postado em 13/10/2009 08:48
A destruição de plantações de laranja pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) na Fazenda Santo Henrique, no interior de São Paulo, acendeu a luz amarela nos gabinetes das autoridades federais. Setores da inteligência da Polícia Federal mapearam pelo menos quatro regiões em que conflitos envolvendo integrantes de movimento sociais podem acontecer a qualquer momento. Apesar de só atuar na proteção de áreas da União, a PF está tentando se antecipar aos problemas nos estados e repassa suas informações para as secretarias de Segurança Pública.
O monitoramento dos movimentos sociais não é uma atribuição da PF, mas da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Porém, coube à PF avisar autoridades de um estado - cujo nome não foi divulgado - sobre a possibilidade de um grupo ligado aos sem-terra tentar impedir a posse de um governador que entrava no lugar de outro cassado. Entretanto, episódios recentes de violência e vandalismo acenderam o sinal de alerta na Divisão de Assuntos Sociais e Políticos (Dasp) da corporação, que hoje tem como preocupações o sul do Pará, o interior do Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e o Pontal do Paranapanema. Nas quatro regiões mapeadas pelas autoridades foram identificadas atuações de outros grupos além do MST, alguns ainda não totalmente conhecidos da área de inteligência federal.
Foco de conflito por causa da terra há pelo menos um século, o Pontal do Paranapanema continua sendo alvo de atenção da Polícia Federal. "A região sempre foi um dos principais pontos de conflito e hoje a atuação dos movimentos sociais está se expandindo", afirma um delegado da PF, que atua no setor de inteligência. O Pontal é uma região formada por 21 municípios, sendo o principal deles Presidente Prudente (SP). "Mas a expansão dos grupos está chegando a Araçatuba, que já fica fora do Pontal", explica o delegado. Lá, além do MST, outras duas organizações dividem os trabalhadores rurais e têm como líder José Rainha Júnior, ex-lider do Movimento dos Sem-terra, que conseguiu formar acampamento com seis mil pessoas.
Gaúchos
Berço do MST, o Rio Grande do Sul é uma das regiões onde existe uma maior atenção das autoridades por causa de uma característica própria do movimento na região: a imprevisibilidade. As ocupações, muitas de surpresa, não se restringem ao campo, mas também à indústria. No estado, onde também nasceu José Pedro Stédile, principal liderança do MST, o Ministério Público chegou a entrar com uma ação para dissolver o movimento, que até hoje não tem personalidade jurídica, apesar de existir há 25 anos. O mais recente conflito que resultou em morte ocorreu no Rio Grande do Sul, onde o trabalhador Elton Brun da Silva foi baleado por um integrante da Brigada Militar durante uma reintegração de posse em São Gabriel, em agosto passado.
Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), os conflitos no campo diminuíram em torno de 43% no primeiro semestre de 2009, em relação ao mesmo período do ano passado. O Pará foi um estado onde isso aconteceu, mas continua sendo motivo de preocupação da Polícias Federal e Civil, que observaram infiltrações nos assentamentos. "Há sempre alguém, com interesses alheios aos do MST dentro dos movimentos", afirma a fonte da PF. "Já pegamos nove pessoas com armas pesadas dentro dos acampamentos, onde também entram assaltantes de ônibus", confirma o secretário de Segurança Pública do Pará, Geraldo José de Araújo, que também é delegado federal.
Segundo Araújo, o sul do Pará continua sendo a região mais preocupante do estado, apesar de o número de mortes ter diminuido nos últimos anos. "Estamos procurando equilibrar as coisas", afirma o secretário. O problema maior está em Xinguara, onde localiza-se a Fazenda Santa Bárbara, do banqueiro Daniel Dantas, controlador do Opportunity. Em abril passado, o MST e outras duas organizações de trabalhadores rurais ocuparam a propriedade e houve um confronto armado com os seguranças, obrigando uma intervenção imediata da polícia e da Justiça, que concedeu reintegração de posse. Hoje a situação está sob controle, mas permanece a tensão. "De vez em quando os sem-terra matam bois da fazenda, mas estamos acalmando a região", diz Araújo.
Outra situação complicada está ocorrendo em algumas regiões de Mato Grosso do Sul, onde a questão não fica centralizada entre conflitos latifundiários. "Temos dados preocupantes sobre outras práticas delituosas", afirma o delegado da área de assuntos sociais da PF. O problema, segundo ele, está se expandindo para áreas indígenas e de preservação ambiental, além da atuação dos sem-terra. Há várias ocorrências em que a Polícia Federal tem se envolvido diretamente por se tratar de terras da União, como a dos índios guarani-kaiowas e kadiweu, que há anos estão em confronto com fazendeiros próximos a Dourados. Tanto as autoridades federais quanto locais já intervieram várias vezes, mas isso não evitou a ocorrência de mortes dos dois lados.