postado em 29/07/2009 08:00
Cansado de ser tratado como o senhor do destino do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) , o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu enfraquecer o jogo: os mais fiéis escudeiros, dentro e fora do governo, passaram ontem a disseminar a avaliação de que o futuro do peemedebista depende agora apenas do próprio peemedebista. Se o senador desejar continuar na Presidência da Casa e disposto a aguentar os solavancos, o governo federal fará tudo o que estiver ao seu alcance para ajudá-lo no quesito apoio político. A avaliação de governadores e de ministros de Lula, no entanto, é a de que, do ponto de vista pessoal, Sarney não terá fôlego para suportar a tempestade, embora, nos últimos dias, ele não tenha dado qualquer sinal nesse sentido.Ontem, por exemplo, Sarney contactou o presidente da Câmara, Michel Temer (SP), em busca de ajuda para tentar contornar a situação dentro do PSDB. A ordem era aproveitar os laços de Temer com o PSDB paulista ou alguém que pudesse ponderar para que os tucanos reconsiderassem a declaração de guerra que significa entrar no Conselho de Ética com três representações contra Sarney, tema que o líder do Senado, Renan Calheiros, também discutiu com o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE).
Emprego
Nas conversas, os argumentos dos peemedebistas foram os de que o presidente da Casa não cometeu nenhum crime ao pedir emprego para o namorado da neta, no fato de outro neto operar crédito consignado no Senado e nem mesmo em relação à fundação Sarney ; os três assuntos que o PSDB incluiu nas representações encaminhadas ao Conselho de Ética. Como último apelo, lembraram que não dá para buscar o segundo turno para presidente do Senado. Todas as perspectivas de acordo com os tucanos fracassaram e, agora, Sarney depende do que dirá o presidente do Conselho de Ética, o primeiro campo de batalha.
[SAIBAMAIS]Governadores aliados do presidente Lula acreditam que o governo aguentará a crise e não abandonará Sarney, mas desconfiam que o presidente do Senado acabará por optar sair da cadeira para preservar a própria família. ;Eu não sei se ele vai ter vontade de ficar recebendo pancada todo dia;, afirmou um deles.
; Receio do eventual sucessor
O maior problema dos sarneyzistas e do governo hoje é a insegurança sobre a sucessão. Diante do clima de instabilidade que reina sobre o Senado, ninguém arrisca um palpite sobre resultados de uma eleição para presidente da Casa. Governadores da base governista de Lula avaliam, inclusive, que esse é um dos motivos para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não romper o apoio ao senador José Sarney (PMDB-AP), mesmo com as denúncias.
A avaliação é que a saída do peemedebista poderia abrir uma brecha de instabilidade no Senado já que o sucessor interino seria o tucano Marconi Perillo (GO), primeiro-vice-presidente do Senado. Lula, depois de dar declarações de apoio explícito a Sarney, amenizou o tom depois de ser aconselhado por seus auxiliares.
Desgaste
Em Campina Grande (PB), Lula cobrou dos senadores uma solução para a crise no Senado. ;Não é possível que as pessoas permitam que a instituição vá sofrendo um desgaste, um desgaste, um desgaste, porque isso mata as pessoas e mata a instituição;, disse o presidente, em entrevista a uma rádio paraibana.
Lula disse que o Senado tem ;maioridade; para resolver seus problemas. ;O que não pode é deixar a coisa esticar, esticar, esticar, porque a cada dia, se você tem uma novidade, por menor que ela seja, no jornal, você vai criando um desgaste da instituição;, afirmou. Assim como seus aliados, o presidente cobrou que a resposta dos senadores comece a ser dada logo na próxima semana. ;Quando voltarem do recesso, os senadores têm que se reunir e têm que dizer o que eles querem para o Senado;, disse Lula. (DR e TP)
; Contratos
A turbulência em torno do presidente do Senado se aprofundou com a revelação de que ele teria se envolvido na contratação de parentes por meio de atos secretos. Mas ele também é alvo de denúncia de desvio de dinheiro de patrocínio da Petrobras na fundação que leva seu nome no Maranhão.