Politica

Gravações ligam Sarney a Agaciel e a atos secretos

postado em 22/07/2009 08:15
Uma sequencia de diálogos gravados pela Polícia Federal (PF) com autorização judicial, durante a Operação Boi Barrica, revela a prática de nepotismo explícito pela família Sarney no Senado e amarra o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), ao ex-diretor-geral Agaciel Maia na prestação de favores concedidos por meio de atos secretos. Em uma das conversas, o empresário Fernando Sarney, filho do parlamentar, diz à filha, Maria Beatriz Sarney, que mandou Agaciel reservar uma vaga para o namorado dela, Henrique Dias Bernardes. Em conversa com o filho, alvo da investigação, Sarney caiu na interceptação. Segundo a gravação, o senador se compromete a falar com Agaciel para sacramentar a nomeação. O namorado da neta foi nomeado oito dias depois, por ato secreto.
[SAIBAMAIS]
Segundo a PF, a mobilização da família começa na tarde de 30 de março de 2008, quando a neta do senador liga para o pai, indagando se não dava ;pro Henrique (seu namorado) entrar na vaga;. Bernardo Brandão Cavalcanti Gomes, irmão de Bia por parte de mãe, acabara de pedir demissão do Senado, onde estava desde 2003. ;Podemos trabalhar isso, sim;, respondeu Fernando à filha.

Já na primeira conversa, Fernando demonstra conhecer o caminho para efetivar a nomeação. ;Amanhã de manhã cedo tu tem que me ligar, pra eu falar com Agaciel;, diz. Ele se referia a Agaciel Maia, o então todo-poderoso diretor-geral do Senado, alçado ao posto em 1995 pelas mãos de José Sarney, em sua primeira passagem pela presidência da Casa. No diálogo, pai e filha tratam da vaga como se fosse propriedade da família. Fernando cumpre o prometido. No dia seguinte, diz: ;Já falei com o Agaciel. Peça ao Bernardo pra procurar o Agaciel.; E passa a relatar a conversa com o diretor-geral. ;Eu disse: mas pelo menos, ô Agaciel, segura a vaga.

Segundo Fernando, Agaciel lhe pediu que conversasse sobre o assunto com Sarney, porque a nomeação dependia, formalmente, da chancela de Garibaldi Alves (PMDB-RN), à época presidente do Senado. ;Eu vou falar com o papai ou mesmo com o Garibaldi amanhã aí em Brasília, quando eu for, amanhã ou depois, pessoalmente, porque é o único jeito de resolver.; Fernando finaliza o telefonema dando uma orientação à filha - ao pedir para levarem a Agaciel o currículo do namorado de Bia, ele pede para informar: ;Ó, a pessoa que o Fernando quer botar é essa aqui.

Foram quatro dias de troca de telefonemas até o assunto ser resolvido. No terceiro dia, Bia liga para Fernando. Diz que o irmão, de saída do Senado, já tinha ido até Agaciel, conforme orientação do pai. O ex-diretor não ficara com o currículo do namorado, repetindo o discurso de que era preciso, primeiro, autorização de Garibaldi. Fernando recorre, então, a um atalho: ;Vai lá em casa hoje à noitinha, e entrega pro ajudante de ordem do seu avô, ou o Picollo ou o Aluísio, o currículo do Henrique;, orienta. A neta entende que era preciso de uma mãozinha do avô.

Sarney
No dia seguinte, 2 de abril de 2008, quarta-feira, Fernando pega o telefone e liga para um dos ajudantes de ordem de Sarney, Aluísio Mendes Filho, e explica a situação. Ele queria que o pai desse a ordem a Agaciel para efetivar a nomeação.

A explicação de Fernando é o resumo de uma confissão do nepotismo: ;O irmão da Bia, quando papai era presidente do Senado, eu arrumei um emprego pra ele lá. Ele agora tá saindo e eu liguei pro Agaciel pra ver a possibilidade de botar o namorado da Bia lá, porque me ajuda, viu, é uma forma e tal de dar uma força pra mim. E o irmão tá saindo, é uma vaga que podia ser nossa.; No fim, ele diz o que faltava para a nomeação: ;Uma ligação de papai pro Agaciel.;

Menos de uma hora depois, o próprio Sarney liga para o filho. ;Olha, você não tinha me falado o negócio da Bia;, protesta. Na visão do senador, a demissão não deveria ter sido solicitada até que a nomeação do namorado de Bia estivesse resolvida. ;Mas ele (Bernardo) entrou logo com um pedido de demissão;, reclama. Sarney pergunta: ;Já falou com Agaciel?; Recebe uma resposta afirmativa e promete interceder. ;Tá bom. Eu vou falar com ele.;

A conversa entre pai e filho se deu às 10h32 de 2 de abril, segundo a PF. No dia 10 do mesmo mês, foi assinado o ato que nomeou Henrique, namorado de Bia, para assessor parlamentar 3, com salário de R$ 2,7 mil.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação