postado em 17/07/2009 08:00
O abraço entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o rival nas eleições de 1989, o senador alagoano Fernando Collor (PTB), na última terça-feira, não diminuiu o apoio da estudante Priscilla Rodrigues da Silva, 23 anos, ao chefe do Executivo. Ela também não fez parte do grupo que gritava ;Fora, Sarney; em frente ao Centro de Convenções Ulyssses Guimarães, onde, ontem, ocorreu a abertura do 51; Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE). ;Eu sou Lula fanática. A presença dele aqui prova que o movimento estudantil é sério e responsável;, defende Priscilla, que estuda administração em um projeto de extensão da Universidade Federal de Alagoas criado pelo presidente.
O petista foi o primeiro presidente da República a participar de um congresso da UNE em 71 anos de história da entidade. Ele compareceu ao evento acompanhado de 11 ministros, entre os quais Orlando Silva (Esportes), que já presidiu a entidade estudantil; e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Sob aplausos dos cerca de 3 mil presentes no evento e aos gritos de ;Lula, guerreiro do povo;, o presidente iniciou seu discurso: ;Vocês vieram aqui para trabalhar ou gritar?;, alfinetou.
A brincadeira dá o tom da aproximação entre Lula e o movimento estudantil. Fato que, segundo a presidente da UNE, Lúcia Stumpf, não interfere na independência da entidade ;Nós não temos uma aliança com o governo. A UNE nunca se aliou a um poder instituído;, rebateu a jovem, apesar de os números sugerirem o contrário. Nos primeiros seis meses de 2009, a instituição recebeu R$ 2,49 milhões ; 54% a mais de recursos federais em comparação ao repasse de todo o ano passado (R$ 1,61 milhão). Na contramão do apoio financeiro, Lula reforçou o papel independente do movimento estudantil. ;Vocês são uma entidade com autonomia. Na hora que vocês não concordarem, é para dizer na minha cara. Não tem nenhum problema;, garantiu Lula.
Proximidade
A proximidade de Lula com a UNE, no entanto, extrapola o momento atual e remonta à época em que o presidente era sindicalista. ;Ele tem uma relação muito antiga com o movimento. A presença dele aqui é uma continuidade;, afirmou o deputado Aldo Rebelo (PCdoB;SP), que liderou a UNE em 1980. Naquele ano, segundo o parlamentar, Lula também participou do congresso da entidade.
; Momentos históricos
1937
Em 11 de agosto, o então Conselho Nacional de Estudantes criou, na Casa do Estudante do Brasil, no Rio de Janeiro, uma entidade para unir todos os estudantes do país. Nascia a União Nacional dos Estudantes (UNE).
1964
A sede da UNE na Praia do Flamengo foi invadida e queimada por militares. A entidade passou a atuar na ilegalidade. Na foto, José Serra, então presidente da UNE, discursa para colegas.
1968
Os principais dirigentes da entidade foram presos em uma grande operação repressiva do Estado, durante o 30; Congresso da UNE, em um sítio próximo à cidade de Ibiúna (SP). Cerca de mil estudantes participavam do encontro clandestino.
1977
Manifestações contra a ditadura militar provocaram reação dura do governo: no mês de junho, a polícia invadiu a Faculdade de Direito da USP e, em seguida, a PUC. Foram presas 854 pessoas.
1979
Em maio, 10 mil estudantes participaram do Congresso de Reconstrução da UNE, em Salvador. O evento ocorreu em espaço cedido pelo então governador do estado, Antônio Carlos Magalhães. Na foto, representantes da UNE se reúnem com alunos da UnB para referendar as recomendações do congresso na capital baiana.
1992
A UNE tomou a frente dos protestos que exigiam o impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello. Milhares de estudantes ; chamados de ;caras-pintadas; ; foram às ruas participar do movimento Fora, Collor.