Ricardo Brito
postado em 26/09/2009 09:19
Para o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é ;o cara;. ;O político mais popular na Terra;, afirmou Obama, em abril passado. Na última quarta-feira, Lula fez um aclamado discurso na abertura da 63; Sessão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. Cobrou das Nações Unidas uma resposta para a crise financeira global e criticou os subsídios agrícolas e as barreiras comerciais impostas pelos países ricos. Ao longo da semana, o Brasil envolveu-se diretamente na crise institucional hondurenha ao dar abrigo ao presidente deposto, Manuel Zelaya, na embaixada brasileira na capital Tegucigalpa. O recente protagonismo brasileiro em questões de política externa, contudo, não deve ter influência decisiva na escolha do sucessor de Lula nas eleições de 2010.A avaliação é feita por estudiosos e diplomatas. ;Hoje, a política externa não tem peso nenhum no voto do eleitor. O Brasil tem enormes diferenças sociais a resolver e não está ocupada em discutir a fundo essas questões;, afirma o cientista político Octaciano Nogueira, da Universidade de Brasília (UnB). ;Os políticos (1)são pragmáticos e o fundamental para eles é discutir as questões internas;, disse o diplomata Roberto Abdenur, ex-embaixador nos Estados Unidos, segundo quem o debate sobre política externa entrará ;de maneira superficial; na campanha do próximo ano (leia mais sobre eleições na página 7). ;A minha impressão é de que o tema política externa nunca fez parte de uma agenda eleitoral;, sustenta ex-embaixador Marcílio Marques Moreira. ;É um fato negativo em nossa história política;, completa.
Mesmo não sendo um tema fundamental para a escolha do futuro mandatário, segundo os especialistas, a política externa fará parte das discussões eleitorais entre governo e oposição. O professor de relações internacionais da UnB José Flávio Sombra Saraiva aposta que a coalizão governista ;tenderá a exaltar as vitórias da política externa de Lula;. No cardápio, a elevação do status internacional do Brasil em organismos como a Organização Mundial do Comércio e o G-20, grupo de países emergentes. De outro modo, pondera Saraiva, os oposicionistas devem chamar atenção para o fato de que o ativismo político internacional e seu alinhamento com países como a Venezuela poderão trazer problemas no futuro. ;O Brasil teria meios limitados para agir em tantas frentes mantidas pela diplomacia de Amorim;, sustenta o professor da UnB, referindo-se à política conduzida pelo ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim.
Até o momento, porém, as manifestações dos pré-candidatos sobre assuntos que estão na ordem do dia de política externa são raras. Ontem, a ministra da Casa Civil, e preferida de Lula para sucedê-lo, Dilma Rousseff, afirmou que a volta de Manuel Zelaya ao poder em Honduras é ;inegociável;. O deputado Ciro Gomes (PSB-CE), outro pré-candidato, também defendeu em julho a volta do presidente deposto. Concorrentes da oposição, governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG) não se pronunciaram sobre o assunto ; a missão fica a cargo dos congressistas (leia mais ao lado).
Segundo estudiosos, a falta de importância da questão internacional no debate eleitoral também é motivada pelas sucessivas crises institucionais por que o país passou no século passado. Mas, ao menos na época do Império (1822-1899) e na transição para a República com o barão de Rio Branco, o debate tinha grande destaque dentro da opinião pública. Foi quando se impunha a discussão dos limites territoriais de estados do Norte. ;As questões deveriam ser mais debatidas;, afirma Roberto Abdenur, ressaltando que, cada vez mais, o tema ganha relevo internacional.
Amorim no Twitter
Lideranças governistas e de oposição têm travado, diariamente, uma discussão na internet sobre o apoio dado pela diplomacia brasileira ao presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, ao abrir a ele e a simpatizantes a embaixada. Em vez de usar a tribuna do Senado, o palco do debate é o Twitter, um microblog que se tornou febre entre os políticos por permitir que eles opinem sobre quaisquer assuntos sem a mediação da imprensa. O presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), fez ontem uma defesa enfática das ações do governo Lula na crise hondurenha. Escreveu: ;O governo do Brasil está atuando bem e atuou com o respaldo de toda, com letras maiúsculas, a comunidade internacional, disse a OEA;.
A oposição rebate o sucesso brasileiro. ;No que dá a amorinada (referindo-se ao ministro Celso Amorim, das Relações Exteriores): Zelaya cortou a comida dos brasileiros porque são amigos. Se fossem adversários, cortaria a garganta?;, criticou o senador Demostenes Torres (DEM-GO). ;Em Honduras, a impossibilidade da reeleição era cláusula pétrea da Constituição. Não podia ser mudada, como queria Zelaya;, afirmou o líder do DEM no Senado, Agripino Maia (RN), sobre um dos motivos que levaram à deposição do presidente hondurenho.
;Só a oposição conservadora insiste em continuar criticando o Brasil, apoiando envergonhadamente o governo golpista;, criticou o líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP), num pequeno texto publicado ontem no início da noite.