A tramitação das duas representações contra José Sarney (PMDB-AP) no Conselho de Ética do Senado vai gerar articulações intensas e desconfortos inevitáveis tanto sobre as legendas que o apoiam publicamente, como PT e PMDB, quanto sobre as que solicitaram o afastamento do presidente do Senado em nome de uma investigação isenta, caso do DEM. A estratégia do grupo que dá sustentação à permanência de Sarney na Presidência será direcionada em duas frentes. Num primeiro momento, o PMDB vai adiar ao máximo a apresentação dos nomes dos quatro integrantes da legenda que irão compor o colegiado. A ideia é retardar a efetiva criação do colegiado. Depois disso, os aliados do peemedebista precisam costurar a eleição do presidente do conselho. Caberá a ele fazer uma análise preliminar das representações. Elas podem naufragar já nessa fase, antes mesmo de serem avaliadas pelos demais integrantes. ;O Democratas terá que mostrar a cara no conselho, porque lá os votos são abertos;, avaliou um senador. O partido liderado por José Agripino (DEM-RN) anunciou, na última terça, pedido de afastamento de Sarney da Presidência durante o curso das investigações. Mas Sarney sabe que conta com aliados dentro do DEM. ;Algumas pessoas são da infantaria, outras fazem a defesa do alto do monte. Eu sou da infantaria, por isso boto a cara aqui para bater;, sustentou o senador Wellington Salgado (PMDB-MG). Desconforto Outro partido que será pressionado por conta de suas posições no Conselho de Ética será o PT. A força-tarefa iniciada ontem em prol da permanência de Sarney na Presidência do Senado foi encabeçada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Assim, o partido será obrigado a tomar frente na defesa de Sarney. Isso coloca os três representantes no colegiado em situação difícil. O líder do bloco de apoio ao governo, Aloizio Mercadante (PT), terá de assumir a orientação do partido. Já o senador Eduardo Suplicy promete independência. ;O compromisso do PT é com o Senado e com a democracia.; Os aliados de Sarney também precisam garantir maioria dos votos dentro do conselho, formado por 15 integrantes, além do corregedor do Senado, o senador Romeu Tuma (PTB-SP). ; Quem é quem no Conselho de Ética
PSDB Arthur Virgílio (AM) Marisa Serrano (MS) Virgílio é, no Senado, o maior porta-voz do movimento pelo afastamento de José Sarney da Presidência do Senado. Desde o início da crise, há quatro meses, protagoniza discursos inflamados no plenário. Já sustentou que Sarney não tem condições de permanecer à frente da Casa e é autor de uma das representações contra o peemedebista no colegiado. A senadora Marisa Serrano, por sua vez, tem estilo comedido. É avaliada pelos colegas como uma mulher ponderada nos posicionamentos. DEM Demostenes Torres (GO) Heráclito Fortes (PI) Adelmir Santana (DF) Demostenes foi um dos primeiros representantes da legenda no Senado a se posicionar publicamente pelo afastamento de Sarney durante as investigações sobre os atos secretos. Heráclito Fortes, por sua vez, é colega de Sarney e divide com ele a Mesa Diretora. Defende a não ;personalização; da crise. Adelmir Santana já foi designado para integrar o Conselho de Ética em outras ocasiões. Foi, por exemplo, vice-presidente do colegiado durante as apurações de denúncias contra o ex-presidente do Senado e atual líder do PMDB, Renan Calheiros. PT Eduardo Suplicy (SP) João Pedro (AM) Aloizio Mercadante (SP) Os integrantes do partido no conselho estão em situação delicada. De um lado está a orientação do Palácio do Planalto para por freio à crise. Do outro, o peso da cobrança do eleitorado. Aloizio Mercadante, como líder do bloco de apoio ao governo, fica com a responsabilidade de transmitir para a bancada o desejo do presidente Lula. Suplicy prega uma postura de independência nas apurações e, em carta ao presidente do Senado, sugeriu que se licenciasse. João Pedro, por sua vez, já apoiou discursos de Arthur Virgílio (PSDB-AM) em que este criticava o posicionamento de Sarney à frente do Senado. PSB Renato Casagrande (ES) O senador vive um embate com seu colega de partido, Antônio Carlos Valadares (SE). Casagrande se manifestou publicamente pelo afastamento de Sarney durante o período das investigações. Seu correligionário no Senado, porém, preferiu não emitir opinião. Casagrande defende apuração profunda no conselho sobre as denúncias contra o presidente da Casa. PTB João Vicente Claudino (PI) O PTB está na lista dos partidos que apoiam publicamente, e nos bastidores, a sustentação de Sarney na Presidência do Senado. PDT Jefferson Praia (AM) O PDT optou por solicitar o afastamento de Sarney durante o curso das investigações. Os senadores Osmar Dias (PR) e Cristovam Buarque (DF) encabeçaram a lista dos correligionários de Praia que exigiram o desligamento temporário do presidente do Senado. PMDB O partido conta com quatro vagas no Conselho de Ética e ainda não definiu as indicações. Como corroborou apoio a Sarney, deve escolher os mais simpáticos ao presidente para compor o colegiado. Nomes como o dos senadores Pedro Simon (RS) e Jarbas Vasconcelos (PE) não estão na lista de opções dos peemedebistas, já que ambos protagonizaram críticas na tribuna do Senado à gestão de Sarney.
» Ãudio: Senador Eduardo Suplicy (PT-SP) comenta a tramitação das representações contra o presidente da Casa