Politica

Senadores recebem diárias cheias somente para entrar e sair do avião

Marcelo Rocha
postado em 05/07/2009 09:25
Se o assunto é legislar em causa própria, os senadores se lembraram até do dinheiro repassado a eles na hora de fazer as malas e embarcar rumo a missões no exterior. Uma mudança nas normas da Casa alterou a forma de calcular a ajuda de custo, elevando a quantidade de diárias distribuídas. A decisão beneficiou, principalmente, aqueles senadores que viajam aos países sul-americanos para participar das reuniões do Mb() , instituição que somente neste ano já promoveu quatro encontros. O Correio teve acesso a um balanço de ordens bancárias relativas ao depósito do auxílio na conta dos parlamentares para custear as viagens internacionais. Entre 2007 e 2008, as despesas aumentaram 27,4% %u2014 de R$ 275,6 mil para R$ 351,2 mil. O acumulado desde 2007 somou até agora cerca de R$ 775 mil, tendo como destinatários 44 senadores, com destaque para os representantes do Brasil no Mercosul. O valor não incluiu as passagens, pagas diretamente pelo Senado à agência de turismo que atende a instituição. Segundo a tabela do auxílio hoje em vigor, o senador tem direito a diária de US$ 353 (R$ 688, na cotação do dólar comercial da última sexta-feira) quando o itinerário se restringe à América do Sul e US$ 416 (R$ 811), nas demais regiões do planeta. Até junho de 2008, nas missões estrangeiras, os senadores recebiam metade das diárias referentes aos dias de deslocamento, tanto na ida como no retorno ao Brasil. Na prática, ganhavam dinheiro simplesmente para embarcar, acomodar-se num dos assentos do avião e desembarcar no destino previsto %u2014 mesmo que o voo estivesse marcado para às 23h59 minutos. Nos demais dias da missão oficial, o senadores embolsavam a tarifa cheia. Reunida em 16 de julho daquele ano, uma quarta-feira, véspera das férias do Congresso, a Mesa Diretora modificou o sistema de pagamento. Estabeleceu o auxílio integral para todo o período da missão. Houve, portanto, acréscimo de uma diária por viagem. Além de Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), que presidia a Mesa Diretora no ano passado, assinaram o ato nº 14 Efraim Morais (DEM-PB), César Borges (PR-BA), Magno Malta (PR-ES), Papaléo Paes (PSDB-AP) e Antonio Carlos Valadares (PSB-SE). A decisão não figurou entre as normas publicadas no boletim administrativo oficial daquele dia, mas numa tiragem suplementar de mesma data. E trouxe como anexo outra medida definida pela cúpula do Senado. Na verdade, um desdobramento da primeira: %u201CAplicar a norma do ato nº 14, de 2008, às prestações de contas ora em curso, referentes aos grupos brasileiros da União Interparlamentar e do Parlamento Latino-Americano%u201D. Ou seja, mudou parâmetros para prestações de contas ainda em análise. Restituição Ouvidos pela reportagem sob a condição do anonimato, servidores que tiveram acesso a dados das prestações de contas referentes a viagens ao exterior afirmaram que, em alguns casos, havia dificuldade para %u201Cfechar%u201D os processos sem restituição de dinheiro aos cofres públicos. A decisão da Mesa Diretora, no entanto, deu um jeito nessa situação. O controle das diárias pagas pelo Senado é tarefa da Primeira-Secretaria. No ano passado, o senador Efraim Morais (DEM-PB) era o primeiro-secretário, o que lhe conferia assento na Mesa Diretora. Endossado por ele, o ato o beneficiou. Efraim é um dos nove senadores que representam o Brasil no Parlamento do Mercosul. Os demais são Aloizio Mercadante (PT-SP), Cristovam Buarque (PDT-DF), Geraldo Mesquita (PMDB-AC), Inácio Arruda (PCdoB-CE), Marisa Serrano (PSDB-MS), Pedro Simon (PMDB-RS), Romeu Tuma (PTB-SP) e Sérgio Zambiasi (PTB-RS). O mandato deles vence em dezembro de 2010. A assessoria de Efraim foi contatada na sexta-feira e informou que o parlamentar estava no interior da Paraíba, em local onde celular não funciona. O ex-presidente Garibaldi afirmou ao Correio se recordar de %u201Cassunto nessa área%u201D, mas se desculpou por não se lembrar dos detalhes para poder comentá-lo. Disse apenas %u201Cdesconfiar%u201D que a mudança foi sugerida pela Primeira-Secretaria. %u201CSei que essa coisa do %u2018eu não sabia%u2019 tem causado ainda mais desgaste ao Senado, mas realmente não tenho agora a memória sobre esse tema.%u201D Congresso Com a mudança nas regras de viagens internacionais, senadores passaram a receber diárias cheias apenas para entrar e sair do avião 1 INTEGRAÇÃO LEGISLATIVA O Parlamento do Mercosul é formado por Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela %u2014 esse último em processo de adesão. Foi criado em dezembro de 2006 e teve sua primeira sessão realizada em maio do ano seguinte. A sede fica em Montevidéu, capital do Uruguai. Tem como principal objetivo acelerar a integração entre as comunidades que integram o bloco regional. É representado por 90 parlamentares, 18 de cada país %u2014 são nove senadores e nove deputados. Eles têm mandato até dezembro de 2010. A partir daí, há previsão de que seus integrantes sejam eleitos por voto direto. Dinheiro na conta As diárias pagas aos senadores que viajaram a serviço entre janeiro de 2007 e junho deste ano. Os países que, junto com o Brasil, integram o Parlamento do Mercosul foram os principais destinos Em R$ Geraldo Mesquita (PMDB-AC) 53.039 Eduardo Azeredo (PSDB-MG) 51.291 Romeu Tuma (PTB-SP) 47.499 Magno Malta (PR-ES) 41.404 Marisa Serrano (PSDB-MS) 40.693 Heráclito Fortes (DEM-PI) 40.288 Inácio Arruda (PCdoB-CE) 33.221 Sérgio Zambiasi (PTB-RS) 31.306 Cícero Lucena (PSDB-PB) 28.904 Aloizio Mercadante (PT-SP) 28.204 Adelmir Santana (DEM-DF) 26.439 Neuto de Conto (PMDB-SC) 25.641 Eduardo Suplicy (PT-SP) 25.563 Em R$ Pedro Simon (PMDB-RS) 25.322 José Nery (PSol-PA) 23.435 Ideli Salvatti (PT-SC) 21.476 Sérgio Guerra (PSDB-PE) 18.512 Efraim Morais (DEM-PB) 17.357 Demostenes Torres (DEM-GO) 17.256 Cristovam Buarque (PT-DF) 15.857 Renato Casagrande (PSB-ES) 14.925 Fátima Cleide (PT-RO) 14.580 Leomar Quintanilha (PMDB-TO) 13.535 Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) 13.120 Marconi Perillo (PSDB-GO) 12.929 João Tenório (PSDB-AL) 11.685 Em R$ Flexa Ribeiro (PSDB-PA) 7.201 César Borges (PR-BA) 6.885 Arthur Virgílio (PSDB-AM) 6.552 Francisco Dornelles (PP-RJ) 6.515 Roseana Sarney (PMDB-MA)* 6.494 Marcelo Crivella (PRB-RJ) 6.474 Euclydes Mello (PTB-AL)** 6.190 Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) 5.054 Tião Viana (PT-AC) 4.593 Valdir Raupp (PMDB-RO) 4.388 Serys Slhessarenko (PT-MT) 3.694 Edison Lobão (PMDB-MA)*** 3.478 Flávio Arns (PT-PR) 3.245 Em R$ João Vicente Claudino (PTB-PI) 3.112 Gerson Camata (PMDB-ES) 2.359 Álvaro Dias (PSDB-PR) 2.030 Gim Argello (PTB-DF) 1.855 Renan Calheiros (PMDB-AL) 1.486 TOTAL 775.085 Obs: * Renunciou ao mandato em abril deste ano para assumir o governo do Maranhão ** Suplente de Fernando Collor *** Licenciado desde janeiro do ano passado para comandar o Ministério de Minas e Energia Fonte: Execução Orçamentária do Senado

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação