; PT tenta não parecer enquadrado
O PT vive um paradoxo. Está constrangido, mas não vê saída senão defender o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), envolvido em uma série de denúncias por ter sido beneficiado por desmandos administrativos de aliados. Para não parecer tão enquadrado, o partido não pretende recuar da defesa do afastamento de 30 dias do peemedebista do cargo mais alto do Congresso Nacional. Mesmo assim, abraçou a ordem expressa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ser um ponto de referência de Sarney no Conselho de Ética.
O PT gostaria apenas que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva diminuísse o tom do discurso pró-Sarney. O argumento é, na verdade, um temor: a defesa desmedida poderia ferir a popularidade de Lula e colocar buracos desnecessários na sucessão do ano que vem.
Petistas dizem que a aliança com o peemedebista maranhense eleito pelo Amapá é tão forte que o presidente não deixará de estender-lhe a mão, mas avaliam que o presidente poderia evitar os comentários sobre o Senado e se fixar no debate sobre o governo. Nas palavras de um deputado, falar todo o dia sobre a crise do Sarney só cria desgastes.
Conselho de Ética
Os senadores do PT no Conselho de Ética, que julgarão quatro denúncias contra Sarney, têm orientação de defendê-lo. Para evitar exposição demasiada, no entanto, evitam comentar a situação política do presidente da Casa, mesmo depois de ele ter sido flagrado em conversa telefônica discutindo com o filho Fernando Sarney qual destino dar a um cargo no Senado. A escuta telefônica da Polícia Federal é o indício mais forte que liga o senador peemedebista aos atos secretos que até agora só pesaram em cima da antiga cúpula administrativa da Casa.
O presidente Lula buscou ontem minimizá-lo. ;Não podemos tratar tudo como se fosse um crime de pena de morte;, disse. ;É preciso saber o tamanho do crime. Uma coisa é você matar, outra coisa é você roubar, outra coisa é você pedir emprego, outra coisa é relação de influência, outra coisa é o lobby. Tem que fazer as investigações corretas;, comentou o presidente em entrevista à Rádio Globo. ;O que precisamos é não cometer um crime antecipado;, sustentou. O presidente da República voltou a defender a permanência de Sarney na cadeira principal do Congresso. ;Não posso entender que cada pessoa que tenha denúncia precise renunciar antes de ser julgada, investigada;, completou. (TP e DR)