Politica

Instinto de sobrevivência inviabiliza mudanças como o voto distrital

;

postado em 07/06/2009 12:40
Voto distrital e financiamento público de campanha provocam discussões acirradas e adiam a reforma política. A classe política treme que nem vara verde do voto distrital e não quer verba publica em campanha, diz o senador Pedro Simon (PMDB-RS). No alto do seu quarto mandato no Senado, sempre eleito pelo mesmo partido, Simon opina que o país já viveu momentos de melhor inspiração política e que não há disposição do parlamento em aperfeiçoar o sistema eleitoral e o funcionamento do Estado. Para o deputado federal Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), a reforma política é matéria que afeta profundamente os interesses da representação, interesses legítimos. Ele avalia que a reforma mexe no fundo na cultura política: uma representação construída com mais de 60 anos se enraiza, produz e reproduz modelos, diz o deputado, que não viu tramitar com sucesso o seu projeto de lei criando lista fechada de candidatos para eleições proporcionais e financiamento público para as campanhas eleitorais. O sistema brasileiro adota hoje o voto proporcional para deputados federais, estaduais e vereadores. As bancadas são formadas com base nos votos proporcionais nos estados e nas cidades. Com o voto distrital, o país seria dividido em distritos menores para a formação das bancadas. [ Se a falta de reforma gera frustração entre alguns parlamentares analistas políticos encaram como natural e instintiva. Para João Pedro Ribeiro, da consultoria Tendências, é muito difícil fazer com que as pessoas beneficiadas pela regra do jogo mudem as regras. Opinião semelhante tem Carlos Ranulfo, cientista político da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O parlamentar só aposta em uma mudança se não vê risco para a sua própria carreira. Isso é normal em qualquer carreira. Segundo ele, o político se pergunta ao analisar uma proposta de reforma: eu vou me sair bem com a nova regra? e será que eu me elejo?. O cientista político Edir Veiga, da Universidade Federal do Pará (UFPA), concorda que, por instinto, os parlamentares não levam adiante as discussões sobre a forma de representação e de custeio das campanhas. Uma reforma política que atinge duas áreas essenciais da organização das regras de competição como o financiamento público e a lista fechada gera muita incerteza no status quo",opina. Segundo Veiga, os deputados não arriscam o voto distrital porque não sabem quais serão os resultados e, por isso, têm horror ao voto distrital. Ele acredita que o chamado voto distrital puro, existente nos Estados Unidos, reduziria o quadro partidário a duas ou três legendas. No Pará, por exemplo, ele acha que sobreviveriam PMDB e PSDB e tem dúvida sobre o sucesso de outros partidos como PT e o DEM, com menos capilaridade no interior. Veiga explica que o voto distrital muda significativamente a representatividade e a eleição se torna paroquial. O deputado se não cuidar do seu distrito como um sindico cuida do seu prédio, será destituído na eleição seguinte, afirmou. Para ele, há o risco dos deputados se transformarem vereadores federais e poucos pensarem o país.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação