postado em 31/07/2009 08:32
Páginas inéditas do relatório da Comissão de Sindicância da Câmara dos Deputados sobre o esquema de venda irregular de passagens aéreas lançam suspeitas sobre a atuação de dois servidores que trabalharam no gabinete do deputado Sérgio Moraes (PTB-RS). As assinaturas de ambos aparecem em requisições de bilhetes comercializados pelo agente de turismo Vagdar Fortunato Ferreira, citado como um dos protagonistas do comércio paralelo de créditos de parlamentares.
Antônio Paulino Rodrigues Filho é funcionário da Câmara há 12 anos. Atualmente, tem a função de assessor técnico da Comissão de Trabalho, da qual Moraes é vice-presidente. Antes, despachou no gabinete do deputado gaúcho e era responsável pela emissão das passagens aéreas. Outro citado é Amilton Nunes da Silva, que desde setembro do ano passado não trabalha mais com Moraes.
;Há indícios de comercialização de crédito de passagens aéreas na cota do parlamentar Sérgio Moraes, intermediadas pelos servidores Antônio Paulino Rodrigues Filho e Amilton Nunes da Silva, uma vez que se verificou o nome do agenciador Vagdar Fortunato Ferreira em MCOs (créditos) do parlamentar;, indica o relatório final da Comissão de Sindicância ao qual o Correio teve acesso.
O crédito de Sérgio Moraes foi utilizado com o do deputado Nazareno Fonteles (PT-PI) e acabou com duas passageiras que viajaram a Miami, nos Estados Unidos. A primeira saiu de São Paulo em 20 novembro de 2007 e a segunda, em 3 de setembro do ano passado, de Manaus. Os nomes dos dois servidores de Sérgio Moraes surgiram na investigação após análise dos créditos de Nazareno Fonteles, que eram desviados pela servidora exonerada Rosimere Gomes da Silva.
Quando um gabinete não conseguia fornecer os créditos suficientes para uma viagem, o operador complementava com recursos fornecidos por outro gabinete. Assim foi paga uma viagem aos EUA do presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, vítima do esquema. A passagem de mais de R$ 9 mil foi bancada por créditos dos deputados Paulo Roberto (PTB-RS) e Fernando Coruja (PPS-SC).
Justificativa
Paulino disse ao Correio que jamais utilizou irregularmente os créditos de Moraes. Ele afirmou que sua assinatura consta nas requisições, não no lançamento das passagens. ;Depois de entregar a requisição, não faço a menor ideia do que foi feito. Acho que fraudaram isso;, comentou. Paulino admitiu conhecer Ferreira. ;Ele é uma pessoa que todo mundo sabe quem é na Câmara.; O agente de turismo, no entanto, nega. ;Não sei quem são essas pessoas. Agora todo mundo vai colocar a culpa em mim;, defendeu-se. A sindicância aponta que ele comprava os créditos a preços baixos e os usava posteriormente para vender passagens para terceiros por meio de sua agência.
O deputado Sérgio Moraes informou não ter conhecimento do uso irregular do crédito. Primeiro, disse que se for comprovada qualquer fraude dos servidores, entrará com queixa crime. Depois de ouvir as explicações de ambos, sustentou que começava a acreditar neles. ;Está parecendo fraude. O cara me explicou quase chorando;, disse, referindo-se a Paulino. Sérgio Moraes ganhou fama na Câmara depois de cunhar a frase de que estaria se lixando para a opinião pública. Na conclusão do relatório, a comissão sugere a abertura de processo administrativo disciplinar para apurar as condutas de Rosimere, Paulino e Silva. O documento não aponta qualquer responsabilidade do deputado gaúcho no caso.
AUTORIZADO POR UM PARLAMENTAR
O empresário Vagdar Fortunato Ferreira em depoimento à Comissão de Sindicância da Câmara, disse que tinha autorização do deputado Roberto Rocha (PSDB-MA) para movimentar sua cota de créditos de passagens com a TAM e a Gol. Segundo documento obtido pelo Correio, o tucano o concedeu um crachá de livre movimentação na Casa. Ferreira ostenta um documento de prestador de serviço autorizado pelo Parlamento. Ele, no entanto, não tem autorização para usar o crachá, segundo a primeira-secretaria. O órgão informou que a atual Mesa Diretora não concedeu a autorização por ele não se encaixar como prestador de serviço com escritório nas dependências da Câmara. Ferreira reconheceu que o crachá é antigo e não pediu renovação. ;Continuo usando o antigo para não ter que pedir todo dia para entrar na Câmara;, justificou. <-- --> <--
--> <-- --> <--
--> <-- --> <--
--> <--
--> <--
-->