postado em 19/06/2009 08:25
Enquanto se preocupava com uma estratégia para barrar a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) destinada a investigar a Petrobras, o governo cochilou e deixou brotar silenciosamente na Câmara dos Deputados uma outra investigação que a oposição pretende usar para atingir em cheio a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, candidata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2010. Desta vez, o foco estará sobre os dois braços do setor de energia que escapam à CPI da Petrobras: a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e o Ministério de Minas e Energia, área que Dilma controlou com mão de ferro até 2005 e onde tem influência até hoje. Chamada de CPI da Conta de Luz, a comissão instalada ontem será comandado pelo deputado Eduardo da Fonte (PP-PE), um aliado do Planalto.
O que mais preocupa o governo não é o fato de um integrante da sua base ter articulado uma CPI, mas o nome escolhido para a relatoria: Alexandre Santos (PMDB-RJ), do grupo de parlamentares coordenado pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Cunha é temido pelos governistas porque ao relatar o imposto do cheque na Comissão de Constituição e Justiça foi acusado de demorar a apresentar o parecer para nomear apadrinhados para o setor elétrico. Além disso, é conhecido por arquitetar formas de pressionar o Executivo e pela influência que exerce nos integrantes da bancada do Rio.
O maior temor da cúpula palaciana é o de que os interesses em nomeações e cargos influencie os debates e a linha da nova CPI e crie feridas entre os aliados. Por isso, o governo tentou uma ofensiva de última hora para abortar a instalação da comissão. Não obteve sucesso, mas conseguiu um acordo informal. Ao responder às pressões da cúpula do Planalto para desistir da ideia, Eduardo da Fonte prometeu evitar debates sobre as questões referentes às matrizes energéticas e garantiu conduzir as investigações para o setor de distribuição, que possui uma ligação mais indireta com o governo e abre a possibilidade de culpar consórcios e empresas por possíveis irregularidades. ;Sou da base. Desistir da comissão não é possível porque desde 2007 trabalho para isso. No entanto, expliquei ao governo que a intenção será apenas investigar os contratos e as regras referentes à distribuição de energia. Vamos ser conscientes;, comenta Fonte.
A insistência do pernambucano em instalar a CPI se deve também a interesses eleitorais. Para ganhar apoio e projeção em seu estado, onde há diversos processos judiciais contra as tarifas de energia, Fonte já espalhou outdoors prometendo reduzir os valores cobrados. Uma promessa semelhante deu força na campanha vitoriosa de Eduardo Campos (PSB) ao governo.
Fogo amigo
A área que o deputado pretende investigar também não agrada ao governo, em especial, ao PT. Isso porque joga luz sobre o consórcio Neoenergia, responsável pela distribuição de energia em Pernambuco, Bahia e Rio Grande do Norte. Como é pernambucano, Eduardo da Fonte quer investigar justamente se existe um conluio entre as empresas distribuidoras e a Aneel para elevar as tarifas. Em abril, ele declarou ao Correio que ;havia uma quadrilha na Aneel;.
Integrantes da cúpula palaciana admitiram a deputados que acreditam que o objetivo da comissão vai além das preocupações e das promessas regionais feitas pelo deputado. Há quem receie, por exemplo, que a oposição use essa CPI para atingir o PT comandado por Ricardo Berzoini e a Previ, o fundo de pensão do Banco do Brasil, que participa do consórcio Neoenergia. Tudo porque o presidente do conselho diretor da Neoenergia, Joilson Rodrigues Ferreira, foi chefe de gabinete do presidente da Previ, Sérgio Rosa, e, além disso, doou R$ 2 mil como pessoa física para a campanha de Berzoini à Câmara.
Tudo o que o PT não quer é mais desgaste sobre o partido, justamente agora quando a fumaça do mensalão se dissipou. Por isso, dará aos quatro petistas que integram a CPI a missão de proteger o governo e acima de tudo a imagem da legenda.