Politica

Eleições 2010: terceiro mandato divide PT e PMDB

Após sofrerem pressões das cúpulas partidárias, tucanos e democratas retiram assinaturas e PEC que permite nova reeleição não emplaca. Iniciativa de peemedebista, no entanto, abre crise com os petistas

postado em 29/05/2009 08:05
Apesar de fracassada a tentativa do deputado Jackson Barreto (PDMB-SE) de apresentar ontem a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que permitiria aos chefes do Executivo duas reeleições consecutivas, a matéria acirrou os desentendimentos entre os aliados do Palácio de Planalto. Costurada nos bastidores do PMDB, ela recebeu críticas de todos os lados, inclusive de governistas. Os integrantes do PT acreditam que a proposta foi uma afronta aos planos do partido de fortalecer a candidatura da ministra Dilma Rousseff e pode desgastar a imagem do governo. Mas as motivações, segundo admitem peemedebistas simpáticos à ideia, são menos audaciosas. O que pretendem alguns dos integrantes da maior legenda do país é simplesmente forçar o governo a pensar em um plano B para a eleição do próximo ano, caso a saúde de Dilma Rousseff ; que tem se submetido a sessões de quimioterapia para combater um câncer linfático ; não permita que ela encare uma campanha eleitoral. O PMDB não pretende arriscar enfrentar uma aliança com riscos de derrota. A ele interessa permanecer com a cúpula do atual governo, que o fez uma poderosa legenda e distribuiu cargos de forma generosa. ;Tem muita gente que apoia a minha proposta. Acho que isso é uma homenagem ao governo Lula. Temos que ter alternativas e dar às pessoas possibilidades de escolher e opinar se querem continuar como está;, argumenta Barreto. Apesar de, internamente, a maioria dos peemedebistas apoiar a proposta de terceiro mandato ; e ter, inclusive, discutido o assunto em um jantar na semana passada na casa do líder da legenda, Henrique Eduardo Alves (RN) ;, o discurso público tem sido diferente. Alves disse ontem que, se Lula for contrário à matéria, não há o que ser feito para avançar na ideia. O líder, a propósito, incentivou Jackson Barreto a apresentar a proposta. Até o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), que já confessou a aliados que se preocupa com a falta de um plano alternativo do PT à candidatura da ministra Dilma, disse que não aceleraria a tramitação da matéria. O discurso dos dois peemedebistas é uma tentativa de, pelo menos publicamente, se afinar com o governo. Integrantes do PT criticaram a apresentação da proposta, alegando que a discussão sobre um novo mandato para o presidente Lula enfraquece a candidatura da ministra Dilma. O líder da legenda, Cândido Vacarezza (SP), disse não entender os motivos da insistência na ideia, uma vez que até o presidente Lula já se declarou contrário à possibilidade de permanecer no comando do país. Em resposta, Barreto dá o tom do clima tenso vivido entre integrantes das duas legendas: ;Acho que os petistas estão com pouca confiança na nossa disposição de formalizar essa aliança. Essa desconfiança de que a ideia do meu projeto tem outros interesses reflete uma falta de afinação que não deveria existir;, disse. Ameaça de expulsão Enquanto PT e PMDB acirravam os ânimos pelos corredores, a oposição agiu para tentar barrar a matéria. O PSDB foi radical. O presidente da legenda, Sérgio Guerra (PE), anunciou a intenção de expulsar os que assinaram a proposta e disparou telefonemas pedindo a retirada das assinaturas. Conseguiu. Antonio Feijão (AP), Alberto Leréia (GO), Eduardo Barbosa (MG), Rogério Marinho (RN) e Silvio Torres (SP) desistiram de apoiar a matéria. Em Minas, o governador, Aécio Neves, condenou a possibilidade de uma segunda reeleição tanto para Lula, quanto para os governadores. ;Até dois mandatos já é muito. Oito anos é um tempo muito extenso para se governar. Sou partidário da tese de mandato de cinco anos sem reeleição;, disse. Para Aécio, não há hipótese de a proposta ser aprovada. Mas se isso acontecesse, ele garantiu que não concorreria a um terceiro mandato como governador de Minas. ;A alternância do poder, mesmo que dentro de um partido, entre pessoas, é muito importante;, defendeu. No DEM, o presidente da legenda, deputado Rodrigo Maia (RJ), disse que os deputados signatários do requerimento de apoio à matéria não sofreriam sanções, mas às 23h ele havia conseguido convencer oito a desistirem do apoio ; José Maia Filho (PI), Walter Ihoshi (SP), Francisco Rodrigues (RR), Jorge Khoury (BA), Félix Mendonça (BA), Fernando de Fabinho (BA), José Carlos Vieira (SC) e Clóvis Fecury (MA),;, enterrando a proposta, pelo menos, por enquanto. Agora, a PEC retorna para o autor, o peemedebista Jackson Barreto, que terá a oportunidade de recolher novas assinaturas. É necessário um mínimo de 171 rubricas para que a proposta possa tramitar. (Colaborou Patrícia Aranha)

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