos corredores da Casa. ;Aqui tem é muita gente preparada que apara jardim, limpa banheiro, serve café;, constata José Rodrigues Oliveira, 42 anos. Ele mesmo foi um exemplo. Chefe do setor de transporte na Casa, mas quando José Rodrigues passou, em 1994, era servente do setor de limpeza. Na época, tinha só o primeiro grau. Com o tempo, José Rodrigues retomou os estudos, terminou o segundo grau (ensino médio) e entrou para a universidade. Formou-se em direito em 2007 e emendou especialização na área criminal. A desenvoltura em lidar com as leis projetou Zé Rodrigues a outras funções. Ele atuou na CPI da Grilagem de Terras, em comissão de tomada de contas e foi executor de contratos da Casa. Atualmente chefia o setor de transportes. ;O desejo de estudar e aprender foram as chaves que abriram todas as portas da minha vida;, diz o advogado.

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