A intervenção da cúpula do Senado para tentar conter a crise começou a ser minada logo na partida. A iniciar pelo nome escolhido pelo primeiro-secretário, Heráclito Fortes (DEM-PI), para substituir José Alexandre Gazineo na diretoria geral. Nos últimos anos, Haroldo Tajra esteve lotado na Primeira Secretaria, foco de parte das irregularidades identificadas na Casa, principalmente no que se refere a contratos.
Para a diretoria de Recursos Humanos, a aposta é em Dóris Marise Peixoto, indicação também tachada de mais do mesmo. Nos últimos anos, Dóris passou pelo gabinete de José Sarney (PMDB-AP), além de chefiar a assessoria da ex-senadora Roseana Sarney (PMDB-MA).
Dóris entra no lugar de Ralph Campos na Diretoria de Recursos. Aliados de Sarney suspeitam que o ex-diretor do RH vinha jogando em defesa do ex-diretor-geral Agaciel Maia, alvo da investigação sobre os atos secretos, e alimentado a crise com vazamentos para desestabilizar ainda mais o ambiente. Com a chancela de Sarney, Heráclito confia na dupla para conduzir o processo.
São servidores aparentemente neutros em relação à briga de bastidores que tomou conta da Casa. A dança das cadeiras é desdobramento do escândalo dos atos secretos. Gazineo, agora ex-diretor, foi o responsável pela assinatura de uma parcela significativa das normas sem divulgação.
Para o Senado, no entanto, está difícil navegar para a calmaria. Grupos adversários começaram a atacar os novos diretores tão logo Heráclito anunciou os nomes. A notícia de que o novo diretor-geral é filho de Dib Tarja, primo de Jesus Tarja, primeiro-suplente de Heráclito e dono de emissora de tevê, circulou rapidamente pelos corredores. Além disso, Haroldo assessorou Efraim Morais (DEM-PB), antecessor de Heráclito na Primeira Secretaria. A gestão de Efraim (2005-2009) tem sido criticada pelas irregularidades na contratação de empresas, com suspeitas até de recebimento de propina por parte de funcionários.
Há dois anos, durante o escândalo que abateu Renan Calheiros (PMDB-AL) da Presidência da Casa, Haroldo foi indicado pelo ex-patrão Efraim para participar da comissão de sindicância criada para apurar denúncia de que um assessor do peemedebista teria espionado senadores adversários do alagoano. A investigação resultou em nada. Os dois novos diretores vão ficar no cargo por um período de 90 dias, podendo ser efetivados a depender da performance de cada um.
Dóris Marise, que assumirá o RH, durante uma década feudo de João Carlos Zoghbi, também não escapou de ser criticada nos bastidores, principalmente por ter trabalhado como chefe de gabinete de Roseana Sarney.
Gestor de contratos
Escolhido para comandar a Diretoria-Geral do Senado, setor que desde o início do ano já passou pela mão de dois servidores (Agaciel Maia e José Alexandre Gazineo), Haroldo Feitosa Tajra é servidor de carreira do Senado. Aprovado em concurso, tomou posse no quadro de consultores legislativos em 1995.
De lá para cá, atuou como assessor de algumas importantes comissões, como a do Judiciário, que investigou o ex-senador Luiz Estevão, e a dos Bingos. Em abril de 2003, recebeu do senador Romeu Tuma (PTB-SP) a indicação para compor a comissão de licitação da gráfica do Senado. Desde então, foi nomeado para a missão de gestor de alguns contratos da Casa. Atuou também na Alesfe, associação que reúne os consultores legislativos.
Opinião do internauta
Leitores do Correio comentam a crise no Senado
INJUSTIFICÁVEL
;Sei bem, senhor José, que você está esperando aplausos da plateia. Mas, acredite, nada mais fez do que a obrigação. É injustificável a rede de proteção criada. Se deseja aplauso, faça mais do que isso. O Brasil agradece;
Carlos Oliveira
SEM REELEIÇÃO
;Essa questão ética do Senado vem de longe. Só há um jeito de acabar com isso: não reeleja seu senador;
Marcelo Peres
MAU AGOURO
;Acho o presidente Sarney capaz de contornar a crise, mas as aves agoureiras não deixam o homem respirar;
Manoel Vieira dos Anjos
FISIOLOGISMO
;Sarney é apenas um dos inúmeros políticos oportunistas e fisiológicos que infestam o Congresso. É uma vergonha para o Senado ser presidido por um político como Sarney;
Jorge Rodrigues
PONDERAÇÃO
;Cuidado para não generalizar. Tem muita gente honesta trabalhando no Senado;
Alexandre Azeredo
DESILUSÃO
;Aquele lugar chamado Casa das Leis nada mais é que um antro de usurpadores. Voto nulo, sempre!”
Álvaro Santos