postado em 01/11/2009 16:33
Todas as atenções estão voltadas para Ipojuca, Região Metropolitana do Recife, por abrigar os maiores investimentos recebidos por Pernambuco nos últimos anos, como a Refinaria Abreu e Lima e o Estaleiro Atlântico Sul, que fazem parte do Complexo Industrial de Suape.
[SAIBAMAIS]É também um dos principais destinos turísticos do estado, com praias como Porto de Galinhas e Serrambi, que atraem mais de 500 mil turistas anualmente. Esse momento positivo contrasta com a realidade vivida pelos moradores da cidade. O maior PIB (Produto Interno Bruto) per capita do estado ocupa o 44º lugar no ranking do Índice de Desenvolvimento (IDH) entre os 184 municípios pernambucanos. As praias paradisíacas convivem com palafitas encravadas nos mangues e os negócios milionários destoam da tradicional cultura da cana-de-açúcar.
São desigualdades que causam estranheza quando se trata de um município com 75 mil habitantes e um orçamento estimado em cerca de R$ 440 milhões para 2010 (será readequado devido à redistribuição do ICMS) - neste ano, o orçamento é R$ 340 milhões. Ipojuca enfrenta problemas de grandes centros urbanos, como a migração em busca de emprego, o crescimento desordenado, a falta de saneamento, a degradação ambiental. E a miséria.
Quem frequenta Porto de Galinhas nos fins de semana e feriados talvez não imagine as condições de vida dos trabalhadores do turismo e do comércio, responsáveis por 10% da arrecadação municipal e 90% dos empregos do município. Maria José da Silva, mulher de um vendedor de amendoim, divide uma palafita com o marido, os seis filhos e a neta no bairro de Salinas, em Porto. Tem água e luz, mas falta saneamento. "Todos nós dependemos de biscate, a vida é dura. Quando chove, ficamos na lama e não temos dinheiro para conseguir uma casa melhor", lamenta.
A miséria encontrada em Porto, vila ligada a Nossa Senhora do Ó, um dos três distritos do município, não é diferente em Camela ou na sede de Ipojuca. A desempregada Edinete Maria da Silva, 27anos, tem três filhos,morava em Nossa Senhora do Ó e mudou-se há oito meses para Camela. "Vivia numa invasão e soube que o prefeito iria dar casas para quem vivia em Camela. Também achei que poderia encontrar trabalho". Ainda espera. Tanto pela casa como pelo emprego.
"O que acontece é que o poder público não enfrenta os problemas do município. As áreas urbanas afundam na superconcentração populacional, não há controle urbano, fiscalização, e o transporte não foi regulamentado, para citar alguns dos problemas. É muito descaso do governo", critica Marcos Pereira, do movimento Xô Corrupção, de Ipojuca. Ele diz que o crescimento do município e a pobreza atraíram o tráfico de drogas. "Há comunidades já profundamente atingidas pelo crack e não há nenhum projeto para combater o crime e nem voltado para os jovens, maiores prejudicados pelo tráfico. Sem falar que houve um crescimento no número de homicídios".
Segundo informações da Secretaria estadual de Defesa Social (SDS), em Ipojuca foram registrados sete vítimas de crime violento letal e intencional em outubro e 41 desde o início do ano. O número é proporcionalmente maior aos casos registrados na capital pernambucana (683 vítimas de janeiro a outubro), que tem 1,5 milhão de habitantes.
A reportagem tentou entrar em contato com o prefeito Pedro Serafim (PDT), sem sucesso. Na quarta-feira, esteve na sede da prefeitura e na casa do prefeito. Foi recebida por duas secretárias, uma delas Dilma Lacerda, e foi informada de que Serafim não se encontrava no município e nem estaria no dia seguinte. Os telefonemas não obtiveram retorno.