Politica

Empresário que montou equipe para salvar imagem de Sarney participou da campanha de Collor em 1989

Conversas telefônicas gravadas mostram que servidor cedido pelo Planalto ao presidente do Senado usava contatos na Polícia Federal para municiar grupo liderado pelo filho do peemedebista no Maranhão

Ricardo Brito
postado em 29/07/2009 08:05
Fachada do prédio onde funciona o escritório de Álvaro LinsO consultor Álvaro Lins Filho, 60 anos, é o responsável por coordenar a equipe de jornalistas de contrainformação do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). O grupo a serviço de Álvaro(1), conhecido no mercado por ter participado em 1989 da vitoriosa campanha presidencial de Fernando Collor de Mello, ocupou nas últimas três semanas pelo menos duas salas do terceiro andar no shopping Deck Norte, no Lago Norte. Ontem pela manhã, os profissionais contratados foram convocados para reunião de emergência com Álvaro, depois que o Correio revelou a existência do trabalho.

O encontro ocorreu na residência de um dos coordenadores da equipe, numa casa na 709 Norte. Durante a reunião, o consultor reforçou aos presentes a necessidade do sigilo do trabalho. O contrato, um dos poucos documentos assinados pelos funcionários, previa o anonimato das tarefas. Álvaro chegou a alertar a todos que a reunião era o momento para que os insatisfeitos com o serviço deixassem o trabalho. No encontro pela manhã, o consultor minimizou, em tom sarcástico, o vazamento de parte das informações. Disse que não seria motivo suficiente para encerrar as atividades.

O trabalho de contrainformação teve sua primeira vítima já na noite de segunda-feira, na véspera da reportagem do Correio. Um dos coordenadores se desligou do grupo, sob suspeita de ter sido o responsável por vazar as informações.

[SAIBAMAIS]Uma fonte ouvida pela reportagem afirmou que não há nenhum contrato formal ou recibo que identifique o tipo de serviço prestado e qual a respectiva empresa do trabalho. A única referência existente é o vínculo com o registro de um endereço eletrônico da internet, o piguara.com. Uma pesquisa na internet identifica ;Alvaro Lins; como o responsável pelo domínio. O registro do domínio traz um endereço residencial na 105 Sul e, em contato telefônico, a reportagem encontrou Darlene, que se identificou como mulher do consultor. O jornal deixou recado com ela para falar com Álvaro, mas ele não retornou às ligações. Após ter sido informada do teor da reportagem, Darlene disse que Álvaro não tem qualquer ligação com José Sarney. A reportagem também deixou ontem recado no celular dele.

Apesar do sigilo do trabalho pedido por Álvaro, um dos integrantes da equipe, o publicitário Arnaldo Queiroz Filho, divulgou num banco de currículos na internet (LinkedIn) que trabalha para a piguara.com no Deck Norte desde junho deste ano. Uma fonte confirmou ao Correio que o publicitário faz parte da equipe.

Comentários
A reportagem obteve cópia de uma das planilhas de intervenção feita pela equipe. Em três páginas, constam 281 intervenções feitas pelos profissionais. Os jornalistas têm como foco publicar comentários favoráveis a Sarney em blogs de jornalistas políticos e nas redes sociais, como Orkut e Twitter.

A estratégia de contrainformação foi ligeiramente alterada ontem. A página do Twitter guarnice_ma publicou reportagens de políticas aleatórias, não necessariamente ligadas ao presidente do Senado. Os relatórios com reportagens publicadas sobre Sarney continuaram a ser feitos ontem, mas, segundo uma fonte, a equipe se reuniu no segundo andar. A reportagem foi até o terceiro andar, mas foi informada por uma funcionária que Álvaro não estava.

Na segunda-feira à tarde, no próprio Deck Norte, a reportagem entrevistou o consultor. Na ocasião, ele negou ter qualquer tipo de vínculo com o presidente do Senado ou pessoas próximas a ele, como assessores. ;(Não tenho) nenhum tipo de contrato nem com ele (Sarney), nem com a família. Nem contato;, afirmou, em entrevista gravada. Álvaro disse que está montando um negócio em Brasília com vistas a captar clientes para a campanha eleitoral de 2010. Não revelou se já conseguiu algum cliente. Disse que tem arcado com os custos do trabalho do próprio bolso. A assessoria da Presidência do Senado nega ter qualquer tipo de vínculo com Álvaro Lins.

1 - PERFIL DE ASSESSOR
Estudante da Universidade de Brasília durante a ditadura militar, Álvaro Lins alcançou projeção nacional no fim da década de 1980, quando trabalhou na campanha do então candidato a presidente, Fernando Collor de Mello. Foi importante colaborador do governo Collor. Foi citado em inquérito que correu perante o Supremo Tribunal Federal (STF), que tinha como indiciados o ex-presidente e o tesoureiro Paulo Cesar Farias. Com a queda de Collor, passou por um ostracismo, mas disse que voltou a trabalhar em campanhas políticas nos últimos anos.


; COMENTÁRIOS NA INTERNET
Uma das estratégias utilizadas pela equipe é adotar pseudônimos para fazer comentários positivos sobre o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). A orientação é usar nomes simples, como Leonardo Almeida, Maria Dias e José Maranhão. Na planilha obtida pelo Correio, consta o comentário publicado por Mario Vaz no jornal O Imparcial, do grupo Diários Associados. ;Essa história de CPI é sempre mau (sic) contada, por exemplo, esse caso da Fundação José Sarney, até onde eu sei já existem investigações a esse respeito em andamento na PF e outros órgãos, comentou Mario Vaz, na tarde de 20 de julho.

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