Jornal Correio Braziliense

Politica

Lula junta os cacos do PT

Depois de desgastar os petistas para salvar Sarney, presidente tenta reunificar bancada e buscar um discurso eleitoral

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerra a semana certo de que debelou duas pontas de crises que poderiam colocar a perder todo o esforço de concluir o mandato com alguma tranquilidade para votar temas importantes no Congresso e, de quebra, alavancar o seu próprio partido rumo a 2010. A primeira foi o arquivamento dos processos contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que deixa o PMDB como devedor ao Planalto por ter forçado os votos em favor de Sarney dentro do PT. A outra ponta de problema que o presidente acredita ter contornado foi o mal-estar do PT, com a manutenção de Aloizio Mercadante (SP) no cargo de líder do partido no Senado.

[SAIBAMAIS];Foi uma no cravo e outra na ferradura;, resumiu um importante assessor do presidente. Os auxiliares de Lula consideram que ao mesmo tempo em que ele salvou Sarney do constrangimento de uma investigação, tenta agora, com a permanência de Mercadante, resgatar para o PT o discurso da ética na política e da transparência. Isso porque o líder não moveu um milímetro de sua posição em favor do afastamento de Sarney da Presidência do Senado e jamais deixou de pregar a investigação das denúncias publicadas nos jornais ao longo de cinco meses. E ao continuar como a voz do partido na Casa, será essa a imagem que o partido mostrará na tribuna.

Essa posição de Mercadante, na avaliação de Lula, trará benefícios ao partido junto ao seu eleitorado de opinião, uma vez que mantém uma distância regulamentar entre a cara do PT no Senado e a do PMDB, representada pelo líder Renan Calheiros (AL). ;O presidente foi um craque;, avaliou ontem o líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), que acompanhou as negociações dentro do PT ao longo da semana.

Nas cinco horas de conversa entre Mercadante e Lula foi abordada não só a crise interna de identidade pela qual passa o PT como a necessidade de o presidente manter a chamada governabilidade. O gelo começou a ser quebrado, no entanto, quando Lula passou a falar do passado, dos tempos em que o senador petista gastava sola de sapato ao lado do presidente tentando construir o PT. Lula terminou prometendo que, pela manhã, enviaria uma carta a Mercadante para lhe dar o discurso que faltava para encerrar o episódio.

Lastro
Da parte de Aloizio Mercadante, a sua permanência na liderança com direito a uma carta de Lula, citam os petistas, vai lhe assegurar o lastro presidencial para a campanha em São Paulo em 2010. Conforme adiantou o Correio na edição de ontem, os adversários de Mercadante já se mobilizavam em São Paulo para tentar puxar-lhe o tapete na corrida pelo Senado no próximo ano, quando o líder concorrerá à reeleição. Se ele não aceitasse o pedido do presidente, dizem os petistas, a ex-prefeita Marta Suplicy ganharia fôlego para ingressar na chapa ao Senado e poderia inclusive obter o apoio de Lula para jogar Mercadante na disputa pelo governo paulista ; missão hoje considerada internamente mais como um sacrifício do que uma premiação por serviços prestados ao partido.

O próprio líder avaliou a amigos que sua posição de liderança dentro do PT estaria comprometida: ;Se eu renunciasse, a imprensa oposicionista me elogiaria durante uns três dias e depois me deixaria na chuva;. Ele sabe, no entanto, que terá alguns dias de explicações pela frente, especialmente, aos seus seguidores na internet, onde anunciou há dois dias que deixaria o cargo de líder e que a decisão era ;irrevogável;. Ontem, por exemplo, foram centenas de posts em microblogs do twitter, criticando o recuo. ;Vou apanhar nos próximos dias, mas tenho argumento para me defender;, afirmou Mercadante a colegas de partido, citando como exemplo a carta de Lula, que ele mesmo fez questão de colocar trechos para responder aos usuários do microblog. Agora, avaliam Mercadante, governadores e auxiliares do presidente, é aproveitar o tempo até 2010 para organizar palanques e as alianças políticas. Da parte de Lula, essas duas crises, a de Sarney e a do PT, vão virar páginas nos livros de história, de política e nos anais do Senado.

Colaboraram Daniel Pereira e Daniela Lima

; Pronunciamento