postado em 30/08/2009 12:06
O ministro da Previdência, José Pimentel (PT), arregaçou as mangas eleitorais. Para se viabilizar candidato ao Senado em 2010, contrariando interesses do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele direcionou a agenda para o Ceará. São encontros oficiais, divulgações dos trabalhos da pasta, reuniões com políticos e até eventos de combate à violência contra a mulher. A prioridade é para cidades em que identifique potenciais eleitores. O objetivo é tratorar concorrentes e ser o ;senador de Lula;.Em agosto, o ministro ficou 11 dias úteis fora de Brasília. Desses, passou 8 na terra natal. Nos outros três, teve agenda em São Paulo, Rio de Janeiro e Piauí. Na Câmara, aliados e rivais dizem que Pimentel voltou às origens e cumpre agenda de parlamentar, ficando de terça a quinta-feira em seu gabinete.
O ministro levou até o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, para o Ceará. Eles assinaram na última terça, em Fortaleza, acordo para troca de informações entre o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) e o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). No começo do mês, participou de sessão na Assembleia Legislativa do Ceará sobre a Lei Maria da Penha e marcou presença nas comemorações dos 50 anos do Hospital Universitário da universidade federal do estado.
Chefe da Previdência Social desde junho do ano passado, o deputado federal licenciado usa como mote para as idas ao estado a divulgação de iniciativas da pasta. Entre elas, o programa Empreendedor Individual, voltado para empresários informais, e o Plano de Expansão da Rede de Atendimento do INSS, com implementação de novas agências de atendimento ao público.
O lançamento da pedra fundamental para a construção da primeira unidade ocorreu, coincidentemente ou não, no Ceará, na pequena cidade de Tauá, a 337km de Fortaleza. Com 54 mil habitantes, Tauá é um dos municípios onde Pimentel teve votação expressiva para a vaga na Câmara. Outra cidade que receberá nova agência é Amontada. Lá, o prefeito Edivaldo de Jesus é do PT. Pimentel teve, percentualmente, sua maior votação: 42,7% dos votos válidos.
O Ceará está sendo bastante prestigiado no programa das novas agências previdenciárias, que prevê 720 unidades em municípios com mais de 20 mil habitantes que não dispõem de atendimento do INSS. Pimentel planeja implementar 57 unidades do INSS no estado. Perde apenas para São Paulo, que terá 100, Bahia, com 95, além de Maranhão e Pernambuco, ambos com 59.
O ministrou esquivou-se de explicar os motivos de ter uma agenda voltada para o Ceará. Disse que está focado em melhorar a rede do INSS. ;Meu trabalho está direcionado para o processo de melhoria do atendimento, para a expansão da rede de agências do INSS e da cobertura da Previdência Social. Tenho viajado para estimular gestores e para divulgar o Empreendedor Individual, um programa de formalização inédito, inovador e importante. Portanto, o meu tempo está voltado para essas ações.;
Pimentel não quis falar sobre o desejo de sair candidato ao Senado. ;Quanto ao futuro político, somente tomarei posição em 2010, quando vierem as águas de março;, informou, por meio da assessoria de imprensa.
Planos conflitantes
O projeto individual de Pimentel esbarra nos planos(1) do presidente Lula para o estado. O PMDB reivindica que o deputado Eunício Oliveira seja o único candidato da coligação ao Senado. Oliveira aguarda desde 2006 a disputa. Na última eleição, abriu mão do posto em prol de Inácio Arruda (PCdoB-CE).
A chapa para o estado será decidida pelo governador Cid Gomes (PSB). Ele já está fechado com Oliveira. Falta escolher apenas o segundo nome na disputa. Um dos cotados é o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). A decisão deve se arrastar, mas Gomes já descarta Pimentel.
1- Jogo estratégico
O empenho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para retirar o ministro José Pimentel da disputa pelo Senado em 2010 deve-se ao peso do PMDB do Ceará na hora da decisão sobre se o partido fará coligação com o PT em torno da candidatura presidencial da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. O diretório estadual é o quarto maior do país: representa 52 votos na Convenção Nacional, prevista para março.