Politica

Congresso: servidores sem consenso

Funcionários fazem mais de 200 propostas ao Sindilegis para encerrar a crise no parlamento, mas não conseguem chegar a um acordo

Ricardo Brito
postado em 20/06/2009 08:00
Não são apenas os senadores que não se entendem sobre quais medidas tomar para acabar com a crise administrativa do Senado. Os servidores da Casa não chegaram a um consenso de quais sugestões levar aos senadores para debelar o atual escândalo dos atos secretos e outras irregularidades reveladas anteriormente. Ao menos dois fatores têm afastado os 6,2 mil funcionários do Senado da proposição de soluções para a crise: o medo de futura retaliação e a briga entre facções pelo poder administrativo na Casa, depois do longo reinado do ex-diretor-geral Agaciel Maia e do ex-diretor de Recursos Humanos João Carlos Zoghbi. Um fato da semana passada mostra o real temor dos funcionários. O Sindicato dos Servidores do Legislativo Federal (Sindilegis) recebeu mais de 200 propostas dos filiados para contornar a crise da Casa. As sugestões que tivessem consenso na categoria seriam apresentadas à proposta de reforma administrativa do Senado feita em maio passado pela Fundação Getulio Vargas (FGV). O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), deu um mês para as sugestões. No encontro marcado pelo Sindilegis na terça-feira da semana passada (9), apenas três servidores compareceram para defender suas ideias. Por causa do baixíssimo comparecimento, o sindicato não remeteu à FGV as propostas da categoria. %u201COs servidores não querem se expor%u201D, avalia o presidente do Sindilegis, Magno Mello. Nesse ambiente, a entidade também tem tido dificuldades de propor qualquer sugestão para reformar a estrutura administrativa do Senado. Há o receio de o sindicato ser taxado de estar a serviço de determinado grupo. Por essa razão, a entidade ainda não decidiu se vai apresentar contribuições. Desgaste No fim do mandato do ex-presidente Garibaldi Alves (PMDB-RN), em dezembro, a entidade ficou desgastada ao ter defendido o chamado bolsa-chefia. Era um projeto que visava estender gratificações de especialização para quem não tinha qualificação profissional. Preparada pelo sindicato, a proposta acabou engavetada pela Mesa Diretora após ser revelada pelo Correio. A intenção do presidente José Sarney de colocar na internet salários, cargos e lotações dos funcionários, contudo, pode unir a categoria. A ideia, proposta pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP), foi encampada por Sarney na última terça, dia em que o presidente da Casa foi à tribuna para rebater as denúncias de atos secretos. O presidente do Sindilegis considera a medida inconstitucional. Ele entende que invade a privacidade dos funcionários. Por isso, deve conversar com Suplicy. O senador do PT, porém, disse estar convencido da mudança. %u201CSou inteiramente a favor%u201D, antecipou o petista. %u201CO povo que paga os funcionários públicos deve ter o direito de saber o quanto ganham.%u201D » Confira a íntegra do relatório da FGV (arquivos em formato pdf)
Lula sai em defesa do Senado Depois de sair em apoio a José Sarney e de criticar o que definiu como %u201Cdenuncismo da imprensa%u201D, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que a crise que atinge o Senado será resolvida pela própria Casa. Durante evento em Alta Floresta, no Mato Grosso. o presidente, bem ao seu estilo, enfatizou que os senadores são maduros o suficiente para cuidar da instituição. %u201CTodo mundo lá tem mais de 35 anos e eles vão resolver o problema%u201D, argumentou. Na terça-feira, Sarney havia dito que a crise era do Senado, e não dele. %u201CE é essa instituição que devemos preservar. Tanto quanto qualquer um aqui, ninguém tem mais interesse nisso do que eu%u201D, discursou. Em suporte, Lula disse que Sarney, em função do histórico, não merecia ser investigado como pessoa comum. Genealogia O último escândalo envolve os mais de 600 atos secretos publicados ao longo dos últimos 14 anos no Senado e que foram usados para nomear, exonerar e aumentar salários de pessoas ligadas ao comando da Casa. Sarney teve vários parentes empregados no Senado, vários deles nomeados por atos secretos. É o caso do neto João Fernando Michels Sarney e das sobrinhas Maria do Carmo de Castro Macieira, Vera Portela Macieira Borges e Shirley Duarte Pinto de Araújo. O Senado também empregou duas parentes do genro de Sarney, Jorge Murad: Isabella Murad e Virgínia Murad. Rosângela Terezinha Gonçalves, mãe do neto de Sarney João Fernando Sarney, também foi empregada do Senado. Temer nega boicote a CPI O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB), negou que o partido queira barrar a CPI da Petrobras no Senado. Foi uma resposta à notícia de que o líder do PMDB, Renan Calheiros, estaria convencendo integrantes da base a abrir mão da investigação. Ontem, 150 manifestantes ligados à CUT fizeram ato público contra a CPI em frente a uma das sedes da empresa, em São Paulo. Para eles, a CPI seria uma %u201Cmanobra da direita%u201D .

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