postado em 19/08/2009 14:35
O desligamento dos quadros do PT, partido que ajudou a fundar no Acre e onde construiu uma carreira política de 30 anos, é apenas o início do processo de migração para o Partido Verde (PV), segundo a senadora Marina Silva. Ela agora inicia as conversas com o PV para dar andamento à revisão do programa do partido.Na entrevista coletiva convocada para oficializar seu desligamento do PT, a ex-ministra do Meio Ambiente deixou claro que a construção de uma candidatura presidencial se dará em etapas. Sem partido, a senadora disse que ;se sente livre; para discutir a revisão programática pretendida pelos verdes que defendem um modelo de crescimento da economia compatível com a preservação ambiental.
A senadora esquivou-se de falar, neste momento, sobre a possibilidade de ser candidata à Presidência da República em 2010. Ela acrescentou que sua ida para o Partido Verde não foi condicionada a qualquer decisão do partido em afastar dos quadros filiados que não tenham compromisso com a questão ambiental.
;A discussão do convite [feito pelo PV] se deu a partir do movimento do partido de se reavaliar. O movimento veio de dentro do próprio PV;, afirmou a ex-petista.
[SAIBAMAIS] Marina Silva rebateu declarações feitas por políticos de vários partidos e até mesmo analistas de que sua campanha seria ;monotemática; ao tratar prioritariamente de um novo modelo de crescimento para o país vinculando-o à preservação ambiental. Na opinião da senadora este é um raciocínio simplista que pode ser comparável à discussão, há 30 anos, de um modelo social como o que foi implantado no país.
;O Brasil, há 30 anos, talvez não estivesse preparado para ter um programa social como o que temos hoje. No contexto atual das crises econômica e ambiental não será preciso 30 anos para modificar o atual modelo [de desenvolvimento]."
A senadora destacou, por exemplo, que o Brasil tem uma matriz energética de 45% de geração por meio de energia limpa que pode chegar a 65% com a construção de usinas hidrelétricas na Amazônia. Ela considera isso perfeitamente possível desde que essas usinas não comprometam a qualidade de vida na região e a preservação da floresta.
Ela também criticou a iniciativa do Congresso de tentar alterar todo o Código Florestal em vigor. De acordo com a ex-ministra, o que os deputados e senadores fazem, neste momento, ;é descartar todo um trabalho construídos pelos constituintes [em 1988];. Ela citou, por exemplo, iniciativas de flexibilização dos crimes ambientais e mudanças das regras para a criação de unidades de conservação ambiental.
Marina Silva, por mais de uma vez durante a entrevista coletiva, destacou que o modelo de desenvolvimento autossustentável proposto não será efetivado por vontade exclusiva do Partido Verde. ;A questão ambiental não se resume a um partido. Esse tem que ser um trabalho de todos os partidos e da sociedade.;
Ao deixar o PT, Marina Silva esclareceu dois pontos: não encerrará uma parceria construída com seus colegas de partido ao longo de 30 anos e tampouco incentivará correligionários a seguirem o mesmo caminho que resolveu adotar.
Ela também evitou qualquer confronto com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, eventual candidata do PT à sucessão do presidente Lula e com quem teve divergências administrativas quando ocupou a pasta do Meio Ambiente.
"Não me colocarei como vítima da ministra Dilma. Ela tem os pontos de vista dela e eu tenho os meus [sobre o modelo de crescimento econômico] e ambos são legítimos;, disse Marina Silva.