postado em 24/07/2009 08:00
O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), interrompeu o recesso e foi pessoalmente a Brasília. A missão dele é comandar a operação no sentido de desarmar qualquer antecipação da reunião do Conselho de Ética ou atitude que possa jogar lenha na fogueira (1)acesa sob a cadeira do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). A primeira ordem de Renan foi um toque de recolher: ninguém se move até 3 de agosto. Até lá, dizem os peemedebistas, é ;aguentar o tranco;, trabalhar nos bastidores e se preparar para a guerra entre os grupos da Casa, em agosto.A primeira investida dos aliados de Sarney pesa sobre o líder do PSDB Arthur Virgílio, que, nos últimos tempos, coleciona denúncias contra Sarney no Conselho de Ética da Casa. Os peemedebistas se lembram, por exemplo, do episódio envolvendo a mãe do senador amazonense: ;Se algum senador sugerir ao Conselho de Ética que faça arguição a Agaciel Maia por ter concedido despesas de R$ 723 mil à mãe de Arthur Virgílio e esse senhor Agaciel disser que autorizou por pressão de Virgílio, ele terá que largar o mandato;, comentou o senador Lobão Filho (PMDB-MA), que ontem foi prestar solidariedade a Sarney.
[SAIBAMAIS]A declaração dele é uma amostra de que o trabalho de bastidores, que era para tentar chegar a um acordo, transformou-se numa preparação para a guerra. Cada grupo joga com o que tem e os aliados de Sarney se armam contra os adversários, reunindo fatos que poderiam constranger opositores. O senador Wellington Salgado (PMDB-MG), por exemplo, não esconde que se debruçou sobre as últimas decisões do Senado para saber onde e como os acusadores de Sarney potencialmente cometeram deslizes ou irregularidades. As miras estão voltadas contra Demóstenes Torres (DEM-GO) e os tucanos Tasso Jereissati (CE), Arthur Virgílio e Sérgio Guerra (PE).
Apoio tem limite
Paralelamente, os aliados tentam manter o apoio do PT do presidente Lula a Sarney. A amigos, Lula já deixou escapar que suas declarações em favor do presidente do Senado têm limite. Não é à toa que, nos últimos dias, embora tenha feito discursos em favor de Sarney, as falas foram menos contundentes do que aquelas do início de junho, quando afirmou que Sarney não era uma pessoa comum. Seus mais fiéis aliados garantem que Lula tem dito, em conversas reservadas, que o Senado deve resolver seus problemas sem a interferência do Executivo.
A intenção dos aliados de Sarney em segurar o apoio do PT é no sentido de garantir o fôlego capaz de barrar os processos contra Sarney no Conselho de Ética, o principal cenário da batalha. Ontem, Renan recomendou a escudeiros que não interfiram no rumo natural dos fatos e impeçam sessões emergenciais do Conselho de Ética, como gostariam os algozes de Sarney. ;O presidente Sarney está sendo bombardeado por todos os lados. Nós não sabemos o que poderá vir amanhã e sabemos que as denúncias são como uma espiral, elas não param. Temos que aguardar;, disse o senador Almeida Lima (PMDB-SE).
Hoje, os aliados avaliam que Sarney chegou a uma situação parecida com aquela pela qual Renan passou há dois anos, quando perdeu a Presidência do Senado e preservou o mandato. Só que Sarney não demonstra disposição de depor as armas. E nem seus aliados querem o recuo. Até agosto, fica tudo como está.
1 - GREVE DO BIGODE
Um blog na internet decidiu tratar com irreverência a crise que assola o Senado. Os autores do blog, os publicitários Ricardo Silveira e Viton Araújo, iniciaram uma campanha pela saída de José Sarney (PMDB-AP) da presidência da Casa chamada de ;greve do bigode;. O slogan é ;Só tiro o meu quando o Senado tirar o dele; e sugere que os internautas deixem crescer o bigode e só o cortem se Sarney deixar o cargo. A repercussão foi tamanha que até o periódico inglês The Guardian noticiou o fato. A campanha pode ser acessada em
; PT tenta não parecer enquadrado
O PT vive um paradoxo. Está constrangido, mas não vê saída senão defender o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), envolvido em uma série de denúncias por ter sido beneficiado por desmandos administrativos de aliados. Para não parecer tão enquadrado, o partido não pretende recuar da defesa do afastamento de 30 dias do peemedebista do cargo mais alto do Congresso Nacional. Mesmo assim, abraçou a ordem expressa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ser um ponto de referência de Sarney no Conselho de Ética.
O PT gostaria apenas que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva diminuísse o tom do discurso pró-Sarney. O argumento é, na verdade, um temor: a defesa desmedida poderia ferir a popularidade de Lula e colocar buracos desnecessários na sucessão do ano que vem.
Petistas dizem que a aliança com o peemedebista maranhense eleito pelo Amapá é tão forte que o presidente não deixará de estender-lhe a mão, mas avaliam que o presidente poderia evitar os comentários sobre o Senado e se fixar no debate sobre o governo. Nas palavras de um deputado, falar todo o dia sobre a crise do Sarney só cria desgastes.
Conselho de Ética
Os senadores do PT no Conselho de Ética, que julgarão quatro denúncias contra Sarney, têm orientação de defendê-lo. Para evitar exposição demasiada, no entanto, evitam comentar a situação política do presidente da Casa, mesmo depois de ele ter sido flagrado em conversa telefônica discutindo com o filho Fernando Sarney qual destino dar a um cargo no Senado. A escuta telefônica da Polícia Federal é o indício mais forte que liga o senador peemedebista aos atos secretos que até agora só pesaram em cima da antiga cúpula administrativa da Casa.
O presidente Lula buscou ontem minimizá-lo. ;Não podemos tratar tudo como se fosse um crime de pena de morte;, disse. ;É preciso saber o tamanho do crime. Uma coisa é você matar, outra coisa é você roubar, outra coisa é você pedir emprego, outra coisa é relação de influência, outra coisa é o lobby. Tem que fazer as investigações corretas;, comentou o presidente em entrevista à Rádio Globo. ;O que precisamos é não cometer um crime antecipado;, sustentou. O presidente da República voltou a defender a permanência de Sarney na cadeira principal do Congresso. ;Não posso entender que cada pessoa que tenha denúncia precise renunciar antes de ser julgada, investigada;, completou. (TP e DR)