Mirella D'Elia
postado em 15/08/2009 09:56
Principal bandeira do Partido Verde (PV), a defesa do meio ambiente aparece diluída na atuação dos políticos filiados à legenda. Embora a agremiação tenha em seus quadros parlamentares ligados à causa verde, como o deputado federal José Sarney Filho (MA), que chefiou o Ministério do Meio Ambiente no governo Fernando Henrique Cardoso, políticos ; alguns do próprio PV ; avaliam que o tema não é tão recorrente na bancada e que, muitas vezes, o engajamento ecológico fica apenas no discurso. De fato, os 14 deputados do PV apresentaram 62 projetos este ano ; dos quais apenas 10 (16%) são associados à causa ambiental.O PV ganhou espaço na mídia depois que veio à tona o namoro da ex-ministra do Meio Ambiente e senadora Marina Silva (PT-AC) com o partido, que pode ser escolhido por ela para emplacar uma candidatura à presidência da República em 2010. Os petistas esboçaram reação ao movimento da senadora, cuja trajetória política é historicamente ligada a questões ambientais (leia Personagem da notícia).
;Eu não vejo isso como um foco básico dos parlamentares. O PV deveria ser mais agressivo em relação ao meio ambiente. A legenda é mais uma grife;, critica um parlamentar do partido. ;O meio ambiente deveria ser o principal assunto da pauta de todos nós. Mas o que se vê muito é a falta de ânimo, de uma direção, de ter mais reuniões, mais participação e cobrança;, reconhece o deputado Fábio Ramalho (PV-MG). Em defesa da legenda, o deputado Antônio Roberto (MG) destaca: a causa verde possui outras vertentes. ;A questão ambiental é também saúde, segurança pública, política internacional;, rebate.
Para o líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), a causa verde não pode ser atribuída apenas ao PV. ;O partido que tem maior tradição na defesa do meio ambiente no Brasil é o PT. Temos laços históricos com a luta ambientalista no país;, alfineta. Ele cita a sanção da MP da Amazônia como exemplo do interesse do governo na questão. A medida provisória 458 trata da regularização fundiária de 67,4 milhões de hectares na Amazônia. ;Os ambientalistas pediram para o presidente vetar alguns itens e ele vetou;, acrescenta. Lula derrubou na íntegra artigo que permitia a transferência de terras para empresas e pessoas que não viviam na região, mas exploravam a área por meio de terceiros. Mas o texto ainda é criticado por ambientalistas.
Músculos
Especialistas ouvidos pelo Correio avaliam que o PV não tem musculatura suficiente para, sozinho, levar Marina Silva ao Planalto. O partido abocanhou, este ano, apenas uma pequena fatia do fundo partidário. E terá pouco tempo de propaganda eleitoral na TV para vender o seu peixe. Para piorar, a questão ambiental não figura entre as preocupações da maioria do eleitorado.
Para o cientista político Murillo de Aragão, a não ser que uma surpresa mude o cenário, a disputa, em 2010, ficará mesmo polarizada entre PT e PSDB. ;Ela vai ter que remar contra a corrente, em uma campanha com pouco tempo de TV, pouco dinheiro e com um discurso que não tem uma pegada popular, exceto junto à elite. Precisaria de mais do que isso para ser uma supercandidata;, diz.
Professor da Universidade de Brasília (UnB), Octaciano Nogueira acredita que lançar o nome de Marina Silva para fazer frente à candidatura da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) é louvável. Mas ressalta: seria apenas para marcar posição. ;O discurso verde só vai ter apoio popular quando o partido conseguir mostrar que, sem a melhoria do meio ambiente, as pessoas sequer conseguem sobreviver.;
Dinheiro público
O fundo partidário é disciplinado pela Lei dos Partidos Políticos (Lei 9.096/95). Ele é alimentado com dinheiro público, que vem do Orçamento da União, e distribuído mensalmente às legendas de forma proporcional, de acordo com a bancada aprovada na Câmara dos Deputados na última eleição. Além dos recursos do Orçamento, o fundo também recebe dinheiro que vem de multas aplicadas a partidos e políticos que foram flagrados pela Justiça Eleitoral fazendo propaganda irregular. Legendas que tiverem as contas rejeitadas ou que não prestarem esclarecimentos são penalizadas com suspensão das cotas do fundo partidário.