Politica

Governistas apostam no recesso para esquecer crise

Aliados de Sarney e do Planalto definem como estratégia dissipar a crise com saída de cena dos personagens principais até o início de agosto

postado em 26/06/2009 08:27
O comando político aliado a Luiz Inácio Lula da Silva e a José Sarney trabalha há dois dias uma série de ações que têm como objetivo principal tentar apagar o incêndio da crise sem a queda do presidente do Senado do cargo. A principal delas, anunciada ontem, foi o afastamento do ex-diretor do Senado, Agaciel Maia, por 90 dias. Embora tenha sido divulgada oficialmente como iniciativa do próprio Agaciel com a entrega inclusive de uma carta dele ao primeiro-secretário, Heráclito Fortes (DEM-PI), essa saída de cena foi negociada desde a terça-feira à tarde, quando os líderes cobraram a demissão de Agaciel "a bem do serviço público". Como Agaciel não admite sair execrado, afinal trabalhou pelos senadores, ficou acertado o afastamento temporário. O período coincide com o prazo que Heráclito - o escudeiro de Sarney na crise - deu para a interinidade do novo diretor-geral, Haroldo Tajra, e da nova diretora de Recursos Humanos, Dóris Marise Peixoto. E é o prazo que os próprios comandantes do Senado decidiram se dar para ver se a crise perde fôlego, período em que Sarney deve aproveitar para sair de cena, até porque, a partir de 17 de julho, o Senado estará em recesso e só volta em agosto - ou seja, não haverá plenário para pronunciamentos como o de Pedro Simon, que pediu ontem que o presidente da Casa se afaste do cargo. Sarney não quer sair e nem a cúpula do PMDB quer que ele saia. Na série de telefonemas que deu e recebeu, Sarney se referiu à série de denuncias divulgadas nos últimos quatro meses como um caso político e não de moralidade ou falta de ética. Ele inclusive divulgou uma nota para falar da informação de que seu neto, José Adriano Cordeiro, aparece com um dos intermediadores de empréstimos consignados no Senado. No texto, Sarney cita a denúncia como "uma campanha midiática" para atingi-lo, "na qual não exclui a posição política, nunca ocultada, de apoio ao presidente Lula". Em ouras palavras, resumiu tudo a uma briga por poder entre governo e oposição. E é assim que ele vê o pano de fundo de tudo o que está aparecendo na mídia. Se depender daqueles com quem tem conversado, Sarney não verá a crise de outra maneira. Isso porque, embora poucos apareçam no plenário para defendê-lo de peito aberto, o peemedebista conta nos bastidores com o apoio da maioria do PMDB, do PTB, do Democratas, e do próprio PT. E ainda tem alguns votos no PSDB. E para completar, o governo não deseja entregar o cargo para a oposição. O presidente Lula, com quem Sarney falou ontem, voltou a defender o senador, embora de forma menos contundente do que há alguns dias, quando ele disse que o peemedebista não era uma pessoa comum. "Ali no Senado todo mundo tem maioridade, todo mundo sabe o que acontece, todo mundo toma a decisão e resolve. Sarney tem que sair? Veja, o Sarney foi eleito. Os senadores elegeram ele, o Sarney tem um compromisso de fazer apuração e ele me disse que está fazendo isso. Só espero que haja apuração, só isso". Análise da notícia A ordem, por ora, é resistir Embora certos de que o lança-chamas sobre José Sarney (PMDB-AP) ainda deve ter combustível e que o noticiário dos próximos dias não dará trégua, a ordem, em princípio é de resistência. Isso porque os comandantes do Senado, em especial a parcela do PMDB e do PT, não desejam entregar o poder nas mãos da oposição, no caso, o primeiro vice-presidente Marconi Perillo (GO) e não há, entre os peemedebistas, que formam a maior bancada, um nome que possa assumir o cargo sem enfrentar o corredor polonês do desgaste. Com base nesses argumentos é que o comando peemedebista e o governo farão tudo pela permanência de Sarney, ainda que enfraquecido. Nesse quadro, os peemedebistas vão passar os próximos dias tentando se desviar dos torpedos lançados pela oposição. Eles ficaram ainda meio assustados com a intenção do PSol de levar, além de Sarney, Renan Calheiros (AL) e seu sucessor, Garibaldi Alves (RN), ao Conselho de Ética por conta dos atos secretos no Senado. Também não gostaram do tom do discurso do senador gaúcho Pedro Simon e o espaço que ele obteve ontem no noticiário de TV. A ordem, por enquanto, é atrasar ao máximo a formação do Conselho de Ética da Casa, que está desativado porque os partidos ainda não indicaram seus membros. Se precisar consumir mais dois meses com essas indicações, já que vem o recesso, será o tempo ideal para deixar como está para ver como é que fica. Só falta combinar com os demais atores dessa cena: a opinião pública, a oposição e a fogueira da crise. Pedido de afastamento Um dos parlamentares do PMDB mais respeitados, o senador Pedro Simon (RS), pediu ontem, em discurso no Senado, o afastamento do presidente da Casa, seu correligionário, José Sarney (AP). Emocionado, Simon disse que tem vergonha de andar pelas ruas, por ser constantemente questionado sobre os escândalos. Em tom crítico, disse que Sarney não tem condições de continuar presidindo o Senado, por ter ligações com o ex-diretor-geral da Casa Agaciel Maia, alvo de acusações de crime contra administração pública. "Ele escolheu o senhor Agaciel, ele criou o Agaciel e ele manteve o Agaciel. Podemos fazer um movimento para endeusar o Sarney, mas com ele fora da presidência do Senado", sustentou o senador. Opinião do internauta Leitores do Correio comentam a crise no Senado HONRA "Gostaria que surgisse um senador honrado e que pedisse que investigassem o presidente da Casa. Pelo que sei, esses diretores foram de confiança do atual presidente" João Filho CAIXA-PRETA "Por mais que eu não queira me surpreender, eu sempre me surpreendo com a caixa-preta que é o Congresso. É repugnante saber que o interesse maior do congresso é pessoal. Quando a Babel vai ser revelada?" Carlos Oliveira TRABALHO "Hipocrisia culpar o Sarney, isso vem acontecendo há mais de 20 anos. Senhores senadores, arrumem a casa e trabalhem pelo Brasil, é isso que o povo quer" Hildo Evaristo INTERESSE "Não interessa ao Lula e ao PT se o político é corrupto, desonesto, se pratica atos contra a moralidade, como o Sarney faz" Leonel Colombo

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