Politica

Febre alta no Senado

Representação contra Arthur Virgílio no Conselho de Ética e CPI da Petrobras prometem manter elevada a temperatura na Casa

Mirella D'Elia
postado em 10/08/2009 08:41
A semana promete ser de novos embates entre governo e oposição no Congresso Nacional e não há sinais de que a temperatura da crise baixará por enquanto. Um dos focos de tensão será o Conselho de Ética do Senado. Depois que o presidente do órgão, Paulo Duque (PMDB-RJ), engavetou as 11 acusações contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o conselho vai analisar esta semana uma representação proposta pelo PMDB contra o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM). Peemedebistas já disseram publicamente que a iniciativa foi uma reação direta à atitude dos tucanos de apresentarem três representações contra Sarney. Tucanos, por sua vez, estudam ingressar com outra representação, esta contra o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que bateu boca na quinta-feira passada com o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).Virgílio admite ter autorizado funcionário a estudar no exterior com salário pago pelo Senado. Diz estar devolvendo o valor aos cofres públicos

O conselho deve se reunir na quarta-feira. A oposição diz que não vai recuar diante da pressão. A estratégia é recorrer da decisão de arquivamento sumário das acusações que pesam contra Sarney. E, se preciso, levar o caso até o plenário da Casa. ;O plenário do conselho vai ter que decidir. Talvez o PT se comova. Se nos der os votos, nós ganhamos;, disse o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).

O vice-líder do PSDB, Álvaro Dias (PR), classificou a representação contra Arthur Virgílio como revanchista. Na avaliação dele, há dissidências até mesmo no interior da própria base aliada quanto ao tema. ;Ela (a representação) não se sustenta, pelo menos nos critérios do bom senso;, declarou.

Petrobras
A reunião da CPI da Petrobras, prevista para amanhã, também vai esquentar os ânimos no Senado. Tucanos e democratas vão insistir em ouvir a ex-secretária da Receita Federal, Lina Maria Vieira. Ela ficou apenas 11 meses à frente do cargo. Caiu após a revelação de que a Petrobras foi penalizada com multa por ter adotado uma manobra tributária para pagar menos impostos, provocando um rombo de R$ 1,4 bilhão. A descoberta acabou acelerando o processo de criação da CPI.

Álvaro Dias já havia apresentado um requerimento para que a ex-secretária falasse ao conselho. Se for derrotado novamente, ele diz que vai mudar de tática: defenderá que ela compareça a outra comissão do Senado, como a de Constituição e Justiça (CCJ). ;Na CPI, eles (governistas) estão intransigentes. Me parece que o que ela tem a dizer não é bom para o governo;, ironizou Dias.

[SAIBAMAIS]A insistência em levar Lina Maria ao Congresso foi reforçada depois que a Folha de S. Paulo publicou uma entrevista em que a ex-secretária disse que teria ouvido da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, um pedido para concluir rapidamente uma investigação da Receita sobre empresas da família Sarney. A Casa Civil nega o encontro.

Para a oposição, foi mais um componente para apimentar a crise que tomou conta do Senado após as denúncias contra José Sarney. ;A crise não se acalma. Enquanto não resolver definitivamente o problema, a temperatura fica alta. A febre não baixa;, disse Demóstenes Torres. ;Se a Lina confirmar publicamente o que disse, a atitude do governo fica em xeque. Ela disse que a ministra-chefe da Casa civil estava operando para amornar uma investigação. Ela tem que aparecer;, emendou o líder do DEM, José Agripino (RN).

O governo reagiu. Para o ministro José Múcio Monteiro (Relações Institucionais), pode ter havido um erro de interpretação da ex-secretária sobre o que teria dito a ministra. ;Quem conhece a ministra Dilma sabe que ela não faria isso, não acho do espírito dela. É preciso avaliar melhor;, declarou.


DECORO
O PMDB pediu ao Conselho de Ética do Senado que abra um processo de cassação por quebra de decoro contra o senador Arthur Virgílio por entender que ele cometeu falsidade ideológica, prevaricação e estelionato. A legenda diz que protocolou a representação com base em discurso do próprio senador, que admitiu ter autorizado um funcionário a deixar o Brasil para estudar no exterior com salário do Senado. O PMDB cita, também, empréstimo que o ex-diretor-geral da Casa, Agaciel Maia, teria feito ao tucano e gastos com tratamento de saúde da mãe do parlamentar.

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