A semana de mobilização nacional pela reforma agrária, organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e acompanhada por outras entidades, termina sem grandes avanços no que diz respeito à pauta de reivindicações trazida a Brasília. ;O governo apresentou um número ridículo: quer beneficiar apenas 2.700 famílias em 2009;, criticou Vanderlei Martini, da coordenação nacional do MST ; a entidade cobra o assentamento de 90 mil famílias, hoje acampadas pelo Brasil.
Na terça-feira, haverá nova reunião do MST com o grupo interministerial coordenado pelo ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Luiz Dulci, para discutir as reivindicações do movimento. O primeiro encontro ocorreu na última quarta-feira. Ontem, cerca de 2 mil militantes, na companhia de integrantes de centrais sindicais e outros movimentos sociais, saíram em marcha pela Esplanada dos Ministérios, em protesto contra a política econômica do governo Lula e o desemprego no país.
Durante a semana, as manifestações ocorreram em Brasília e em 23 estados. Embora os protestos tenham ocorrido pacificamente, na última terça-feira cerca de 500 integrantes do MST invadiram a sede do Ministério da Fazenda, na Esplanada. Nas demais unidades da Federação, a ocupação de prédios públicos foi uma estratégia muito utilizada para chamar a atenção.
Invasões
As invasões a prédios públicos, estratégia intensificada nesta semana, especialmente porque os principais atos ocorreram em capitais do país em vez do campo, não é necessariamente um método novo, de acordo com o professor da Universidade de Brasília (UnB) Flávio Botelho. Especialista do Núcleo de Estudos Agrários da instituição, ele aponta uma mudança de foco. ;Se antes eles invadiam o escritório do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) para reivindicar sua principal bandeira, agora têm preferido ocupar prédios ligados à economia, como o Ministério da Fazenda, por exemplo;, ressalta.
Segundo o professor, com o governo Lula ; um aliado do movimento ; no poder, foi preciso encontrar outros inimigos. ;Veja que a pauta, lá na década de 1990, era basicamente a terra. Agora, eles são contra os bancos, as multinacionais e o agronegócio;, ressalta Botelho. O professor destaca a estratégia como válida, mas tem dúvidas sobre a simpatia da sociedade em relação ao movimento em seus moldes atuais.
Entretanto, na avaliação de Maria Orlanda Pinassi, professora da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e especialista no tema, a presença do MST nas médias e grandes cidades, ainda que em atos esporádicos, ajuda a sociedade a se dar conta de alguns problemas sociais. ;É como se eles tentassem mostrar que o latifúndio improdutivo é problema de todos, afeta a produção de alimentos e gera bolsões de pobreza nas cidades. Não acredito que a população crie antipatia com o movimento.;
; Reivindicações do MST
- Assentamento imediato das 90 mil famílias
integrantes do MST que vivem acampadas no Brasil
- Investimentos em infraestrutura para 45 mil famílias que estão assentadas
- Atualização dos índices de produtividade, intocados desde a écada de 1970, que servem de parâmetro para o Incra e outros rgãos avaliarem se a terra é ou não passível de desapropriação
- Descontingenciamento de R$ 800 milhões do orçamento do Incra