Pressionado a deixar o cargo, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), sinalizou a aliados que não pretende tomar nenhuma decisão sobre sua permanência antes do fim do recesso parlamentar em agosto. Sarney resiste em se afastar e garante que tem sustentação política na Casa. Segundo o mapeamento realizado por aliados, o peemedebista ainda contabiliza o apoio de 45 senadores.
A preocupação dos aliados do presidente do Senado, no entanto, é se esses apoios serão confirmados tendo em vista que pelo menos 30 desses senadores vão passar por um recall nas urnas na disputa eleitoral de 2010. O receio é que eles sejam cobrados pela sustentação do peemedebista e recuem.
Este foi o segundo levantamento feito pelos aliados de Sarney desde que surgiram os pedidos para que ele se afastasse temporariamente do comando do Senado e registra uma queda no número de apoio. No início da crise política, Sarney avaliava que, mesmo com a ofensiva do DEM, PSDB, PDT e PSOL --que cobraram publicamente sua saída--, contava com o apoio de 54 dos 81 senadores da Casa.
Os números reforçam a ideia dos senadores ligados a Sarney de trabalhar para enterrar as denúncias contra o presidente do Senado no Conselho de Ética da Casa. Por lá, o cenário seria de nove votos favoráveis ao peemedebista contra seis pela abertura de processo para investigar se houve quebra de decoro parlamentar --sem contar que o colegiado está nas mãos do senador Paulo Duque (PMDB-RJ), que tem a prerrogativa do cargo de poder arquivar sumariamente as denúncias.
Sarney coleciona quatro denúncias e uma representação no Conselho de Ética. A última reclamação leva em consideração a divulgação de áudios de interceptações telefônicas realizadas pela Polícia Federal que indicariam que Sarney negociou a contratação de Henrique Dias Bernardes, namorado de sua neta, para integrar o quadro de servidores da Casa.
Ele também já foi denunciado pelos atos secretos, pela suspeita de que teria interferido a favor de um neto que intermediava operações de crédito consignado para servidores do Senado e também pela acusação de ter usado o cargo para interferir a favor da fundação que leva seu nome.
A estratégia dos senadores próximos ao presidente do Senado é enterrar parte das denúncias utilizando o regimento do Conselho de Ética. De acordo com as normas do conselho, as denúncias devem ser arquivadas quando os "fatos relatados forem referentes ao período anterior ao mandato".
Das cinco denúncias entregues ao conselho contra o peemedebista, três têm como foco fatos que ocorreram antes de Sarney ser reeleito em 2006, o que serviria de argumento para Duque não avançar nas investigações. Segundo os aliados, Sarney resiste em permanecer no cargo porque que tem prestígio entre os colegas e por acreditar que boa parte dos colegas tenderia a absolvê-lo porque já esteve envolvida em situação semelhante. Em conversas reservadas, Sarney tem dito que se afastar da presidência seria humilhante.