Politica

Em mais de um dia de tensão no Senado, caciques do PT se rendem à defesa de José Sarney, mas só no bastidor

Daniel Pereira
postado em 07/08/2009 08:10

Espremido entre o que deseja o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a pressão pelo afastamento do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o PT mergulhou. Seus principais expoentes, como o comandante da bancada Aloizio Mercadante (SP), e a líder do governo no Congresso, Ideli Salvatti (SC), preferiram ficar longe do plenário ontem à tarde, quando os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Tasso Jereissati (PSDB-CE) se envolveram num bate-boca, o segundo da semana. Os petistas também decidiram não assinar em bloco o manifesto em que PSDB, DEM, PDT e mais seis senadores avulsos pedem a investigação de todas as denúncias e a licença de Sarney. ;A nota da oposição virou uma nota de rodapé. Foi um reconhecimento de que a posição da bancada do PT era a mais correta;, afirmou Mercadante ao Correio.

Entre as 12 assinaturas, no entanto, constam as de três petistas: Tião Viana (AC), que concorreu contra Sarney à Presidência do Senado, e as de Flávio Arns (PR) e Augusto Botelho (RR), que o fizeram por iniciativa própria. ;Pensei que iria haver uma nota dos senadores e outra dos líderes;, afirmou Tião, que chegou a cogitar retirar a sua assinatura, mas a manteve. ;Não tem nada demais, uma vez que a nota pede a mesma coisa que já está nas notas do PT;, disse Tião, único petista presente à reunião no gabinete do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), onde foi fechado o texto.

Mercadante, dizem os tucanos, chegou a pedir uma cópia do texto há dois dias, mas depois não deu uma resposta. O líder petista, na verdade, está um passo à frente da oposição. Ele entrou na fase de tentar negociar com o PMDB e, dentro da base do governo, abertura de investigações contra Sarney dentro do Conselho de Ética. Nada, no entanto, que resulte em condenação. ;Vamos abrir investigações para todas as representações que tiverem fundamento jurídico;, diz o líder petista. Só que alguns petistas que andaram sondando o PMDB não sentiram a menor intenção do que os peemedebistas chamam de ;abrir a guarda; ou ;dar sorte ao azar;.

O PMDB continua firme no propósito de evitar a saída de Sarney da Presidência da Casa. Prova disso foram as representações encaminhadas ontem contra o líder do PSDB Arthur Virgílio (AM), que podem servir como moeda de troca: Arthur por Sarney. Outro sinal foi o bate-boca Renan versus Tasso Jereissati. Num almoço ontem, foi sugerido pelos petistas presentes que Renan não fizesse discurso na hora de oficializar as representações contra Virgílio para não gerar polêmica e acirrar novamente os ânimos. Renan não só discursou como terminou protagonista de uma cena que dinamitou as frágeis pontes que Sarney vinha tentando construir com a oposição. E todos voltaram ao ponto do radicalismo: o PMDB não abre a guarda e nem a oposição recua da campanha pelo afastamento do presidente do Senado.

O que leva o PMDB a exigir do PT que mude a posição na hora da verdade dentro do Conselho de Ética é a CPI da Petrobras. Ontem, o relator Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Senado, manteve o script combinado de não aceitar convocações extras como a ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira. A oposição gritou, mas não conseguiu fazer frente à maioria governista que representa a união PT-PMDB-PTB e demais partidos da base no Senado. E, como disse Lula numa reunião recente entre seus aliados: ;Não vou deixar que a oposição prejudique meu governo nessa reta final com uma CPI;. Da mesma forma, o PMDB não quer deixar que o PT lhe tire da Presidência do Senado para dar o lugar a Marconi Perillo ou a alguém de outro partido. É nesse pé que a crise fecha a primeira semana de agosto, o mês da bruxa solta no campo da política.

Ataques
Os comandantes do PMDB só aceitarão abrir a guarda se, no Conselho de Ética, os petistas desistirem da posição inicial pelo afastamento de José Sarney ; nesse caso, o peemedebista seria investigado, mas continuaria no comando da Casa. Ele sairia da cadeira de presidente apenas nos momentos em que for responder aos ataques que recebe da tribuna, como ocorreu ontem na hora em que o senador José Nery (PSol-PA) disse que o presidente mentira ao falar da representação do partido. O PT ainda não discutiu esse ponto de forma conjunta na bancada, mas, seus ministros informam que será difícil o partido se manter firme pelo afastamento.


; Ataque de Renan incendeia plenário

Daniela Lima
Tiago Pariz

Um tiro no pé. Assim, senadores governistas classificaram o discurso do líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), sobre a representação contra o tucano Arthur Virgílio (AM). Em vez de contribuírem para a redução da pressão pela renúncia de José Sarney (PMDB-AP) da Presidência da Casa, as declarações de Renan teriam incendiado a crise, além de estimular os oposicionistas a reorganizar forças e voltar para o centro do embate. ;Foi de uma violência atroz. Esse troço não acabará bem;, disse um aliado dos dois caciques peemedebistas. ;A crise estava arrefecendo. Agora, voltou a ficar ruim para o Renan e para o governo;, acrescentou outro parlamentar.

[SAIBAMAIS]Como na segunda-feira, as entranhas do Senado foram expostas ontem. Da cadeira de presidente, Sarney assistiu, visivelmente constrangido, ao duelo entre Renan e o tucano Tasso Jereissati (CE). Depois de o líder peemedebista ler a representação contra Virgílio, Jereissati pediu que a Mesa Diretora ordenasse a retirada de um senhor que acompanhava a sessão e segundo a bancada tucana fazia troça durante o discurso de Renan. Foi o estopim para uma intensa troca de ofensas e acusações.

;Essas crises acontecem por isso. A minoria com complexo de maioria quer expulsar um cidadão que está participando desta sessão;, alfinetou Renan. ;Ele não está participando, está fazedo piada;, respondeu Jereissati. Falando fora do microfone, Renan, com o dedo em riste, continuou as críticas. ;Não aponte esse dedo sujo para cima de mim, estou cansado de suas ameaças;, disse Jereissati. ;O dedo sujo, infelizmente, é de Vossa Excelência. São os dedos dos jatinhos que o Senado pagou;, atacou Renan, referindo-se à denúncia de que Jereissati teria usado dinheiro público para pagar uma aeronave.

O plenário silenciou, e os dois continuaram a trocar acusações. ;Pelo menos, o dinheiro é meu. Eu tenho para falar. O jato é meu. Não do que você leva dos seus empreiteiros;, devolveu o tucano. Ainda distante dos microfones, Renan chamou o colega de plenário de ;coronel de m...;. Jereissati disse que o senador alagoano estava quebrando o decoro e pediu que fosse feita uma representação. A sessão foi suspensa por dois minutos.


; Análise da notícia
Alguém tem que ceder

O líder do PT Aloizio Mercadante (SP) será daqui para frente um homem em conflito. E cada vez mais. A oposição fará tudo para que ele e a bancada petista fiquem cada vez mais constrangidos ao lado do PMDB. A ordem é mostrar que os peemedebistas não têm escrúpulos nem limites na hora de preservar seus interesses, e os tucanos farão isso com provocações em plenário, como a de ontem, quando Renan Calheiros (PMDB-AL) chegou o ponto de chamar o cearense Tasso Jereissati de ;coronel de m..;. A oposição tem um trunfo para tentar atrair o PT: DEM e PSDB volta e meia comentam nos bastidores, mas não representam contra a petista Serys Slhessarenko, que, como Arthur Virgílio, pagou salário a uma funcionária que morava no exterior.

O PMDB também tem cartas na manga para segurar o PT, como a CPI da Petrobras. Mercadante sabe disso e tenta buscar hoje uma saída honrosa para a sua bancada, investigando algum caso que envolva Sarney. Por enquanto, a negociação da saída da crise está entre PT e PMDB. E a tendência é que continue por aí. Está cada vez mais próxima a hora em que alguém vai ter de ceder. E Mercadante espera que seja o PMDB, para que ele deixe de ser um senador em conflito e consiga algum espaço para ajudar a preservar Sarney e a imagem da bancada. (DR)

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