postado em 28/07/2009 08:48
O PT começou uma verdadeira guerra interna no que se refere ao apoio ao presidente do Senado, José Sarney (PT-SP). De um lado, o líder do partido, Aloizio Mercadante (SP), e a ala de senadores que não vê a hora de eleger um dos seus para comandar a Casa. De outro, o governo Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, e todos aqueles que veem uma tempestade muito pior à frente, caso a bancada petista abandone Sarney à própria sorte. O último movimento público do partido sobre o caso, a nota de Mercadante, foi o estopim dessa crise.
[SAIBAMAIS]
O líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), saiu em defesa do presidente do Senado, na linha oposta àquela que Mercadante defendeu na sexta-feira. ;Apoio integralmente a posição do presidente Lula contra o afastamento do presidente Sarney. E por várias razões. Primeiro, Sarney está investigando tudo. E, em segundo lugar, a movimentação do Senado deveria ser no sentido de aprofundamento da ética com investigação de tudo, no que se refere à Casa, inclusive todos os demais casos. E não uma campanha generalizada contra o presidente Sarney;, disse Vaccarezza.
Mercadante afirmara na nota que considerava grave o teor das conversas do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, porque levantavam ;indícios concretos da associação do presidente do Senado, José Sarney, em ato secreto de nomeação do namorado de sua neta;. E, mais uma vez, reforçou a posição da bancada pelo afastamento de Sarney da Presidência da Casa. Vaccarezza não titubeou ao falar do assunto: ;Uma coisa é a investigação que a Polícia Federal faz dos negócios do empresário. Outra coisa é o mandato do presidente Sarney;, diz Vaccarezza, partidário da tese de que Sarney não mandaria fazer um ato secreto e, a rigor, os diálogos publicados não revelam isso claramente.
Ministros
Ontem, depois de Berzoini declarar ser contra o afastamento de Sarney, a reunião da coordenação do governo, comandada pelo presidente Lula e com a presença de vários ministros ; como Paulo Bernardo (Planejamento), José Múcio Monteiro (Relações Institucionais), Guido Mantega (Fazenda) ; reforçou o apoio ao peemedebista. ;Avaliamos que essa nota não é o pensamento do PT;, disse Múcio.
Na reunião, Lula disse que não é hora de fazer mais marola no Senado. Ele acha que seus senadores devem ajudar a resolver e não editar notas, como se fosse oposição ao PMDB. Ali, discutiu-se ainda a CPI da Petrobras, onde o governo deseja usar a sua maioria para enterrar qualquer pedido de investigação que extrapole os limites das denúncias listadas no documento oficial de criação da Comissão Parlamentar de Inquérito. Ocorre que o governo só terá uma maioria para chamar de sua dentro dessa CPI se o PMDB ficar ao seu lado. E, para garantir esse apoio do PMDB, o PT terá que dar a sua contrapartida, apoiando Sarney ou ficando à margem dessa discussão, deixando o papel de protagonistas nessa briga para o PMDB e a oposição.
Na próxima semana, o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), ingressa com representação oficial do partido contra Sarney no Conselho de Ética do Senado. Até então, a única representação formal foi a do PSol, que também é oposição. <-- --> <--
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--> <-- --> Personagem da notícia Contra a maré <--
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--> <-- --> O senador Aloizio Mercadante (SP) é tido hoje na cúpula petista como alguém que não deu sorte. Ele assumiu o cargo de líder da bancada em fevereiro, num clima perfeito para projetar a sua campanha pela reeleição em São Paulo. Prometeu fortalecer o PT e concentrar esforços na redução dos efeitos sociais da crise econômica internacional, como a criação de empregos, tema que defende com paixão e desenvoltura. De crise, esperava, no máximo, ter de enfrentar CPIs, como a da Petrobras, onde o governo tem um discurso da valorização do estado na ponta da língua. Seus planos ruíram com a crise do Senado e, antes mesmo que Sarney pensasse em deixar a Presidência da Casa, circulou a informação de que Mercadante cogitou deixar o cargo de líder. A notícia circulou dias depois da reunião de Lula com os senadores do PT, no final de junho. Ali, o senador paulista insistiu na posição da bancada de afastamento temporário de Sarney, enfrentando Lula, que pregou o apoio e tentou enquadrar a bancada. O clima ficou tenso, mas a situação foi contornada. No dia seguinte, com uma fisionomia que não escondia o seu descontentamento, Mercadante relatou aos jornalistas o que Lula havia dito e fechou o pronunciamento com a posição da bancada, pelo afastamento de Sarney. Lula não gostou. E, ontem, reclamou da nota editada sexta-feira por Mercadante que, mais uma vez, afasta o líder petista do governo. ;Pra quê essa nota?;, reagiu Lula. Muitos petistas reclamam que Mercadante pensa mais em si e na sua eleição em São Paulo do que na felicidade geral do governo Lula. Na oposição, os senadores brincam com o jeitão do petista em plenário. Basta algum senador passar por Heráclito Fortes (DEM-PI) e não cumprimentá-lo, para ouvir logo um ;bom dia, Mercadante!” É que, às vezes, o petista está tão entretido em seus pensamentos e problemas que passa reto pelos colegas. E ali, na confraria do Senado, só escaparam aos olhos os atos secretos.