Politica

Funcionários da Câmara identificam parlamentares por apelidos

postado em 09/08/2009 11:27
Na última segunda-feira, Dr. Smith, personagem da série de televisão Perdidos no espaço, subiu à tribuna da Câmara para discursar contra o novo acordo entre Brasil e Paraguai sobre a exploração da hidrelétrica de Itaipu. Pelo menos foi o que alguns funcionários da Mesa Diretora disseram no momento em que o deputado Germano Bonow (DEM -RS) assumiu o microfone para levantar a discussão. [SAIBAMAIS]As semelhanças entre o personagem e o político gaúcho facilitam o reconhecimento dele por servidores da Casa. Uma das tarefas dos agentes de serviço legislativo é auxiliar o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), na identificação dos parlamentares. Eles entram em cena quando, durante a ordem do dia, um dos 513 políticos pede a palavra para fazer uma reclamação, questionar a matéria em pauta ou levantar um artigo do regimento interno. Na hora, Temer precisa citar o nome do colega. Só na semana passada, isso ocorreu 43 vezes. A estratégia de dar apelidos aos parlamentares foi sugerida por Walter Bispo, chefe da equipe responsável pelo registro visual dos deputados. A técnica é utilizada com frequência. "Nós temos que conhecer todos os deputados. A gente vai desenvolvendo uma técnica. Todos os 513 têm alguma coisa que os diferencia dos demais", teoriza Raimundo Gil da Fonseca, 50, auxiliar mais antigo do grupo. Vez ou outra, é possível fugir do desconforto com uma saída mais genérica, como "tem Vossa Excelência a palavra", mas o nome do deputado muitas vezes é exigido quando a discussão no plenário se torna acalorada e todos querem falar. Aí não tem jeito. Já não é possível conceder o direito de fala "ao terceiro deputado do microfone à esquerda". É nesse momento que, tranquilamente, o presidente cita o nome do político, muitas vezes soprado em seus ouvidos por um dos funcionários da Mesa. Barney A estatura e o peso do deputado Osvaldo Biolchi (PMDB-RS) deram base ao apelido de Barney, do seriado norte-americano Simpsons. O colega Flaviano Melo (PMDB -AC) recebeu a alcunha de Frankenstein, protagonista do romance britânico escrito no século XIX. Mas nem sempre há unanimidade. Se o cientista Dr. Smith é referência para os servidores quando se trata do democrata Germano Bonow, para uma ascensorista da Câmara, o gaúcho é a cara de Leslie Nielsen, ator de comédias pastelão dos Estados Unidos. O artista foi protagonista da série Corra que a polícia vem aí e atuou em filmes como Apertem o cinto, o piloto sumiu. "Quando entro no elevador, ela sempre pergunta se continuo trabalhando em filmes", conta o parlamentar. Alguns apelidos são dados pela simples semelhança entre o político e o personagem e não para facilitar a memorização da fisionomia do deputado. O vice-líder do PMDB Colbert Martins (BA) está frequentemente em discursos no plenário, mas também faz parte da lista. Para auxiliares da Mesa, ele é bem parecido com o personagem cômico Mr. Bean. O parlamentar, entretanto, não vê semelhanças entre ele e o ator britânico. Cachaça "Fico perdido sem eles lá. Às vezes, eles me acalmam", reconhece o secretário-geral da Mesa, Mozart Vianna. Com a ajuda de quatro funcionários, Mozart organiza a burocracia diária do trabalho legislativo. Nas horas de atividade do plenário, não há tempo para descanso. "O plenário é um trabalho insalubre, afeta a audição. E eles passam o tempo todo ali dentro", destaca o secretário-geral. Há 29 anos na Casa, José Pedro de Souza, 55, reconhece as dificuldades do cargo. "Tem dias que não há horário de almoço nem janta". O trabalho cansativo não diminui o interesse daqueles que acompanham de perto as decisões do Legislativo. Gil ainda se lembra do voto do deputado Paulo Romano (PFL- MG) para o impeachment do então presidente Fernando Collor, em outubro de 1992 - decisivo para afastar o atual senador da Presidência da República. Mesmo de férias, ele não fica muito tempo longe do plenário. Em maio de 2007, quando descansava em Teresina (PI), não perdeu a chance de dar uma espiada na TV Câmara para ver as votações da Casa. "Tenho esse maldito vício de acompanhar os trabalhos. É uma cachaça gostosa", brinca.

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