Quando o presidente Lula, ainda no primeiro mandato, manifestou dores no ombro devido à bursite, frascos de sebo de carneiro e arnica com óleo, alguns com instrução de uso, chegaram ao Palácio do Planalto. Desde então, a lista de presentes do petista, oferecidos por populares e autoridades, só aumenta. ;As pessoas querem agradar ao presidente da República. Aqui chega de tudo;, afirma o historiador Cláudio Soares Rocha, chefe da Diretoria de Documentação Histórica (DDH), responsável pelo acervo. No subsolo do Alvorada, um depósito climatizado de 80m; com 60 armários de aço e 32 trainéis, espécie de trilho, abriga os mimos do chefe do Executivo. E o espaço já não dá conta do acervo acumulado em quase oito anos de mandato.
Livros, audiovisuais e textos ficam guardados no Palácio do Buriti, já que a sede da Presidência está em reforma. Em seu governo, Lula formou uma biblioteca com quase 6 mil exemplares ; algumas dezenas só de bíblias. As 250 cartas diárias entregues à Presidência também são guardadas. Ao todo, 3 mil caixas conservam documentos não-oficiais enviados a Lula.
Os presentes enviados pelos correios ou entregues a assessores do presidente recebem uma mensagem de agradecimento. ;O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encarregou-nos de informar-lhe que recebeu a miniatura de jipe, confeccionado com braço da folha de buriti, e agradece a gentileza;, dizia a carta enviada em fevereiro de 2005 a um morador de Ipameri (GO), que mandou o mimo para Brasília. Presentes de autoridades também são frequentes em viagens oficiais do presidente. Todos os objetos são recebidos, catalogados e higienizados por uma equipe de 50 funcionários.
Fotos autografadas também são presentes recorrentes dados pela realeza. A lembrança foi entregue, por exemplo, pela rainha Elizabeth II e por autoridades japonesas. O rei da Arábia Saudita, no entanto, preferiu uma espada como lembrança do jantar oferecido ao governante brasileiro, há dois meses. Assim como o objeto, a ficha é rica em detalhes: ;Bainha em madeira revestida de ouro cravejado de rubis e diamantes. Na lateral desta, símbolo do governo da arábia, em ouro e diamante;, diz um trecho.
Alguns presentes podem ser agregados à decoração do Palácio da Alvorada ou ainda ganhar espaço no guarda-roupa de Lula. É o caso de chapéus panamá e camisas guaiabeiras, apreciadas pelo presidente. Artigos de vestuário, aliás, são presentes recorrentes. Cerca de 500 bonés e 170 camisas ocupam o depósito do Alvorada. Na sexta-feira, o capitão da Seleção brasileira aumentou as estatísticas: Lúcio entregou uma camisa assinada pelos jogadores que participaram da Copa das Confederações.
Compotas
Após o fim do mandato, a responsabilidade pela conservação dos objetos é entregue ao governante. A previsão é de que Lula, assim como Fernando Henrique Cardoso, crie um instituto em São Paulo ; seja em São Bernardo do Campo, seja na capital paulista. Por iniciativa do então presidente José Sarney, uma lei (1) determina o que deve ser feito com o acervo acumulado ao longo do mandato ; e até mesmo antes dele. ;A partir da diplomação do presidente, tudo o que é dele passa a ser de interesse público;, explica o chefe do DDH. Assim, a primeira bandeira do PT, confeccionada por dona Marisa e uma estilosa blusa de bolinhas usada pelo presidente na década de 1970 também fazem parte do acervo.
[SAIBAMAIS]Quando Fernando Henrique entregou a faixa presidencial ao sucessor, foram necessárias oito carretas para transportar todos os presentes. A expectativa é de que Lula precise de pelo menos 10 caminhões para levar todo o material. O cálculo não considera, no entanto, os remédios caseiros enviados após crises de bursite ; produtos perecíveis não são computados pela Presidência. Assim, ainda ficam de fora da estatística os chocolates enviados na Páscoa e compotas de doce caseiro.
LEGISLAÇÃO DOS MIMOS
A Lei n; 8394/91 determina que caso o governante decida vender os ;acervos documentais privados;, a União terá preferência de compra. O documento afirma ainda que ao fim do mandato, todo o material será entregue ao titular. As entidades públicas e privadas que abrigarem os acervos poderão solicitar assistência técnica e financeira aos órgãos públicos.