Brasília e Rio de Janeiro ; ;Para um simples caseiro, ganhar quatro votos de ministros do STF já é uma vitória. Está bom demais.; Foi com simplicidade que Francenildo dos Santos Costa descreveu o que achou da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que arquivou denúncia do Ministério Público contra o ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci. O diálogo foi travado ontem entre Francenildo e o advogado dele, Wlicio Nascimento.
[SAIBAMAIS]Nem parecia o mesmo homem que, na véspera, deixara o plenário da mais alta Corte de Justiça do país de cabeça baixa. Apesar de o tribunal ter livrado o petista da acusação de mandar quebrar o sigilo bancário dele, em 2006, o ex-caseiro não fez da derrota a máxima do day after. Seguiu à risca a rotina: saiu cedo de São Sebastião, onde mora, para vender produtos de limpeza de piscinas e visitar clientes em mansões do Lago Sul. À noite, foi para a escola. O celular ficou desligado durante quase todo o dia. A defesa vai concentrar esforços agora na ação que corre na Justiça Federal, em que pede indenização por danos morais à Caixa Econômica Federal (CEF) e à revista Época.
Em São Paulo, Palocci soube dos detalhes do julgamento numa reunião com o advogado José Roberto Batocchio. ;Ele recebeu a notícia com serenidade e se sentiu justiçado;, declarou o defensor, minimizando aspirações políticas, apesar das especulações que envolvem o nome de Palocci. ;Ele vai esperar um pouco;, completou.
O ex-presidente da Caixa não comentou o julgamento. Ele será o único a responder a uma ação penal, já que a denúncia contra o ex-assessor de imprensa de Palocci, Marcelo Netto, também foi arquivada. Mattoso poderá trocar o processo por prestação de serviços. Mas ainda não decidiu o que fazer. ;Ele só vai precisar se decidir quando os autos baixarem para a primeira instância, o que vai demorar uns três meses;, explicou o advogado Alberto Zacharias Toron.
Reações
As primeiras reações do PSDB ao julgamento deixam claro que Palocci se livrou de um problema jurídico, mas não político. ;Homens públicos resolvem essas questões nas urnas. É isso que vai acontecer;, avaliou o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). Guerra não abre todos os planos. Até porque o PSDB não sabe se o presidente Lula vai mesmo fazer do ex-ministro candidato a governador de São Paulo ou se está guardando o ex-homem-forte de Lula para concorrer à Presidência da República, como reserva da ministra Dilma Rousseff.
No encontro dos tucanos, ontem, no Rio de janeiro, houve até quem sugerisse filiar o caseiro ao PSDB de São Paulo para que ele fizesse contraponto a Palocci. Mas o partido tem dúvidas de que esse seria o caminho. A avaliação é de que Palocci ganhou importância maior do que a que tem de fato no quesito eleitoral. ;Ele não chega a dois dígitos;, disse o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP).
; Como fica cada um
Antonio Palocci
Continua próximo do presidente Lula mesmo depois de ter sido obrigado a deixar o Ministério da Fazenda. O escândalo envolvendo a quebra do sigilo bancário de Francenildo dos Santos Costa, que provocou sua queda, não impediu que conseguisse eleger-se deputado federal. Médico, ex-prefeito de Ribeirão Preto (SP), é considerado um ;coringa; no cenário político de 2010. É cotado para disputar o governo de São Paulo ; o que é visto com bons olhos pelo presidente Lula. O ex-ministro se livrou da acusação de ordenar a violação dos dados.
Jorge Mattoso
Ex-presidente da Caixa Econômica Federal (CEF), Jorge Mattoso foi convidado pelo prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho (PT), para ocupar a Secretaria de Finanças do município. Era visto como chefe educado e competente. Ficou no cargo quatro meses, alegando problemas pessoais. Atualmente, cuida de empresa de consultoria em São Paulo. O ex-presidente da Caixa será o único a responder a ação penal. Ele pode trocar o processo por prestação de serviços.
Francenildo dos Santos Costa
Com o arquivamento da denúncia contra Palocci no STF, voltou à rotina de vender produtos de limpeza de piscinas em mansões do Lago Sul. A defesa dele, representada pelo advogado Wlicio Nascimento, vai se concentrar em uma ação que corre na Justiça Federal. Nela, Francenildo pede indenização por danos morais à Caixa Econômica Federal e à revista Época.
; Veja a íntegra do voto do ministro Gilmar Mendes