postado em 31/05/2009 08:46
Deputado federal mais votado do país, com 667,8 mil votos, ex-ministro da Fazenda de Itamar Franco e da Integração Nacional de Luiz Inácio Lula da Silva, Ciro Gomes ainda assombra os estrategistas da candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto, apesar do isolamento a que está submetido. Sua importância no jogo sucessório é apenas eleitoral, como ficou evidente na pesquisa Vox Populi encomendada pelo PT no começo do mês. Ciro aparece como um nome competitivo nos dois cenários em que entra na lista de candidatos (veja quadro), mas a preocupação maior é com o papel desagregador da base eleitoral de Lula que sua candidatura pode representar, com seu perfil nordestino e discurso à esquerda da ministra. O candidato do PSB dificulta a transferência dos votos de Lula para Dilma.
;Nós não concordamos com a tese de que a candidatura de Ciro prejudica a ministra Dilma Rousseff, ele é melhor preparado para enfrentar os tucanos. Além disso, a existência de duas candidaturas é a garantia de que teremos uma disputa em dois turnos;, argumenta o líder do PSB na Câmara, deputado Rodrigo Rollemberg (DF), um dos aliados do ex-ministro na cúpula da legenda. Outro aliado importante é o líder no PSB no Senado, Renato Casagrande (ES), que também defende a candidatura própria. A grande incógnita é o presidente do PSB, Eduardo Campos, governador de Pernambuco candidato à reeleição, que sonha com o apoio do PT em seu estado. Formalmente, Campos defende a candidatura própria, mas nos bastidores tem se queixado dos ;sumiços; e do destempero de Ciro quando entra em bolas divididas.
A grande preocupação dos petistas é com a possibilidade de Ciro inviabilizar a estratégia traçada pelo PT para unir o que chamam de ;campo democrático e popular; contra o candidato do PSDB, seja ele o governador José Serra (SP) ou o governador Aécio Neves (MG). O PT quer carimbar a oposição como ;conservadora, privatizante e entreguista;, contra a qual só haveria uma alternativa: Dilma. Para isso, a cúpula da legenda pretende abrir mão de todos os possíveis candidatos a governador, com exceção dos petistas que disputarão a reeleição, como o governador da Bahia, Jaques Wagner. ;A prioridade do PT é eleger Dilma e ampliar as bancadas no Senado e na Câmara. Para isso, vamos prestigiar os nossos aliados nos estados, inclusive do PSB;, garante o líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP).
Essa tese é música não só para os ouvidos de Eduardo Campos. A governadora do Rio Grande do Norte, Vilma Maia (PSB), sonha com essa possibilidade para sua reeleição. Até as relações de Ciro com seu irmão Cid Gomes (PSB), governador do Ceará, candidato à reeleição, estão sob tensão por causa das duas candidaturas. Além disso, Ciro tem compromisso com a reeleição do senador tucano Tasso Jereissati (CE), que apoiou Cid contra Lúcio Alcântara, então governador do PSDB.
Ciro, de fato, andou sumido. Deve chegar dos Estados Unidos no meio desta semana, depois de mais uma imersão na Universidade de Havard (onde fez pós-graduação em Economia) para aprofundar seus conhecimentos sobre a crise econômica mundial. Duas vezes candidato a presidente da República pelo PPS, em 1998 e em 2002, ele se considera mais preparado para enfrentar o PSDB, partido pelo qual se elegeu governador do Ceará em 2004. Apesar de magoado porque foi atropelado pela candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussseff, mantém fair play. Desce a lenha na oposição, elogia a ministra e jura lealdade ao presidente Lula.