postado em 04/10/2009 09:24
A escolha do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas de 2016 coroa uma política agressiva do governo Lula em relação aos esportes. A União não só se mostrou disposta a aumentar as despesas do ministério como também em investir recursos em grandes eventos esportivos. Os jogos pan-americanos no Brasil, por exemplo, tinham um orçamento inicial, nos três níveis de governo, de R$ 409 milhões. Realizado em 2007, o evento custou aos cofres públicos, na verdade, R$ 3,9 bilhões e foi alvo de questionamentos do Tribunal de Contas da União (TCU).Logo no início do segundo mandato de Lula, o Ministério do Esporte recebeu um reforço em seu orçamento. Em 2007, o governo destinou à pasta R$ 1,36 bilhão ; valor simbólico perto do custo previsto para os jogos olímpicos na cidade maravilhosa, em 2016, na ordem de R$ 28,8 bilhões. Com o forte apoio do presidente, o recém-criado ministério, desde o início nas mãos do PCdoB, se consolidou e permitiu à legenda trocar a ideologia da foice pelo incentivo ao esporte. Após três anos à frente da pasta, o ministro Orlando Silva, ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), ganhou musculatura para se candidatar a uma vaga na Câmara dos Deputados. O próprio PCdoB sofreu um inchaço nos últimos anos ; de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral, a legenda aumentou em 31% o número de filiados nos últimos cinco anos.
Prefeito do Rio em 2007 e adversário do governo Lula, César Maia (DEM) agora elogia a gestão de Orlando Silva à frente do ministério. Em entrevista por e-mail, o democrata afirmou que o ministro tem a postura ;impecável; de ;socializar; as vitórias nos eventos e não querer capitalizar politicamente. ;Se fosse assim, não seria candidato a deputado em São Paulo, mas no Rio.; De fato, a comitiva que desembarcou em Copenhague para o anúncio da sede das Olimpíadas de 2016 era um exemplo da socialização dos dividendos: além de Orlando Silva, outros políticos de olho nas eleições de 2010 participaram da solenidade em Copenhague, como o ministro do Banco Central Henrique Meirelles (PMDB) e o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer (PMDB-SP).
Atento aos dividendos políticos, o Congresso também amplia recursos para o Ministério do Esporte. Somente no ano passado, deputados e senadores solicitaram R$ 2,5 bilhões em emendas para desporto e lazer ; um pouco mais do que o total do ano anterior, R$ 1,7 bilhão.
Lei geral
Apesar de altos investimentos, o Ministério do Esporte e o Congresso Nacional são alvo de críticas devido às escassas propostas de políticas estruturantes para a área e a ausência de uma lei geral do esporte. Especialistas ouvidos pelo Correio apontam carência de políticas de inclusão social e de fortalecimento dos clubes. ;Estamos ampliando o debate, mas ele não tem a relevância ideal;, reconhece o deputado Afonso Hamm (PP-RS), presidente da Comissão de Turismo e Desporto da Câmara dos Deputados. ;No Congresso o esporte é muito mais para festa do que trabalho. A atividade é muito mais naquilo que possa implicar simpatia do que desgaste político;, afirma o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), presidente da CPI do Futebol, instalada há nove anos.
Investigações
Em 2000, duas CPIs foram criadas para investigar o esporte mais popular no Brasil. Na Câmara, batizada de CBF/Nike, a comissão teve o objetivo principal de analisar o papel da parceira da confederação nas atividades da seleção brasileira. No Senado, a CPI do futebol investigou a cartolagem no país. Ao todo, 17 pessoas foram indiciadas ;; entre elas Wanderley Luxemburgo e o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, acusado de crimes como lavagem de dinheiro e sonegação fiscal.