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Entrevista - Fernando Pimentel: "a ex-secretária da Receita não provou nada sobre a imaginária reunião"

Daniel Pereira, Luiz Carlos Azedo
postado em 23/08/2009 07:51
Entrevista Fernando Pimentel

# Daniel Pereira
Coordenador informal da pré-candidatura da ministra Dilma Rousseff, o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel (PT) considera ;pouco provável; que o PMDB apoie formalmente qualquer um dos concorrentes à Presidência em 2010. Apesar da ofensiva deflagrada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para fechar uma aliança com o maior partido do país, o que renderia à ;mãe do PAC; minutos preciosos na propaganda eleitoral, Pimentel diz que a tendência é os peemedebistas priorizarem as alianças e as disputas regionais, nas quais reside a força da legenda.

Em Minas Gerais, o ex-prefeito trava uma queda de braço com o ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB). Os dois estão no páreo pelo comando estadual. Nas conversas com Lula, dirigentes peemedebistas cobram que o nome do governo federal no estado seja o do ministro. Alegam que, se isso ocorrer, ficará mais fácil acertar a parceria com Dilma. ;O entendimento entre os dois partidos é perfeitamente possível, mas ele não pode se iniciar exigindo que um dos lados abra mão da sua postulação;, pondera Pimentel. A seguir, os principais trechos da entrevista, na qual ele também critica a oposição por tentar minar a credibilidade da ministra da Casa Civil.

O senhor está se preparando para concorrer a governador de Minas ou para ser ministro?

Nem um nem outro. Tenho de esperar a decisão interna do PT. Estamos no processo de eleição da nova direção e só depois disso a gente pode imaginar o futuro. Meu nome está colocado, sem dúvida, para o governo do estado, mas não posso dizer que serei o candidato. Eu acho que o PT terá candidato a governador, sinto isso nas conversas que tenho tido, nas viagens que tenho feito. E acho que o partido avalia que tem chance de ganhar a eleição. Se serei eu ou se será o ministro Patrus Ananias, só saberemos em novembro, depois que tivermos o resultado das eleições da direção regional. Quanto a ser ministro, essa hipótese está descartada. O presidente Lula, no início do ano, conversou comigo, com o ex-prefeito João Paulo, do Recife, e com a ex-prefeita Marta Suplicy, de São Paulo, e nos convocou para ajudar na pré-campanha da ministra Dilma. É o que temos feito desde então.

Se depender do senhor, portanto, não haverá composição com o ministro Hélio Costa (PMDB), com o PT abrindo mão da candidatura ao governo em favor dele?

Não posso falar pelo partido, mas o que sinto é um desejo muito forte para que o PT tenha candidato, como acho legítimo que o PMDB também reivindique uma candidatura própria ao governo do estado. O entendimento entre os dois partidos é perfeitamente possível, mas ele não pode se iniciar exigindo que um dos lados abra mão da sua postulação. Essa não é a melhor maneira de começar uma aproximação.

O senhor é muito ligado à ministra Dilma, que é a candidata de Lula em 2010. E o presidente insiste em construir palanques unificados para a ministra nos estados. O senhor sacrificaria a sua candidatura para elegê-la?

Só posso responder depois que eu, supostamente, for candidato. É difícil trabalhar como uma hipótese que não se colocou. Eu acho que o desejo do presidente Lula é o mesmo nosso, que a gente reforce o máximo possível a candidatura da ministra, que ele está apontando como sua sucessora e é unanimidade dentro do PT. Como isso se processará em cada estado, está cedo para dizer. As realidades regionais têm de ser consideradas. O ideal é que a gente marche junto, não só com o PMDB, com a base aliada toda.

O presidente Lula quer concessões regionais dos petistas para convencer o PMDB a apoiar a ministra Dilma. O senhor aposta numa adesão formal dos peemedebistas?

Apostar é um verbo forte na política, a aposta pode redundar em perdas. Vamos dizer que é uma probabilidade, ela existe. O PMDB tem seis ministros no governo, e a direção do PMDB tem uma interlocução muito boa com o presidente e com a ministra Dilma. Agora, o PMDB tem sua peculiaridade, é um partido muito regional. É uma força importante para o equilíbrio da democracia brasileira, mas não é um partido de caráter nacional como são o PSDB e o PT. Então, a lógica regional, no caso do PMDB, costuma se sobrepor a uma suposta lógica nacional, e a gente tem que respeitar isso. Quero crer que é muito pouco provável que o PMDB marche unido e coeso com qualquer candidatura nacional. Isso não é demérito para o PMDB, é uma característica do partido. Então, as lideranças regionais vão se compor a partir daquelas realidades locais, em alguns estados apoiarão uma candidatura, em outros apoiarão outra. Me parece que esse é o desenho mais provável, o que não quer dizer que a gente não deva sempre buscar a unidade nacional desse partido para vir para a ministra Dilma.

O senhor concorda que o ideal é o governo ter um único candidato a presidente?

Essa é uma tese difícil de ser avaliada. É claro que uma eleição plebiscitária para um governo tão bem avaliado com o do presidente Lula sempre é boa: estabelecer uma lógica mais simples no voto do eleitor, os que são a favor da continuidade de um governo que está dando certo, e os que são contra essa continuidade. Mas as estratégias têm de ser elaboradas a partir dos dados de realidade, e nós sabemos que o Brasil, com uma multiplicidade de realidades regionais, pode produzir outras candidaturas. Nós temos que considerar o deputado Ciro Gomes, a ex-ministra Marina Silva. Nós podemos ter sim mais de uma candidatura. Acho, mas posso estar enganado, que se houver mais de uma candidatura seguramente a maioria delas marchará no campo da situação. Portanto, podemos estar, no segundo turno, todos juntos no mesmo palanque.

Mesmo que esse palanque não seja o da ministra Dilma, e sim o do deputado Ciro Gomes? Há o risco de a ministra não chegar ao segundo turno?

Risco sempre existe, mas eu diria para você que é muito remoto. Não quero ser pretensioso, mas todos os analistas que a gente acompanha concordam com a tese de que o candidato apoiado pelo presidente Lula com muita probabilidade estará no segundo turno. A melhor estratégia é a plebiscitária? Sem dúvida, mas a realidade às vezes se impõe e produz outro desenho. Nós não devemos desconsiderar, o outro desenho também pode ser bom. Para isso, eleição tem dois turnos.

Causou preocupação a estagnação da ministra Dilma em pesquisas recentes de intenção de voto?

Não causou pela evolução dos fatos nos últimos dois meses. A ministra teve que arrefecer muito o ritmo que ela tinha de trabalho e, obviamente, de exposição na mídia, de pré-campanha, em função da doença que ela enfrentou de maneira muito corajosa e graças a Deus está vencendo. Ela hoje está curada, terminou a quimioterapia e a radioterapia, mas ficou dois meses cuidando mais disso, com todo direito, do que fazendo as viagens que ela fazia e a agenda que ela tinha. Então, era natural que houvesse esse arrefecimento do crescimento eleitoral. Por outro lado, não vimos nenhuma grande mudança. O governador José Serra, que é o adversário natural, não cresceu, até caiu alguns pontinhos. Aliás, vem numa trajetória descendente desde dezembro do ano passado, caindo um ponto a cada pesquisa. O ex-ministro Ciro Gomes está no mesmo patamar que sempre esteve também. Talvez, daqui para o fim do ano possa ter um pequeno crescimento da ministra Dilma se for retomada a agenda de viagens que tem vinculado a imagem dela à do presidente Lula e que tem trazido um ganho eleitoral razoável nas pesquisas. Não tem nada que nos preocupe quanto à candidatura da ministra. O que nos preocupava muito era a saúde dela, e graças a Deus está tudo bem.

O presidente cobrou apoio do PT ao senador José Sarney sob a alegação de que a oposição queria derrubá-lo para desestabilizar o governo. Os petistas tinham mesmo que blindar Sarney?

Esse é um tema muito espinhoso porque o Senado se transformou numa Casa onde tudo que não queríamos ver acontece. Acho que há uma certa hipocrisia nesta escolha de um personagem como o símbolo de tudo de mau que acontece. É claro que tem equívocos, desvios que foram cometidos e têm de ser corrigidos, mas não podemos demonizar uma figura, dizer que ali está a fonte de todo o mal. A defesa que o presidente Lula tem feito vai um pouco nessa direção, até por uma questão humana. Trata-se de um ex-presidente da República, que prestou serviços ao país e, se cometeu desvios e pode ter cometido, não foi diferente de outros personagens que estão lá e o acusam de estar fazendo algo que eles mesmo já fizeram no passado. Então, vamos moderar um pouco essa caça às bruxas. Para absolver todo mundo? Não, para fazer a reforma que precisa ser feita. É preciso reformar profundamente os costumes políticos do Senado e da vida pública brasileira. Nós não vamos mudar se começarmos um processo de caça às bruxas. Nós temos que acabar é com a feitiçaria.

O caso Lina Vieira está encerrado?

Está mais que encerrado. A ex-secretária da Receita não provou nada sobre a imaginária reunião e, mais, disse que não foi pressionada nem julgou ilícito o suposto pedido da ministra. Fizeram uma tempestade em copo d;água. Prolongar essa discussão é pura perda de tempo. O governo e o país têm mais o que fazer. Só a oposição parece não entender isso.

A oposição pretende usar casos como o da ex-secretária e o do dossiê para questionar a credibilidade da ministra.

A oposição usa uma tática antiga e desatualizada. Divulga-se uma denúncia falsa, alimenta-se o caso com detalhes irrelevantes, convocam-se comissões, na tentativa de criar um clima de comoção política que prejudique o governo e o PT. Isso não funciona mais. Nosso país está maduro o suficiente para saber distinguir o falso e o verdadeiro no jogo da política. E a ministra Dilma tem se comportado exemplarmente, com a sobriedade que o cargo exige, mantendo o compromisso ético com o povo brasileiro que sua trajetória de vida atesta melhor que qualquer discurso.

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