postado em 26/06/2009 18:13
Ao fazer nesta sexta-feira discurso no plenário em defesa do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o senador Wellington Salgado (PMDB-MG) recorreu à teledramaturgia para explicar a crise política que atinge a instituição. Irritado com as frequentes críticas por ser suplente e aliado de Sarney, Salgado disse que não quer ser um "dalit" do Senado --em referência aos integrantes da casta indiana inferior representada na novela "Caminho das Índias", da TV Globo.
"Penso que, aqui, criaram aquelas castas, segundo a novela. O suplente é um dalit, não é? Sou um dalit, um intocável, suplente é um dalit. É o pior na escala. Só que meu voto é igual ao outro. Há aquele que se acha da casta mais alta. Como é o nome da casta mais alta na Índia? É o brâmane. Mas meu votinho de dalit é igual ao do brâmane na hora de apertar o botãozinho [do painel do Senado]", afirmou.
Na semana passada, Salgado trocou farpas com o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) depois que o tucano disse que, como suplente, o peemedebista não tinha autoridade para criticar os colegas que defendem a moralização do Senado. Na ocasião, Tasso disse que "aqueles que nunca participaram de uma eleição, pensem três vezes antes de pensar sobre a opinião pública".
Salgado é suplente do ministro Hélio Costa (Comunicações), que deixou o Senado para assumir o cargo no primeiro escalão do governo --o que permitiu que chegasse ao Senado indiretamente, sem votação popular.
O peemedebista afirmou que a responsabilidade pela crise no Senado também é dos suplentes, mesmo que não corram o risco de perder o mandato. Salgado também negou ter usado atos secretos para nomear pessoas de sua confiança na Casa. "O senador Wellington, que representa Minas Gerais e que se senta na cadeira que um dia foi de Tancredo Neves, não tem ato secreto, embora muitos achem que, tendo um ato secreto, você vira um brâmane", ironizou.
Tropa de choque
Salgado é conhecido no Senado por integrar a chamada "tropa de choque" do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) no período em que o parlamentar respondeu a uma série de processos no Conselho de Ética --o que resultou na sua renúncia à presidência da Casa. Agora, Salgado também se tornou um dos mais ardorosos defensores de Sarney, com discursos que condenam as críticas ao presidente do Senado.
O peemedebista disse que o neto de Sarney, que opera empréstimos consignados firmados com a Casa, não cometeu nenhuma irregularidade. "Acho que esse menino, com a educação que teve, com título da Sorbonne, com título de Harvard, não vai se sujeitar a qualquer atitude para ganhar R$100 mil, R$150 mil. E, na conta apresentada pelo HSBC, mostrou-se que foram R$10 mil por mês, para serem divididos entre os sócios ainda. Quero dizer aqui para os senhores telespectadores, para o pai desse menino e para o avô dele que é uma covardia o que fizeram", afirmou.
Reportagem do jornal "Estado de S. Paulo" afirma que a empresa do neto de Sarney, José Adriano Cordeiro Sarney, teve autorização de seis bancos para intermediar a concessão de empréstimos com desconto na folha de pagamento do Senado. Adriano Sarney é filho do deputado Zequinha Sarney (PV-MA). O neto do presidente do Senado disse, na reportagem, que sua empresa fatura por ano menos de R$ 5 milhões.
De acordo com o jornal, José Adriano abriu a empresa quatro meses depois que o então diretor de Recursos Humanos da Casa, João Carlos Zoghbi, inaugurou assessoria para intermediar os contratos no escândalo que o afastou do cargo.